segunda-feira, 1 de janeiro de 2024

O “Pantera Negra” deambulando por aí…

 

 

Texto e fotos: Luís de Matos

 

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Foto: O “Pantera Negra” deambulando por aí.

A verde, estão os países já percorridos a bordo do nosso Range Rover Classic, com três décadas e mais de 440.000 km de bons e fiéis serviços.

 

 

As tais viagens familiares…, de carro! Algo diferente e que, hoje em dia, já poucas famílias sabem apreciar. Às vezes torna-se difícil de explicar aos nossos amigos porque é que gostamos de viajar de determinada maneira (mais cansativa, até!), nomeadamente de automóvel…, um pouco à moda antiga. De facto, cada vez mais acho que só quem experimenta algo diferente do típico “avião + hotel, tudo preparado por outros”, consegue atingir aquele prazer de gozar as viagens por, pelo menos, três vezes… Quando as prepara, quando as realiza e de cada vez que as recorda! Aprende-se imenso (costumo chamar-lhes “visitas de estudo”) e a experiência é muito mais abrangente! E, de longe, mais económica!


Este blogue "Calamum sumere" começou mais como uma experiência de brincadeira... Há uns (muitos!) anos, com o pretexto de explicar à nossa filha o que era essa coisa dos "blogues", inspirei-me num ou noutro e, toca a escolher o mais simples (a "lei do menor esforço" de certo que foi escrita por um português!) e a desatar a debitar umas quantas linhas... Sobre o quê? Bem... Parecia que o que estava mesmo a dar, para além de ser perfeitamente inócuo de todos os pontos de vista, era escrever sobre viagens! Depois... Bem, depois bastava atulhar a coisa com umas quantas fotografias... et voilá! Enfim, uma espécie de “amontoado de fotografias, com umas linhas de prosa de permeio”… Para mais tarde recordar, como dizia aquele velho anúncio da Kodak! Ah! E também convinha arranjar um titulozito à maneira para o dito cujo blogue... “Calamum sumere”! Uma coisita que até fizesse apelo a alguma erudição de café e a um suposto douto autor... No final, até soava bem e, nunca se sabia quem é que no futuro iria passar os olhos pelos escritos... Hoje em dia, acaba por ser um pequeno “registo familiar” de algumas viagens e peripécias que temos vivido. Alguns dos textos já serviram de base a viagens similares de vários amigos, da mesma forma que os escritos de outros "viajantes" me inspiraram e ajudaram a planear algumas das viagens que fizemos, especialmente naquela "obscura arte" de encaixar tudo o que se pretende ver e fazer num reduzido número de dias de férias...!



 

Foto: No “Cabo Norte”, a 71º 10’ 21” de latitude Norte.

 

Alguns dos artigos publicados neste blogue “Calamum sumere” foram, também, transpostos para dois grandes livros de viagens:
    - “De carro, por aí fora… Do ‘Cabo da Roca’ ao ‘Cabo Norte’… e outras histórias”, editado em 2012
    - “De carro, por aí fora… Viagem, não ao ‘Centro da Terra’, mas à Terra do Gelo e do Fogo… e outras histórias”, editado em 2018

Para este ano de 2024, prevê-se a edição do terceiro livro, “De carro, por aí fora… Para lá da ‘cortina’… uma volta pela Europa Central e de Leste… e outras histórias”.

As histórias são sempre escritas numa perspectiva muito, mas mesmo muito, pessoal e familiar (incluindo nessa noção alargada de família, o tal “Pantera Negra”, já com três décadas e mais de quatrocentos e quarenta mil quilómetros de bons e fieis serviços!). “Pantera Negra” foi o nome com que a nossa filha baptizou o carro, numa época em que ainda se deliciava com as histórias do “Moggli, o filho da selva” e dos seus inseparáveis amigos, o urso Balú e a pantera negra Baghera… E “Pantera Negra” ficou, até hoje!

Dos quarenta e quatro países, em quatro continentes, que já visitamos (em trabalho e em lazer), a bordo do "Pantera Negra" já percorremos trinta e cinco países, em dois continentes. Portugal de lés-a-lés, claro está. Mas também Marrocos, Espanha, Andorra, Grã-Bretanha (incluindo as Highlands da Escócia, as ilhas Hébridas, a Irlanda do Norte e Gibraltar), França, Mónaco, Itália, Bélgica, Luxemburgo, Holanda, Alemanha, Dinamarca, Finlândia, Suécia, Noruega (onde fomos mesmo até ao Cabo Norte!), Liechtenstein, Islândia, Áustria, Suíça, Eslováquia, Hungria, Croácia, Bósnia Herzegovina, Eslovénia, República Checa, Polónia, Lituânia, Letónia, Estónia, Irlanda, Montenegro, Albânia, Grécia, São Marino... Algumas destas viagens, só em família e outras, também com amigos de longa data. Ao que consta, este será o Range Rover Classic português que mais países percorreu…

:-)



 

Foto: O “centro” e os “quatro cantos” da Europa continental.

 


Também, pelo menos até à data, apenas tenho colocado no blogue histórias de viagens que envolvem o dito carro (mais um pequeno “Conto de Natal”, ainda com o “Águas Belas”, um Land Rover 88 Series III que também tivemos)… 


Sem prejuízo do “avião + hotel” quando as circunstâncias a tal aconselham, gostamos de viajar no “Pantera Negra”, em família.


São viagens um pouco à moda antiga e num veículo que se pode considerar um clássico. Têm um charme especial, um envolvimento familiar diferente e permitem conhecer de uma forma mais abrangente as gentes e os locais. Para os mais novos, então, são uma “aula contínua” embebida em passeio e diversão.


Também nos “põem à prova”. Já tivemos uma tentativa de assalto / “sabe-se lá o que poderia ter acontecido!”, em pleno Parque Natural das Gargantas do Verdon. Já tivemos uma avaria séria a caminho do Cabo Norte e outra a caminho de São Petersburgo. Já tivemos, até, um acidente nas dunas do Erg Chebbi. Tudo se resolveu, em alguns casos, por nós próprios. Nos outros casos, com o auxílio de pessoas absolutamente extraordinárias! Ficaram experiências, histórias e amizades. A verdade, é que também “crescemos” como pessoas a bordo do “Pantera Negra”!


Os dias de férias anuais são um bem escasso e obrigam a um bom planeamento. Onde ir, o que ver, o que fazer, a que espectáculos assistir, os horários, os tempos de trajecto, as ligações de ferry-boat, as autorizações / condições de segurança e de acesso a determinados locais, onde ficar, o que levar, sem esquecer a manutenção do “Pantera Negra”. Aos dias de hoje, contudo, tudo se torna mais fácil. Guias, mapas, revistas, contactos, etc., são tudo coisas perfeitamente disponíveis. Depois, há o inestimável contributo dos amigos e conhecidos, que “já lá estiveram”, ou que conhecem “quem já lá esteve” e que nos dão aquele alerta e aquela sugestão…, que fazem toda a diferença!


 

Foto: No “Lago Izeli”, nas montanhas do Alto Atlas, em Marrocos.

 

 

Procuramos sempre um equilíbrio entre as etapas mais a "devorar quilómetros" e os dias de visitas mais locais e detalhadas. Onde viável e adequado, privilegiamos as vias secundárias e caminhos de enorme beleza. O “Pantera Negra” sente-se em casa nestes passeios! Seguro, espaçoso, confortável e multifacetado… Veloz quanto baste, quando a estrada a tal convida. Ágil naquele caminho que nos permite ir para lá do asfalto. Alto o suficiente para vermos melhor… Só não passamos despercebidos, claro! 


    - Quem são?... De onde vêm?... Que voltas vão dar?...


Do que mais gostamos… De tudo! Mas as pessoas, sempre as pessoas, têm sido o “toque de Midas” nas recordações e histórias que trazemos! E, como referido no início deste artigo, as viagens gozam-se por, pelo menos, três vezes… Quando se preparam, quando se concretizam e de cada vez que se recordam!


Resumindo e à laia de índice, os tópicos que já colocados neste blogue “Calamum sumere”, são os seguintes:

 

. Dos 'Lagos' ao Mar Jónico...



. Andaluzia – Pelas fronteiras Oeste do antigo Reino Nasrida de Granada...




. Irlanda – Uma incursão pela “Ilha Esmeralda”...


 

. Pelas brumas misteriosas da Bretanha e Normandia...




. Para lá da "cortina de ferro"... uma volta pela Europa Central e de Leste



 

. Islândia – Viagem, não ao “centro da terra”, mas à “terra do fogo e do gelo”…



 

. “Música no coração”, ou uma “valsa” pelos Alpes e arredores




. De “Cabo” a “Cabo”… Uma viagem familiar entre os extremos Oeste e Norte da Europa




. Roteiro Celta… Escócia e Hébridas, que também são Escócia




 . Abrantes > Vilamoura, via Gerês, Andorra, Barcelona, Alicante



 

. Côte D’Azur e “arredores”, incluindo as “Cinque Terre”…




 . Marrocos  – Emoção e paixão – Um passeio com o Clube LeiriVida TT



 

. Picos da Europa – Roteiro para uma incursão familiar



  

. Voltas pela Andaluzia… da Atlântida perdida ao deserto do Califado

 



. Um conto de Natal – O meu primeiro “atolanço




E pronto, assim se vão desenrolando estes contos da loucura normal. Uma “loucura” muito saudável, diria eu!

:-)

 

Boas viagens!

 

 

      Luís de Matos

      

 

 

domingo, 1 de outubro de 2023

Dos ‘Lagos’ ao Mar Jónico...

 

 

Texto: Luís de Matos

Fotos: Luís de Matos, Maria José Lopes e Ana Sofia Matos

 

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Foto: O trajecto.

 

 

Regressamos às viagens maiores a bordo do “Pantera Negra”!

 

Diga-se, em abono da verdade, que já tínhamos saudades. As últimas viagens desse género tinham sido, em 2018, à Irlanda e Irlanda do Norte, e, no ano seguinte, à Andaluzia. Depois… Bem, depois veio uma pandemia, seguida da invasão da Ucrânia pela Rússia…

 

Só no início de 2023, decidimos que Setembro desse ano seria ideal para retomarmos as ditas viagens. Até onde?... Até aos Balcãs.

 

A península balcânica e as suas convoluções culturais, políticas e sociais, sempre exerceu um enorme fascínio neste lado da Europa. Muito provavelmente, porque uma parte esteve durante um significativo período das nossas vidas do outro lado da "cortina de ferro"..., e a outra parte, dentro do movimento dos "não alinhados", era como se também estivesse. Em termos práticos, ao longo de grande parte do século XX, a península balcânica manteve-se quase inacessível ao vulgar cidadão ocidental.

 

Lembramo-nos de ter assistido nas televisões ao que foram as conturbadas décadas de oitenta e noventa do século passado por aquelas paragens... No liceu, também estudamos a "Guerra dos Balcãs" e a origem da "Grande Guerra"... Estudamos a presença do impérios Otomano e Romano... Lembramo-nos até de termos estudado os reinos antigos da Dácia, Moésia, Trácia e Macedónia... Bem, lembramo-nos apenas muito vagamente!

 

A ideia de uma viagem maior aos Balcãs assentou assim (et comme d’habitude), no desejo de conhecermos melhor o legado histórico, religioso e cultural destes, agora, países independentes. Qual "cereja no cimo do bolo", os parques naturais e as paisagens são de "cortar a respiração", plenas de montanhas, desfiladeiros, vales, rios e lagos, e com uma orla marítima recortada, a fazerem as delícias do olhar..., e da lente da máquina fotográfica!

 

Como a nossa filha tinha ido a Milão por esses dias, ainda pudemos desfrutar da sua companhia na zona do Lago de Como…, que até ficavam em caminho.

:-)

 

Num exercício de fazer esticar os dias de férias disponíveis, nesta viagem regressamos à Croácia (não sem antes se fazer uma travessia dos Alpes e uma visita aos Lagos Maggiore e de Como), para visitar a zona da antiga Ístria, o Parque Natural dos Lagos de Plitvice, e descer toda a costa da antiga Dalmácia até Dubrovnik... Continuou-se a “ziguezaguear” por ali abaixo, atravessando o Montenegro, a Albânia e entrando no Norte da Grécia, onde embarcamos para a viagem de regresso. E já apanhamos com indicações em cirílico e grego, claro… Os "restantes" países e regiões dos Balcãs, mantêm-se em agenda para uma (re)visita. Nestas coisas, não se conseguem nunca as desejadas optimizações.

 

Nas viagens de ida e regresso (até à dita península balcânica), noblesse oblige, tivemos um misto de zonas já conhecidas, e de zonas que tinham ficado sempre “para uma outra vez”, como a República de São Marino, o Estado-Nação mais antigo do mundo, fundado no ano 301.

 

Setembro é sempre um mês com uma dinâmica climatérica muito própria, para além de que faz frio nas montanhas e calor ao nível do mar… Viajamos, portanto, de Norte para Sul, o que se revelou uma excelente aposta.

 

As fronteiras envolvidas não costumavam ser complicadas. Mas, com as convoluções geo-político-estratégicas dos últimos tempos, eram uma incógnita. Sem falar que, passar do Montenegro para a Croácia…, tinha fama de ser caótico. Só que estávamos já fora da época alta do turismo e a viajar “no tal sentido” de Norte para Sul. Foi tudo pacífico, profissional e rápido. Ok! Confirmamos in loco que quem ia do Montenegro para a Croácia, ainda tinha de enfrentar uns quantos quilómetros de filas!

 

Foram quase dez mil quilómetros (dos quais, menos de mil em ferry-boat) de paisagens fantásticas e lugares admiráveis, numa sucessão ímpar de Patrimónios da Humanidade, pela UNESCO.

 

















 

Foto: O último dos, já “internacionalmente famosos”, road-books das nossas viagens.

 

 

 

 

 

 

 

 

Atravessar “meia Europa”, até aos ‘Lagos’ italianos

 

 

O primeiro dia é sempre para sair razoavelmente cedo de Abrantes, até porque, na passagem dos fusos horários, “perdemos” uma hora. Há que atravessar uma parte de Portugal, Espanha e ficar já em França. Trajectos já nossos conhecidos, e em que quase só paramos para almoçar e “esticar as pernas”.

 

Desta vez, aportamos um pouco acima da nossa habitual escala de Biarritz, a Capbreton, que ainda não conhecíamos. A ideia foi tentar aliviar ligeiramente o segundo dia, que, mesmo assim, teria idêntica quilometragem. E conhecer Capbreton!

 

O mergulho de final de tarde nas águas do Golfo da Biscaya começa a ser um “clássico” nestas nossas viagens! Soube pela vida!

 

Mais do que o porto, a marina e as praias, o longo cais de madeira é o ex-libris e, quase, lugar de peregrinação de turistas, pescadores, surfistas e moradores de Capbreton. 

 









 

















Fotos: Capbreton.


O dia seguinte foi mais uma daquelas “etapas de ligação” iniciais. Demandávamos Annecy, já nos Alpes, “do outro lado” de França. Escusado será dizer que uma visita ao interessante museu da Michelin, em Clermont-Ferrand, ficou para “uma próxima vez”, de novo...

 

Entretanto, numa das nossas paragens, vemo-nos, de repente, rodeados pelo que nos pareceu ser um destacamento do “Groupe d'Intervention de la Gendarmerie Nationale”. Veículos blindados, veículos “normais”, polícias com protecções balísticas e “armados até aos dentes”, etc. Fizeram também ali um “pit-stop” e partiram rapidamente… Seguimos atrás deles durante uns quilómetros (veículos civis não se intrometem em colunas de veículos militares e para-militares), até que sinalizaram que os podíamos ultrapassar e seguiram, bem depressa, para outra via.

 

França tem, de facto, um problema latente de segurança…, que se tem vindo a adensar nos últimos anos.

 

 

 

Foto: Algures, no meio de França.

 

 

Annecy, la bèlle! Annecy, la Venise des Alps!

 

Com os seus canais, a sua história, os seus monumentos e, claro, o Lago Annecy que, diz-se por lá, tem as águas mais limpas da Europa. A água do lago é potável e alimenta, directamente, a rede pública de Annecy. Com 18000 anos, é o segundo maior lago de origem glacial do país, logo a seguir ao Lago Bourget, ali bem próximo. Vários locais da zona estão classificados como Património da Humanidade, pela UNESCO.

 

De Aveiro a Bruges, de Amesterdão a Copenhaga, de São Petersburgo a Hamburgo, de Estocolmo a Annecy, …, etc., o que não falta são “Venezas” por esse mundo fora. É certo que são todas muito bonitas e têm os seus encantos. Mas…, Veneza é Veneza!

 

Dito isto, Annecy é uma cidade encantadora e cheia de charme, com a zona antiga muito bem conservada. As suas origens perdem-se no Neolítico e, desde cedo, ocupou uma posição estratégica nas vias de comunicação entre França, Suíça e Itália. Pela sua posição determinante durante a Reforma Católica, ficou também conhecida por “Roma dos Alpes”.

 

Em 2015 recebeu o galardão “Fleur d’Or” e continua no grupo das cidades mais floridas de França. Pelo que vimos em Setembro…, podemos imaginar o que será em Maio!

 

Reza também a lenda que, se dois apaixonados se beijarem na ponte Pont des Amours, sobre o canal de Vassé, ficarão juntos para sempre…

 

Entretanto, nada como, em viagem, comemorarmos os trinta e dois anos de uma outra grande viagem… O nosso casamento!

 












































































































 Fotos: Annecy, a “Veneza dos Alpes”.

 

 

 










  

 

 











 

Foto: Trinta e dois anos antes, em Lisboa.

 

 

Há uma década atrás andamos pelos Alpes, com amigos de longa data. Hoje íamos, de novo, atravessar a cadeia montanhosa com destino ao Lago Maggiore, já em Itália.

  

A ideia inicial era a de irmos almoçar à sempre encantadora Chamonix-Mont-Blanc e, quiçá, revermos devidamente a matéria sobre os produtos da “Brasserie du Mont Blanc”, que, após quase dois séculos de história, continua a preservar as tradições cervejeiras locais, a partir da água dos glaciares do Monte Branco. Nesse ano, em 2013, a sua cerveja “La Blanche” ganhou o prémio de Melhor Cerveja Branca do Mundo, do World Beer Awards. Prémio que revalidou…

 

Depois, seguiríamos pelo Túnel do Monte Branco para o Vale de Aosta e, daí, para o Lago Maggiore.

 

Só que as notícias e os plackards de informação referiam que o Túnel de Fréjus estava encerrado…, e que o Túnel do Monte Branco tinha duas horas de espera. Nestas coisas, quando eles falam em duas horas…

 

Assim, já próximo de Chamonix-Mont-Blanc, decidimos virar para Megève e seguir para a Route des Grandes Alpes. Em Séez, viramos para a Forêt du Loissel, rumo ao Col du Petit Saint-Bernard, e ao Vale de Aosta. Em Janeiro de 2024, a estância de ski de Megève será palco do “L’élégance à Megève”, um concurso de elegância para automóveis excepcionais! Mas…, ainda estávamos em Setembro de 2023…

 

Em parte, já nossa conhecida, a Route des Grandes Alpes continua uma das mais encantadoras estradas da zona. Desta vez, só a percorremos num pequeno troço. O Col du Petit Saint-Bernard, esse, pede sempre uma paragem.

 

Espero que passe rapidamente a moda de colocar autocolantes nas placas de sinalização de locais tidos como emblemáticos (e.g., a placa do Col du Petit Saint-Bernard). Os autocolantes sujam, estragam e tapam as ditas placas. Guardem os ditos autocolantes para outros sítios. Acreditem, ninguém quer saber se o “Grupo étnico-desportivo-cultural-copofónico-gastronómico- etc., de Alguidares de Baixo” ali esteve! Ninguém quer saber!

 

Impressionante o número de pessoas, algumas já com bastantes cabelos brancos, que desafiavam, de bicicleta, estas íngremes estradas de montanha! Ou não andássemos nas “Mecas” do Tour de France!

 




































 

Fotos: De novo, a cruzar os Alpes.

 

 

Várias horas, e muitas paisagens deslumbrantes (com áreas classificadas como Património da Humanidade) depois, chegamos ao Lago Maggiore, o maior de todos (estende-se até à Suíça), para mais paisagens deslumbrantes!

 

Apesar da antecedência com que realizamos as reservas, não tínhamos conseguido hotel em Stresa, a principal povoação do lago. É que se celebrava, por aqueles dias, a “The 4th historical revival of the Arona-Stresa-Arona car race”, cuja primeira edição tinha ocorrido em 1897.

 

Ao longo de todo o fim-de-semana, dezenas de “Donas Elviras” em estado de concurso (e alguns veículos não tão antigos) desfilavam e lançavam o seu charme pelas povoações e pela fantástica estrada panorâmica que ladeia a margem Oeste do Lago Maggiore, entre Arona e Stresa. Não, o “Pantera Negra” não participou nas provas, embora também lançasse o seu charme por onde quer que passasse, despertando a curiosidade dos locais e dos turistas…

 

Estabelecemos, assim, a nossa base para aqueles dias em Belgirate, uma simpática e acolhedora povoação a poucos minutos da mais movimentada Stresa, a jóia da margem esquerda do lago.

 






 

 

Fotos: Lago Maggiore - Belgirate.

 

 

Ernest Hemingway adorava o Lago Maggiore, a sua quietude e o seu ambiente mais natural, quando comparado com os outros lagos do Norte de Itália. As povoações em seu redor ainda mantêm um toque de glamour da belle époque e dos hotéis ao estilo art déco, muitos em que ainda pontificam os bons mármores e…, o ouro.


Podemos sempre alugar um Riva Aquarama, ou um Riva Tritone, para visitarmos o lago e as suas ilhas, com todo o glamour… Ou então, confiar nos excelentes serviços da companhia “Navigazione laghi Maggiore, di Garda e di Como”, que asseguram eficazmente as ligações a todas as ilhas e povoações. Impecáveis e pontuais!

 


































 

Fotos: Lago Maggiore - Stresa.

 

 

A maior atracção do Lago Maggiore é, sem dúvida, a Isola Bella e o seu Palácio Borromeo, que, com os seus jardins ao melhor estilo italiano, a ocupam por completo. Quatro séculos de investimentos, muito trabalho e bom gosto, transformaram um rochedo quase desabitado num palácio de referência para os eventos da nobreza europeia, a convite da influente família Borromeo.

 































  

Fotos: Lago Maggiore – Isola Bella.

 

 

Mesmo ao lado, a Isola dei Pescatori é a única que, actualmente, mantém habitantes permanentes. E, também, bons restaurantes. Convém é não chegar com fome…, pois o serviço é lento, muito lento. Mas a comida é deliciosa!

 

















  

Fotos: Lago Maggiore – Isola dei Pescatori.

 

 

Mais um curto trajecto de barco e visitamos a Isola Madre. O palácio, bonito, não se aproxima sequer do luxo do da vizinha Isola Bella, mas os seus jardins são fantásticos. Um outro “registo”, muito diferente do anterior.




 


















 

  

Fotos: Lago Maggiore – Isola Madre.

 

 

Uma subida aos 1491 metros do Monte Mottarone, reconhecida zona de desportos de Inverno e passagem de primeira categoria do Giro d’Itália, não podia faltar. A “névoa” vespertina, contudo, não permitiu apreciar devidamente as vistas sobre o Lago Maggiore.

 

Em 2021, uma cabine do teleférico que unia Stresa ao Mottarone despenhou-se, provocando a morte de catorze pessoas e ferimentos numa outra. “Foi ontem”, como diz o povo, e local impõe-nos um respeito adicional em memória das vítimas.

 



















 

Fotos: Lago Maggiore – Monte Mottarone.

 

 

Já a caminho do Lago de Como, ainda se fez um breve desvio para o Colosso de São Carlo Borromeo (“San Carlone”), em Arona. A estátua homenageia São Carlo Borromeo, Cardeal e Arcebispo de Milão, canonizado pelo Papa Paulo V em 1610.

 

Construída entre 1614 e 1698, com mais de trinta e cinco metros de altura, foi a maior estátua de cobre do mundo até à inauguração da Estátua da Liberdade, em 1886.

 

Do, em tempos imponente, Castelo de Arona, propriedade da família Borromeo e local de nascimento de São Carlo Borromeo, apenas restam ruínas. Os exércitos de Napoleão I arrasaram o castelo, que não voltou a ser reconstruído. Compreende-se que, por estas bandas, a simpatia que os italianos revelam pelos franceses, está ao nível da que nutrem pelos lacraus…

 





















 

 



 

Fotos: Lago Maggiore - Arona.

 

 

Gostamos, mesmo, do Lago Maggiore! Mas, sem dúvida, o Lago de Como é o mais espectacular e emblemático dos principais lagos da região, com águas cristalinas e rodeado pelas paisagens das montanhas e florestas próximas. É, também, o terceiro maior lago de Itália, depois dos lagos Maggiore e Garda.

  

A região do Lago de Como é um dos mais luxuosos destinos de Itália. Quem quer “notoriedade”, compra aqui uma “Villa”… Madonna, George Clooney, Brad Pitt e Gianni Versace, só para citar uns quantos, investiram em villӕ luxuosas no Lago de Como. Ah! Parece que o George Clooney tem a “Villa Oleandra”, em Laglio, à venda…

 

Começamos a visita deambulando pela principal cidade do lago, Como, onde convergem as margens sul e oeste. Ainda mantém algum cunho industrial, mas a, em termos próspera, indústria da seda, tem cedido o lugar ao turismo.

 

Sendo a nossa formação académica base muito ligada às “engenharias”, não podíamos deixar de prestar o devido tributo ao químico, físico e pioneiro da electricidade, Alessandro Giuseppe Antonio Anastasio Volta, o inventor da pilha eléctrica e descobridor do gás Metano. Provavelmente, o mais famoso “Filho da Terra”.

 

































 

Fotos: Lago de Como - Como.

 

 

Quando das suas diatribes europeias, Napoleão I e o seu séquito ocuparam os melhores “aposentos” que cada região possuía. No lago Maggiore, instalaram-se na Isola Bella, e a sua educação e limpeza não deixou saudades… Aqui, em Como, instalaram-se na recentemente construída, Villa Olmo.

 

Apenas visitável (no seu interior) quando existem exposições, a Villa Olmo é hoje um local de prestígio para conferências, eventos e exposições de arte. Definitivamente, um lugar a visitar em Como. Havia um evento, privado, a partir do meio da tarde… Mas ainda conseguimos uma visita ao seu interior.


 




























 

Fotos: Lago de Como – Como – Villa Olmo.

 

 

De barco e saindo da cidade de Como, a povoação de Cernobbio atinge-se em cerca de quinze minutos. Fomos por estrada, claro. Para além do pitoresco centro histórico, a zona ribeirinha e o cais lacustre são encantadores. Em Cernobbio situam-se, também, algumas villӕ mais famosas do Lago de Como, como a Villa Erba, a Villa Pizzo, a Villa Bernasconi e a Villa d’Este. Nesta última tem lugar o Fórum Ambrosetti, uma prestigiada conferência internacional.
























 

Fotos: Lago de Como - Cernobbio.

 

 

Estabelecemos a base para os próximos dias em Menaggio, um dos vértices do “triângulo dourado” do Lago de Como… Menaggio, Varenna e Bellagio. Encantadora, mas mais “operacional” do que as suas “vizinhas” da outra margem, Menaggio seria um excelente lugar para se viver.

 

Existe ligação por ferry-boat, com transporte de automóveis, entre estas povoações. Mas não se justificava, de todo, e assim, o “Pantera Negra” ficou em descanso. Os locais sugeriram-nos que, ao invés de começar por visitar Bellagio, fossemos primeiro a Varenna. Sábia sugestão!






























 

Fotos: Lago de Como - Menaggio.

 

 

Bellagio é a “pérola do Lago de Como” e uma das povoações mais belas, românticas e transbordantes de glamour, de toda a Lombardia. Stendhal e Franz Listz inspiraram-se nos seus jardins, villӕ e paisagens, e o “Hotel-casino Bellagio”, de Las Vegas, também aqui veio beber inspiração.



























 

Fotos: Lago de Como - Bellagio.

 

 

A verdade é que, contra todas as opiniões, gostamos ainda mais de Varenna do que de Bellagio… Sendo ambas fantásticas e encantadoras, Varenna pareceu-nos mais…, “naturalmente acolhedora”. Como dizia a nossa filha, nos jardins da Villa Cipressi, “que lugar encantador para celebrar um casamento”!











































 


 

  

Fotos: Lago de Como - Varenna.

 

 

Voltamos a não alugar, nem comprar, nenhum Riva Aquarama, nem nenhum Riva Tritone (continuando a confiar nos excelentes serviços da companhia “Navigazione laghi Maggiore, di Garda e di Como”). Digamos que os Riva Aquarama mais “acessíveis” que encontramos, estavam…, numa pequena montra em Menaggio.

:-)


O “Pantera Negra” já esteve em África… Mas foi numa África que, no que toca a bicharada “diferente” em liberdade, pouco passava dos macacos, dromedários e fenecos. Rumamos assim ao “Pombia Zoo Safari Park”, uma mistura de “Badoca Park”, com parque de diversões, maior e com a (grande!) diferença de que existe também um circuito, vigiado, em que se passa com o próprio veículo dentro das cercas dos animais. Portas e janelas fechadas, e ninguém sai dos carros, claro! Muito feito a pensar nas crianças, é certo, mas os adultos também se divertem..., e tiram fotografias a tudo o que mexe! Ainda por ali nos entretivemos uma boa parte da tarde… O tempo suficiente para quase “sermos comidos vivos” pelos mosquitos!

 











































 

  

Fotos: Pombia - Zoo Safari Park.

 

 

A ideia inicial, de darmos uma volta por Milão e assistir a um espectáculo no Teatro alla Scala (estava em cena “Il barbiere di Siviglia”, de Gioachino Rossini), ficou para outra altura. Os radicalismos “ambientalistas” assim o ditaram.

 

O "Pantera Negra", pela sua idade, já não pode entrar nas principais zonas de Milão. Mesmo sendo um veículo de matrícula estrangeira, e apenas em trânsito. Teríamos, portanto, que o estacionar algures fora dessas zonas de restrições ambientais… Bastante longe do centro da cidade, o que seria um desperdício de tempo e dinheiro. A área metropolitana de Milão é enorme. Cobre uma área territorial equivalente à de Paris, com uma população de mais de sete milhões de habitantes.

 

Assim, qualquer dia, iremos de propósito a Milão… Viajaremos no nosso veículo até Lisboa, onde embarcaremos num avião para o aeroporto de Milão (Malpensa). Aí, porque o aeroporto fica bastante distante da cidade (40 km), apanharemos um autocarro ou um Táxi para o centro de Milão… No regresso a casa, faremos o mesmo, só que por ordem inversa… Táxi ou autocarro para o aeroporto de Milão, avião de Milão para Lisboa e o nosso veículo, de Lisboa para Abrantes. E pronto, assim já seremos “ambientalmente correctos”, pois não entramos com um veículo antigo em Milão…, e estará tudo bem!

 

Rumamos, pois, à cidade de Brescia, cujo centro histórico ilustra um passado agitado e complexo, que remonta há 3000 anos atrás. A área do Fórum Romano e o complexo monástico de São Salvador / Santa Júlia fazem parte do grupo de edifícios históricos "Lombardos na Itália - Locais do poder” (entre os séculos VI e VIII), que são Património da Humanidade, pela UNESCO. Brescia deve ser a única cidade com duas catedrais consagradas, mesmo lado a lado (o Duomo Vecchio, do século XI, e o Duomo Nuovo, do século XVII). Tudo bem próximo das ruínas romanas, do século I.
















































 

Fotos: Brescia.

 

 

Se muitos outros motivos não houvessem para um futuro regresso a Brescia…, o seu passado automobilístico e uma visita ao Museo Mille Miglia seriam suficientes!

 

A Mille Miglia foi uma prova automobilística de longa distância, disputada nas estradas de Itália durante 24 edições, de 1927 a 1957. O percurso, de cerca de mil milhas, tinha o formato de um "8" ligando Brescia a Roma, ida e volta. Em 1957, a Ferrari colocou três automóveis nos três primeiros lugares. Uma vitória que todos esqueceram, de imediato. Um marcador metálico na estrada de Guidizzolo rebentou um pneu dianteiro do Ferrari 335 Sport Scagliettei, de Alfonso de Portago, provocando a perda de controlo do veículo. Do acidente resultou a morte do piloto, do co-piloto e de mais nove espectadores, dos quais cinco crianças. Nesse mesmo ano, o governo italiano proibiu todas as competições automobilísticas em estrada aberta.

 

Esta prova mítica renasceu, entretanto, num figurino completamente diferente, como uma prova de regularidade para automóveis clássicos.

 

Brescia desempenhou, também, um importante papel na continuidade da marca Bugatti durante os conturbados anos da Grande Guerra. Pouco tempo depois, no Brescia Grand Prix de 1921, quatro imbatíveis Bugatti Type 13 “Brescia” ocuparam os quatro primeiros lugares. À laia de tributo, a nossa “colecção automóvel” de Abrantes, tem dois destes importantes modelos… O Bugatti Type 13 “Brescia”, com o número 3 (“Brescia – Grand Bretagne”), e o Bugatti Type 13 “Brescia”, com o número 7 (“Brescia – France”). Ambos na escala 1:43, claro…

 


 

 

 


















 

Fotos: Brescia – Bugatti Type 13 “Brescia”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

E agora…, os Balcãs propriamente ditos…

 

 

Acabou-se, por ora, o "glamour" italiano… Viagem de ligação a Pula, com duas fronteiras de permeio. Um trajecto, em grande parte, já nosso conhecido.

 

A Ístria é apelidada de "Toscânia da Croácia" e toda a zona é, também, rica em termos de história (especialmente no que respeita à presença do império romano).

 

Seguimos calmamente, pelas estradas costeiras, a desfrutar das paisagens e do Mar Adriático, mesmo ali ao lado. Nos lagos alpinos, achamos por bem abdicar dos mergulhos… Mas foi só aí! Por estas bandas, a temperatura da água estava mais apetecível. As praias são quase todas rochosas, ou com aquela areia grossa e irregular, a pedir umas boas “alpergatas”. Mas as águas são bastante transparentes, e as nossas máscaras de mergulho, com os respectivos tubos de snorkel, já têm lugar cativo na bagageira do “Pantera Negra”!

 

O mês de Setembro já ia adiantado mas, ainda assim, a antiga cidade romana de Poreč e a região circundante continuavam a aproveitar plenamente o Verão. Numa envolvente de arquitectura mediterrânica, os edifícios romanos e bizantinos coexistem admiravelmente com as traças góticas e barrocas de outras construções. Noblesse oblige, o complexo bizantino da Basílica de Eufrásio, do século VI, é Património da Humanidade, pela UNESCO. É um dos mais importantes monumentos da Croácia e o mais bem preservado complexo de arquitectura paleocristã do mundo.






























  

Fotos: Poreč.

 

 

Com todo o “il dolce far niente” que nos tem acometido, só ao “lusco-fusco” chegamos a Rovinj, uma das mais belas povoações da costa da Ístria. E lá se foram as fotografias decentes…

 

Rovinj era uma ilha e só em 1763 o pequeno canal que a separava de “terra firme” foi preenchido.

 

Devido à falta de espaço, as casas estreitas de pedra foram construídas, umas ao lado das outras, formando ruas estreitas e pequenas pracetas. Dizem que é o lugar mais romântico do Mediterrâneo… Só mesmo uma fotografia aérea consegue fazer a devida justiça ao encanto paisagístico de Rovinj!

 

Acabamos por desfrutar de Rovinj já pela noite fora.

 
















 

  

Fotos: Rovinj (a última fotografia foi retirada da INTERNET, da página https://www.iStockPhoto.com/).

 

  

Provavelmente, a melhor base para se visitar a Península da Ístria, será a milenar cidade de Pula, centro administrativo da Ístria desde os tempos dos romanos, quando era conhecida por “Pequena Roma”. Aos dias de hoje, é quase um museu a céu aberto, onde pontificam o Anfiteatro, os Portões Gémeos, o Arco dos Sergi, o Templo de Augustus, o Fórum, o Castelo (da época em que pertencia à Sereníssima República de Veneza) e os túneis.

 

Entre todo este impressionante conjunto de vestígios arqueológicos, o Anfiteatro de Pula (contemporâneo do Coliseu de Roma), mandado construir pelo imperador Vespasiano no século I, é o ex-libris e símbolo da cidade. O seu estado de conservação é admirável e continua a ser palco de importantes espectáculos.























 

 

  

Fotos: Pula.

 

 

Deixamos a Ístria, via Parque Natural de Ucka e rumamos a Sudeste, até ao Parque Natural dos Lagos de Plitvice, um autêntico paraíso, que é, também, Património da Humanidade, pela UNESCO.

 

Provavelmente, a zona mais visitada de toda a Croácia, o parque estende-se por 20000 hectares de bosques e de lagos, no coração dos Balcãs. Os dezasseis lagos do parque, essencialmente ligados por cascatas, estão divididos em dois grupos… Os Lagos Superiores (com 12 lagos), e os Lagos Inferiores (com 4 lagos). São todos visitáveis, via discretos passadiços perfeitamente integrados na paisagem, trilhos com diferentes graus de dificuldade e ligações com barcaças eléctricas e um género de pequenos autocarros. Muitas horas de puro deleite! Nem se dá pelo cansaço…

 

O símbolo do parque é o urso pardo. Só que o dito prefere as áreas mais densas e isoladas da floresta e, ao que nos disseram, dificilmente se aproxima dos visitantes. Não vimos nenhum… Mas também não nos cruzamos com nenhuns dos outros representantes emblemáticos da fauna local. Nem lobos, nem corços, nem veados vermelhos, nem linces, nem lontras... Estavam todos bem escondidos!

 

A hotelaria na zona não abunda. Ainda assim, conseguimos reservar a estadia num pequeno e muito acolhedor hotel, de apenas dezasseis quartos…, cada um com o nome de um dos lagos do parque.

 













































 Fotos: Parque Natural dos Lagos de Plitvice.

 

 

De per se, o Parque Natural dos Lagos de Plitvice vale uma viagem à Croácia!

 

Entretanto, era dia de cruzarmos os Parques Naturais de Velebit e de Paklenica, e de regressarmos aos trajectos mais costeiros, junto ao Mar Adriático.

 

Começamos por Zadar e pelas suas mais conhecidas atracções, o Órgão do Mar e a Saudação do Sol.

 

O Órgão do Mar é, no fundo, um instrumento musical com trinta e cinco tubos, diferentes, submersos. O movimento das ondas pressiona o ar nos ditos tubos e gera os sons… A Saudação ao Sol, nada mais é do que uma placa solar, com células fotovoltaicas, baterias e controladores que, quando cai a noite, produzem diversos efeitos luminosos.

 

São de facto, interessantes e algo que, quem sabe, poderia ser replicado com sucesso, mutatis mutandis, noutros locais com orla marítima…

 

Zadar é a cidade mais antiga da Croácia, remontando as suas origens ao século IX A.C. O seu centro histórico, cercado por muralhas, está bastante bem conservado e ilustra as influências arquitectónicas dos povos e regimes que por ali passaram… Império Romano, Império Bizantino, Sereníssima República de Veneza, Império Otomano, Império Austro-Húngaro e, mais recentemente, a Itália e a antiga Jugoslávia…






























 

Fotos: Zadar.

 

 

Descemos a costa até Split, cujo centro histórico e o que resta do Palácio de Diocleciano fazem, também, parte da lista do Património da Humanidade, pela UNESCO.

 

Mandado construir pelo Imperador Diocleciano, entre o final do século III e o início do século IV, o Palácio de Diocleciano (ou o que dele resta!) mantém-se como um dos mais bem preservados complexos do período entre a Antiguidade Clássica e a Idade Média. A pintura de Ernest Hébrard, de 1912, dá-nos a ideia do que teria sido a aparência original do palácio. Impressionante! Mantenho, há muitos anos, a opinião de que o colapso do Império Romano levou-nos a uma estagnação civilizacional de, pelo menos, um milénio…

 

Os “suspeitos do costume” instalaram-se em Split ao longo dos milénios, deixando as suas marcas e desenvolvendo a cidade até se tornar um género de “capital cultural” da costa ocidental do Mar Adriático. Mantém essa “boa onda” nos dias de hoje!

 

Quando do planeamento e preparação desta viagem, equacionamos a possibilidade de “fazer um desvio” até às ilhas próximas, nomeadamente a Hvar, onde a sua Stari Grad também é Património da Humanidade, pela UNESCO. Mas a “ditadura do calendário” e dos dias de férias disponíveis…, ditou outras regras.

 











































 

Fotos: Split.

 

 

Continuamos a descer a costa, com paisagens magníficas “umas atrás das outras”, e acabamos por “lançar ferro” em Omiš, antiga base dos Corsários de Almissa, os mais temidos de todo o Mar Mediterrâneo, que, nos seus dias de glória, punham o tráfego comercial do Adriático a "ferro e fogo".

 

O “Pantera Negra” desfrutou aqui, da melhor garagem de hotel de toda a viagem, com climatização e tudo! E nós, quais “miúdos grandes”, até de noite (e já na segunda quinzena de Setembro) demos uns belos mergulhos no Mar Adriático!

 

A “Omiš Riviera” está considerada uma das mais bonitas de toda a costa croata, com as suas praias de águas cristalinas, de cor azul turquesa.

 

Procuramos subir à Fortaleza, de onde se adivinhavam vistas fantásticas sobre toda a costa de Omiš… Só que, a meio do caminho, avistamos a pequena Igreja de Santo Estevão, mais acima, na pequena aldeia de Borak… Foi mais um daqueles trajectos íngremes, de “ir e voltar para trás”, que valeu cada minuto pelas vistas soberbas!





















 

 

Fotos: Omiš.

 

 

Rumando a Sul, para se atingir Dubrovnik, por estrada, tem de se entrar na Bósnia-Herzegovina, e sair, poucos quilómetros mais à frente, para reentrar na Croácia.

 

Existe, contudo, um acordo entre a Croácia e a Bósnia-Herzegovina para que se possa atravessar a zona de Neun, que dá acesso ao Mar Adriático, como se fosse apenas “trânsito local” e não trânsito entre duas fronteiras de dois países. Isto, claro, se não se sair das estrada principal… Quem não quiser mesmo entrar na Bósnia-Herzegovina, pode sempre sair para a povoação de Ploče, apanhar um ferry-boat para Trpanj e, daí, percorrer toda a península de Pelješac, até Dubrovnik.



















 

Fotos: Quase a chegar a Dubrovnik....

 

 

Fundada no século I, a “Pérola do Adriático“ integra, também, a lista de Património da Humanidade, pela UNESCO. Na Idade Média, Dubrovnik, foi a única Cidade-Estado do Leste do Mar Adriático a conseguir rivalizar com a todo-poderosa Veneza. Atingiu o seu apogeu, e uma notável autonomia e poder (em termos marítimos e comerciais), no século XIV, altura em que se passou a chamar de República de Ragusa.

 

Permaneceu independente até 1808, quando Napoleão conquistou a Dalmácia.

 

Os bombardeamentos de 1991, por parte das forças da Sérvia e Montenegro, fizeram temer o pior. Mas a cidade recuperou rapidamente o seu encanto, mantendo-se como uma das cidades “medievais” mais bem conservadas do mundo e com um pano de muralhas praticamente intacto.

 

As muralhas da cidade velha são, em certa medida, o símbolo de Dubrovnik. Construídas do século XIII ao século XVI, são consideradas um dos mais belos sistemas de fortificações do mundo. Noblesse oblige, percorremos todo o coroamento desta cintura de muralhas.

 

Dizem que a cidade velha de Dubrovnik encanta sempre o visitante, mesmo que este a visite por cem vezes! Ainda estamos muito, mas mesmo muito, longe desse número… Mas Dubrovnik encantou-nos deveras!

   
































































 

Fotos: Dubrovnik.

 

 

Continuamos para Sul, com destino a Kotor, no Montenegro. Entravamos, também, no mundo do alfabeto Cirílico… Felizmente, na generalidade dos sítios, as informações estavam duplicadas, no alfabeto Latino.

 

As fronteiras, fora do espaço Schengen, são sempre uma incógnita. Mesmo as que funcionam bem, podem, de um momento para o outro, complicar-se. Tivemos sorte e tudo funcionou normalmente e com rapidez. Viajávamos fora da época alta, e no sentido de Norte para Sul. Sabíamos que, mesmo assim, no sentido inverso (do Montenegro para a Croácia) se formavam quilómetros e quilómetros de filas. E elas lá estavam! Nem queríamos imaginar o caos que seria um final de tarde, no pico do Verão, com o pessoal a querer regressar a Dubrovnik, depois de uma visita a Kotor…

 

A Baía de Kotor é, frequentemente, chamada de fiorde mais meridional da Europa. Mas não é bem assim, pois não foi esculpida por glaciares. Esta impressionante baía, foi criada quando o aumento do nível do mar submergiu um antigo vale fluvial, formando uma ria.

 

Tal como com Dubrovnik, também nos deixamos encantar com Kotor, a “Pérola do Montenegro”, e com a sua localização ímpar, entre as montanhas e a baía. A cidade, pequena e cercada por muralhas medievais, faz parte da lista de Património da Humanidade, pela Unesco.

 

À boa maneira medieval, naquele pequeno labirinto de museus, igrejas e pracetas, as ruas não têm nome e o endereço de todos os edifícios é composto apenas pela expressão "Stari Grad" (Cidade Velha), seguida de um número.

 
















































 

 

Fotos: Baía de Kotor e, Kotor.

 

 

Abdicamos da longa “experiência de caminhada” para subir à Fortaleza de San Giovanni, que tem umas excelentes vistas para a baía e para a cidade de Kotor, já que pretendíamos continuar a descer a Riviera Montenegrina, até Budva, a “Miami de Montenegro”.

 

Na época alta, e antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, Budva enchia-se de turistas russos e ucranianos, enquanto a marina dava abrigo a um número impressionante de grandes iates… Mesmo assim, já no final de Setembro e com tudo o que se tem passado no mundo, o movimento era intenso.

 

Com a requalificação da frente marítima, com festas e feiras, e com estradas e ruas cortadas ao trânsito, chegar ao nosso hotel não foi “pêra doce”…, ainda que, pelo menos um indivíduo nos tenha tentado dar indicações no seu melhor “montenegrino + gestual”. Acabamos por pedir, também, indicações à polícia e perceber que “после петог кружног тока скрените лево”, significava “depois da quinta rotunda, vira à esquerda”! As indicações do senhor estavam correctíssimas e até tínhamos lá chegado… Só que havia ali uma feira, os carrosséis cortavam os acessos todos e…, tínhamos de ir dar outra grande volta “atrás do Sol posto”!

 

Era já noite quando deambulamos calmamente pela cidade antiga de Budva, acolhedora e bem preservada.

 

Considerada uma das mais antigas cidades da região, Budva foi dominada por vários impérios, reinos e repúblicas (os tais “suspeitos do costume”, aqui da zona) e ostenta marcas arquitectónicas desses períodos. A cidade velha foi quase completamente reconstruída após o grande terramoto de 1979.

 

No planeamento e preparação desta viagem, achei que seria giro ficarmos na “ilha” de Sveti Stefan. A dita ilha (que está ligada ao continente por um pequeno istmo) é toda murada, desde o século XV, e os acessos ao istmo de ligação são privados e controlados. Actualmente, é propriedade do Hotel Ãman Sveti Stefan. Digamos que não considerei a relação “qualidade / preço” muito apelativa…, e deixei o hotel para os “árabes”…





























 

 

Fotos: Budva.

 

 

Continuamos a descer a costa, por estradas “lentas”, e entramos na Albânia, onde as estradas “ainda são mais lentas”. As fronteiras, sempre uma incógnita nestas coisas, funcionaram sem problemas. Entretanto, saímos do Sistema Monetário Europeu e entramos nos domínios do “LEK” albanês, que vale cerca de cem vezes menos do que o EURO. Os preços ainda são razoavelmente em conta por estas bandas, mas, pelo que percebemos, também já não são o que eram…

 

A Albânia permaneceu isolada do mundo durante décadas, vivendo sob o peso de sucessivos regimes comunistas. Desde o final da Segunda Guerra Mundial, até 1961, sob a esfera da União Soviética… De 1961 até 1992, sob a esfera da China… Escusado será dizer que poucos visitantes estrangeiros tiveram permissão de visitar o país naquele período. Continua a ser um dos países mais pobres da Europa.

 

Começa, agora, a libertar-se e a revelar aos viajantes autênticos tesouros arquitectónicos dos períodos bizantino e otomano, paisagens fantásticas e as águas cristalinas do Mar Adriático e do Mar Jónico, que banham a sua extensa e recortada linha costeira.

 

A quase omnipresente mistura de igrejas bizantinas e mesquitas mostra uma longa e inspiradora convivência pacífica entre religiões.

 

Há meio século, na casa dos meus pais, li um excelente artigo sobre Berat, provavelmente numa revista das Seleções do Reader's Digest... Cinquenta anos depois, "bora lá" visitar Berat!

 

É uma das cidades mais antigas do país e, à época, uma das mais importantes cidades albanesas do Império Otomano, essencialmente habitada por mercadores e artesãos. Fica no meio da Albânia e está na lista das cidades mais antigas e permanentemente habitadas que existem no mundo. Berat, é conhecida como a "Cidade das Mil Janelas", perfeitamente alinhadas no casario das zonas mais antigas, onde as influências dos estilos, otomano e albanês, se cruzam. As ditas “Mil Janelas”, todas viradas para o Rio Osumit, procuram captar o máximo da luz solar ao longo do dia.  

 

O centro histórico de Berat é, também, Património da Humanidade, pela UNESCO.

 


























 

 

  

Fotos: Berat.

 

 

Percebemos rapidamente que qualquer trajecto na Albânia, por pequeno que seja, pode levar muito, mas mesmo muito tempo… Tivemos, assim, de deixar cair a sugestão do nosso amigo Sílvio Carvalho para uma ida ao cume do Monte Tomorr, dentro do Parque Natural do Monte Tomorr, onde se encontra o monumento ao Abbas ibn Ali. É o ponto da Albânia a maior altitude (~2340 m) que um veículo “4x4” (noblesse oblige!) consegue atingir. A partir de Berat, seriam mais umas quantas dezenas de quilómetros (teríamos de contornar o Parque Natural, pois o acesso inicia-se a Este, na povoação de Ujanik), nas tais estradas “muito lentas”…

 

Ficamos, portanto, com mais um pretexto para um dia regressarmos à Albânia…, e rumámos à “Riviera Albanesa”, com destino final em Vlora. É aqui que se juntam o Mar Adriático (a Norte) e o Mar Jónico (a Sul).

 

A “Riviera Albanesa”, que se estende desde Vlora para Sul, até Saranda, revelou-se ao mundo há não muitos anos. O sucesso foi imediato, ou não se tratasse do “último” troço de mar europeu com uma costa recortada e magnífica, com aldeias encantadoras e incontáveis praias desconhecidas, vazias e imaculadas. A consequente exploração turística desenfreada e desordenada, tem causado danos difíceis de reparar. Já vimos este filme…

 

Dito isto, toda a zona continua a ter uma linha de costa encantadora com uma sucessão de paisagens e praias magníficas. O governo albanês está a tentar “por ordem” no turismo desenfreado.

 

Vlora é a terceira maior cidade da Albânia e desempenhou um papel fundamental na sua independência, como centro estratégico para os fundadores do país, que aqui, na Assembleia de Vlora, assinaram a Declaração de Independência, face ao Império Otomano, em 28 de Novembro de 1912. Vlora tornou-se, então, a primeira capital da Albânia.

 

























 

 


 

  

Fotos: Vlora.

 

 

Como existiam algumas dúvidas sobre a morosidade das fronteiras com a Grécia, procuramos “jogar pelo seguro” e não fazer grandes desvios.

 

O Llogara National Park estende-se por uma área bastante extensa e diversificada, ao longo da “Riviera Albanesa”. No Inverno, neva nos picos mais altos, e no Verão, as praias do Mar Jónico enchem-se de pessoas. Estávamos no final de Setembro e…, nem uma coisa nem outra. Apenas paisagens a pedir um regresso… Especialmente na zona do Llogara Pass, que atravessa as montanhas nos 1043 metros de altitude, e é considerada uma das rotas costeiras e de montanha mais bonitas do mundo. Esta estrada figura, também, na lista das “Dangerous roads of the World”. Sinuosa, estreita, com falta de barreiras de protecção e com declives de 11%, exige redobrada atenção, especialmente com piso escorregadio.

 

Ao contrário de outras zonas (mais interiores) do país, aqui não encontramos gado à solta no meio da estrada. Mas havia albaneses ao volante!

 

Tentando ser simpático, diria que o estilo de condução da Albânia, tem “espaço para melhorar”… Mesmo muito espaço para melhorar! O Montenegro e a Croácia, também exigiram redobrada atenção, mas aqui as coisas eram piores. Passámos por vários acidentes, dos quais, pelo menos um bastante grave. E quase todos facilmente explicáveis pela forma como as pessoas aqui conduzem… Ou muito devagar, ou muito depressa, independentemente das condições. Parando, ou virando, ou mudando de faixa, em qualquer local, em qualquer momento e de qualquer maneira… Entrando nos cruzamentos de qualquer maneira… Etc, etc. Se juntarmos a tudo isto, um elevado número de automóveis de elevadas prestações, importados, já com muitos anos e aspecto bastante degradado (porque, provavelmente, os actuais proprietários nunca lhes asseguraram as manutenções devidas)…, temos as condições perfeitas para cenários de acidente. E eles, os acidentes, repetiam-se um pouco por todo o lado.



















 

  

Fotos: Llogara National Park.

 

 

Tempo ainda para uma breve paragem na baía de Porto Palermo e uma visita ao seu pequeno castelo. Há uma década atrás, o Huffington Post classificou Porto Palermo como sendo o primeiro de uma lista de quinze destinos europeus ainda por descobrir. Do terraço do castelo temos excelentes vistas para as montanhas e para a costa do Mar Jónico.

 

Aos dias de hoje, toda a zona é “área protegida”, mas, devido à sua posição estratégica, toda a baía de Porto Palermo desempenhou importantes papéis defensivos desde a antiguidade até a Segunda Guerra Mundial. Depois disso, o forte serviu ainda como aquartelamento de apoio a uma antiga base de submarinos da União Soviética.

 

Estacionamos, literalmente, na praia (“em Roma, sê romano”), no que fomos seguidos por outros três veículos “4x4”. Ficamos na boa companhia de mais três casais jovens, que também andavam a desfrutar deste fantástico país nos seus próprios veículos. Com uma pequena diferença… Andavam em modo “overland”, com tendas de tejadilho…

 

O nosso amigo Camilo Oliveira que me perdoe, mas aquela coisa de “andar com a casa às costas”, é que…, ainda não chegamos lá… Nem nos parece que lá cheguemos. É que, no final do dia, um hotelzinho confortável (se possível com uma piscina) sabe mesmo pela vida! Então, se a piscina estiver virada para onde os mares Adriático e Jónico se juntam…

 


















 

 

  

Fotos: Porto Palermo (a primeira fotografia foi retirada da INTERNET, da página https://www.iStockPhoto.com/).

 

 

Os nossos receios de demoras nas fronteiras com a Grécia, felizmente, não se confirmaram. Aliás, em todas as fronteiras que atravessamos nesta viagem, o profissionalismo e a rapidez foram marcantes. Ok, levaram sempre o seu tempo e, por exemplo, antes da entrada para o ferry-boat da Grécia para a Itália, pediram-me para abrir a bagageira. Mas tudo rápido e profissional.

 

Entramos assim no Norte da Grécia com bastante tempo para deambular por Igoumenitsa e arredores.

 

Sendo o segundo porto de passageiros mais movimentado da Grécia, logo a seguir ao Pireu, Igoumenitsa é, para muitas pessoas, a porta de entrada, ou de saída, para e da Grécia. Existem ferries entre Igoumenitsa e os portos italianos de Brindisi, Bari, Ancona e Veneza, bem como para as ilhas gregas de Corfu e Paxi.

 

O nosso ferry-boat, o “Florencia”, da Grimaldi Lines, vinha de Patras e seguia para Ancona. Não era mau, mas, a nossa experiência em viagens em ferries tem-nos mostrado que, há medida que descemos na Latitude, também descemos na qualidade dos ferries…

 

Ainda assim, não nos queixamos. O camarote era “normal” e o restaurante até era razoável. Noblesse oblige, estando em “território grego”, não podíamos deixar de provar um dos seus peculiares vinhos “resinados”. No caso, um “PET∑INA”.

 

A primeira referência aos vinhos “resinados” é feita por Lucius Columella, provavelmente, a maior autoridade da época em agricultura, em “De res rustica” (“Da agricultura”), onde explica quais os tipos de resina que podem ser usadas para selar os vinhos, podendo também ser misturadas no próprio vinho… Disse-nos, também, que “… os melhores vinhos não devem ter adição de resina…”

 

Pois… Hoje em dia, estes vinhos são mais suaves e até têm regiões demarcadas. Imagino o que seriam…, há mil ou dois mil anos atrás… As “más-línguas” até dizem que os gregos exageravam na colocação de pez nos vinhos para que, como os romanos não gostavam muito do sabor, estes não lhes roubassem a produção.

 

Entretanto, quer os espaços interiores (nas zonas das cadeiras, destinadas a quem não ia em camarotes), quer os exteriores, pareciam um autêntico acampamento desordenado. Desde tendas, a camas de campanha, a colchões insufláveis, a cobertores e mantas, tudo se espalhava por aqueles pavimentos para passar a noite. Sem falar, também, nos tapetes espalhados nos patamares de acesso às portas e às escadas, com famílias inteiras (numerosas) a tomarem as suas refeições, na maior das calmas… Quem quisesse passar, que procurassem outra passagem… Pois! Se houvesse alguma emergência…

 

Ah! Claro que o navio tinha cartazes, um pouco por todo o lado, a proibir, expressamente, todas aquelas coisas… Simplesmente, existem povos que se estão, sempre, a marimbar para as regras e leis dos povos que os acolhem… Não respeitam nada, nem ninguém, e isto só pode acabar mal, muito mal.

 





















 

Fotos: Entrada na Grécia e Igoumenitsa.

 

 





 









 

 

 

 

Fotos: A bordo do ferry-boat “Florencia”, da Grimaldi Lines.

 

 



 
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Fotos: Chegada a Ancona.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Tempo de rumar, de novo, à Lusitana Pátria…

 

 

 

Com os atrasos típicos destas ligações marítimas, já não nos detivemos em Ancona. Saímos do ferry-boat e rumamos directamente para a República de São Marino, o quinto menor país independente do mundo (com 61 km2) e o Estado-Nação mais antigo, fundado no ano 301. A sua capital, a Cidade de São Marino, assim como o complexo de torres de defesa, integram a lista de Património da Humanidade, pela UNESCO.

  

Localizado no monte Titano, na zona oriental da cadeia montanhosa dos Apeninos, São Marino é um dos seis “micro-estados” europeus, juntamente com Andorra, Liechtenstein, Malta, Mónaco e Vaticano.

 

Em toda a viagem, apenas em São Marino apanhamos com chuva digna desse nome (Ok! E também durante a travessia no ferry-boat). Mas como estávamos mesmo no centro da Cidade de São Marino, provavelmente no único hotel com estacionamento coberto, deambular pela cidade, pelas muralhas, pelas torres e pela fortaleza, foi pacífico e gratificante.

 



































 

 

Fotos: São Marino.

 

 

Regressávamos, entretanto, a trajectos já bem conhecidos do “Pantera Negra”, rumo à Côte d’Azur, para desfrutarmos um pouco deste ameno início de Outono junto ao Mediterrâneo.

 

Optamos por estabelecer a “base” em Cap d’Antibes, uma daquelas pequenas jóias, mesmo ao lado dos eixos mais “badalados”, que passam despercebidas da maioria dos turistas (que se ficam pela, também bela, Antibes).

 

A página de Internet do Comité Régional de Tourisme de Côte d'Azur France dava-nos um resumo inspirador sobre Cap d’Antibes, que subscrevemos plenamente…

 

“… Une invitation au bonheur à ne surtout pas manquer sur la Côte d’Azur! Si vous souhaitez passer une journée dans un lieu paradisiaque, dépaysant et empreint de sérénité, je vous conseille la presqu’île du Cap d’Antibes. D’une superficie de 3,7 km², le Cap d’Antibes offre de magnifiques paysages à découvrir tout au long de la journée, du lever au coucher de soleil!...” – in Comité Régional de Tourisme de Côte d'Azur France

 

O tempo, neste final de Setembro, ainda convidava a uns mergulhos no Mediterrâneo e a uma longa passeata pelo magnífico “Sentier du Littoral”, situado no extremo Sul do cabo. Toda a zona é protegida e faz parte da Rede Natura 2000. Não chegamos a ver golfinhos, mas diziam os locais que não é raro serem avistados por ali.

 

Sempre que existem ameaças de mau tempo…, o “Sentier du Littoral” é encerrado por razões de segurança.

 


























 

 

Fotos: Cap d’Antibes.

 

 

De todas as vezes que tínhamos estado na Côte d’Azur, nunca tínhamos visitado Èze, provavelmente, a povoação de traça medieval mais bonita e com as melhores vistas de toda esta linha costeira.

 

Seguimos com o “Pantera Negra” a lançar charme pela zona antiga de Antibes e continuámos pela costa até passarmos Nice. Depois, ao invés do trajecto habitual, pela costa, subimos pela Corniche para melhor podermos apreciar, desta vez “lá do alto”, as povoações de Villefranche-sur-Mer, Saint-Jean de Cap-Ferrat e Beaulieu-sur-Mer. Vistas magníficas sobre pequenos paraísos.

 




 

Fotos: Villefranche-sur-Mer e Saint-Jean de Cap-Ferrat.

 

 

Povoada desde há quatro milénios e disputada, desde sempre, por diferentes povos, inúmeras vezes Èze foi destruída e reconstruída pelos “vencedores” dessas disputas. O que chegou aos nossos dias, tem o cunho francês, desde os tempos medievais.

 

Èze foi descrita como um “ninho de águia”, dada a sua localização, alcantilada no topo de um penhasco, quatrocentos metros acima do nível do mar. As vistas são divinais.

 

Estando em zona de perfumes e perfumarias, não podíamos deixar de fazer, também, uma instrutiva visita à fábrica de perfumes da Fragonard. Os mais “Kotas” ainda se lembravam da lição “Les fleurs et les parfums”, do livro de francês “Je commence”, dos tempos do antigo Ciclo Preparatório… E os franceses, claro, gostaram do “elogio”!

 

Depois… Bem, depois foi um lento deambular pelas ruas, ruelas e jardins desta pérola da Côte d’Azur. Diz-se por aqui, que o próprio Nietzsche se enamorou de Èze e que nas suas vielas se perdeu, em busca de inspiração para a sua obra “Assim falou Zaratustra”… Não nos perdemos. Mas apetecia!

 

Como é que só desta vez é que, finalmente, visitamos Èze???!!!

 






















 

Fotos: Èze.

 

 





















 


 

 

 

 

  

Fotos: Èze – Fábrica de perfumes da Fragonard.

 

 

Energias repostas e era tempo de regressar a Portugal, não sem uma breve escala em Pau, ponto de controlo estratégico das passagens de montanha, desde os tempos Gallo-Romanos.

 

Localizada no sopé dos Pirinéus Atlânticos e abrigada dos ventos, a cidade tem um agradável micro-clima com verões longos e invernos amenos. No século XIX e início do século XX, franceses, ingleses, russos e até brasileiros abastados estabeleciam-se aqui durante largas temporadas.

 

Com o declínio deste tipo de “turismo”, durante o século XX, a cidade reorientou a sua economia para a indústria aeronáutica e, com a descoberta dos campos de gás de Lacq, em 1951, para o sector da energia.

 

Tendo saído já não muito cedo de Cap d’Antibes e com as habituais paragens e velocidades “de passeio” do “Pantera Negra”, chegamos a Pau já ao final da tarde.

 

Hoje em dia, Pau sofre os efeitos das imigrações descontroladas, tal como uma boa parte do país. Deambular à noite por ali, cria alguma apreensão… Já durante o dia, a beleza da cidade e das paisagens circundantes, com os Pirinéus em pano de fundo, ultrapassa todas essas apreensões.

 





































 

Fotos: Pau.

 

 

E, com mais uma boa lição de história no curriculum, chegamos ao Oeste, a um tal “centro do mundo”, aka, Abrantes!

 













 

Foto: Abrantes.

 

 

 





 
















 

Foto: O “Pantera Negra”, deambulando por aí...

 

 

E o nosso querido “Pantera Negra”, com três décadas e mais de quatrocentos e quarenta mil quilómetros de aventuras, soma e segue! Com ele, até agora, já percorremos trinta e cinco países países, em dois continentes… Portugal de “lés-a-lés”, claro está, mas também Marrocos, Espanha, Principado de Andorra, Grã-Bretanha (incluindo as Highlands da Escócia, as ilhas Hébridas, a Irlanda do Norte e Gibraltar), Irlanda, França, Mónaco, Itália, Bélgica, Luxemburgo, Holanda, Alemanha, Dinamarca, Finlândia, Suécia, Noruega (onde fomos mesmo até ao Cabo Norte!), Liechtenstein, Islândia, Áustria, Suíça, Eslováquia, Hungria, Croácia, Eslovénia, República Checa, Polónia, Lituânia, Letónia, Estónia, Bósnia Herzegovina, Montenegro, Albânia, Grécia, São Marino…

 

“Pantera Negra”, foi o nome com que a nossa filha baptizou o carro, numa época em que ainda se deliciava com as histórias do “Moggli, o filho da selva” e dos seus inseparáveis amigos, o urso Balú e a pantera negra Baghera… E “Pantera Negra” ficou, até hoje!

 

 

          Luís de Matos

        (Outubro de 2013)