Texto: Luís de
Matos
Fotos: Luís de
Matos, Maria José Lopes e Ana Sofia Matos
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Foto: Trajecto.
Desde a exposição de obras do Museu Hermitage
em Lisboa, que a já imensa vontade de conhecer São Petersburgo cresceu cá por
casa. Começou-se então a gizar o plano de viagem, a bordo do nosso fiel amigo
“Pantera Negra”. Pelo caminho, todo um leque de paragens e visitas, abrangendo
as capitais e cidades emblemáticas (noblesse
oblige!), este ou aquele museu fora do habitual, este ou aquele castelo de
sonho, este ou aquele parque natural, este ou aquele local para nos fazer
pensar, este ou aquele caminho sem asfalto… Quase uma dezena de milhar de quilómetros, na companhia de amigos de longa data.
No final, mesmo à chegada a casa, ainda um
“pit-stop” para deixar a “gente mais nova” no último dia do “Festival do
Crato”! Ainda não estava suficientemente cansada, a nossa filha!
Já tínhamos estado próximo de São
Petersburgo, quando da viagem ao Cabo Norte, em que “descemos” pelo lado da
Finlândia. Mas já não havia dias de férias para mais esse desvio… Nem sequer para
“descer” pelo lado das repúblicas do Báltico… Optámos então pelo ferry-boat que ligava Helsínquia a
Rostock. Um mini-cruzeiro no Báltico!
Entretanto, para além de todos e mais
alguns imprevistos que podem surgir em qualquer viagem, a colecta de
informações de outros viajantes, operadores turísticos, embaixadas e serviços
consulares, levou-nos logo às primeiras grandes alterações de planos…
- Sabíamos que entrar na Rússia (utilizaríamos uma
das fronteiras Estónia – Rússia) com um veículo estrangeiro era complexo, mas
já tínhamos os detalhes dos passos a dar junto dos serviços diplomáticos, por
forma a tratarmos de toda a papelada em tempo útil (estávamos em início de Novembro
e a viagem seria em Agosto). Como não falamos russo, também sabíamos que seria
(muito!) aconselhável contratar os serviços de um guia “oficial” para o
trajecto fronteiriço… Também sabíamos que a passagem na fronteira, de per se, poderia consumir umas quantas
horas, para além de estar sempre dependente do “humor” dos guardas
transfronteiriços… Só não sabíamos que as filas de veículos para passarem a
fronteira podiam durar dois dias… três dias… Por aí. O governo estónio
disponibiliza até um site na Internet
onde os veículos são registados, por forma a se poder seguir o avanço da fila,
sem ter de se estar a “dormir no carro”… Do lado russo nem sequer há site de apoio, claro! Tudo confirmado e,
obviamente, que não iríamos despender quase uma semana apenas para cruzarmos as
fronteiras! Investigámos o lado finlandês e a situação era apenas
“ligeiramente” melhor. No way! Os
carros ficariam em Tallinn! Claro que aquela ideia peregrina inicial de irmos
primeiro a Moscovo e, depois, fazermos os setecentos quilómetros até São
Petersburgo, há muito que se tinha também dissipado…
- Sabíamos que a única companhia aérea com voos
directos entre Tallinn e São Petersburgo era a companhia estatal Estonian Air…
Só não sabíamos que a dita tinha acabado de falir, a 7 de Novembro de 2015! Pedimos ajuda à ClickViagens, de Abrantes, para nos tratar dos temas dos vistos, voos, estadia e visita a São Petersburgo ("Cinco estrelas" para a ClickViagens!). Até ao Verão esta importante rota haveria de voltar a ter voos
directos. Caso contrário, lá teríamos de incluir um “stop” de permeio e gastar
uma eternidade nessas viagens… Foi o caso...
- Sabíamos que o ferry-boat
entre Helsínquia e Rostok, para além de oferecer uma boa viagem no Báltico,
proporcionava um óptimo e merecido descanso aos viajantes! Tínhamo-lo utilizado
em 2011 no regresso da tal viagem ao Cabo Norte… Só não sabíamos que já não se realizava… “Bora lá” alterar os planos,
seguir no ferry-boat que liga Tallinn
a Estocolmo e daí, por estrada, até ao tal “Centro do Mundo”, Abrantes!
Com todas estas alterações, ainda na
fase de planeamento, a viagem ficou com mais quilómetros ao volante e menos
oportunidades para descansar, pedindo, onde viável, um bom hotel com um bom
restaurante no final de cada dia. Por outro lado, ganhou uma volta espectacular por paragens
menos conhecidas!
Aproveitou para bem conduzir, a tal
“gente mais nova” cá da casa. Tinha tirado a “Carta de Condução”, precisamente
na sexta-feira antes de iniciarmos esta viagem! Chauffeur às ordens e, nunca descansei tanto! Ir com motorista é fixe!
Хорошо
поездка!
Foto: Para bem acertarmos os relógios...
Foto: "RED", a mascote da viagem.
Primeira etapa, de Abrantes a Tallinn
– Atravessar meia Europa até às portas da terra dos Czars –
Os primeiros dias (e os últimos) foram, comme d’habitude, mais para “devorar
quilómetros”.
Os nossos amigos sairam antes, pois
queriam visitar Toledo e Segóvia, algo que nos nossos planos estava já agendado
para Setembro. Encontrar-nos-íamos em Biarritz. Assim, saímos só no domingo de
manhã, com tempo para desfrutar da “tirada” já nossa conhecida, e também para
um retemperador mergulho de final de dia no golfo da Biscaia. De mencionar o
aparato policial e militar na fronteira com França. Sinais dos tempos! Mas não
fomos questionados, nem mandados parar.
Entretanto, nas subidas do “A23”, o
ponteiro da temperatura começa a subir... Oooops!
Algo que não estava mesmo nada no
programa. Levantando o pé, o ponteiro regressava ao normal... A direito, com
menos esforço, estava tudo bem... Atacava-se mais uma subida longa e o ponteiro
voltava a subir... Reduzindo um pouco a velocidade, voltava ao normal e a
subida fazia-se sem problemas... O fumo do escape mantinha o aspecto normal e
não se detectavam fugas, nem consumos de líquido de refrigeração. Continuámos...
Em Biarritz reconfirmámos que não havia fugas nem consumos de líquido de
refrigeração. Tudo apontava para que o radiador já estivesse a pedir uma
limpeza!
Falámos com o Rui Turnes, da
TerrAventur, que conhece o “Pantera Negra” como ninguém. Sem mais informação,
validou o nosso “diagnóstico” e deu-nos umas quantas sugestões para caso de
necessidade... Mais reconfortados com uma opinião avalizada, decidimos
continuar. A Europa Central é, essencialmente, plana. Mas ainda tínhamos de
atravessar França e o Sul da Alemanha... A viagem passou a ser feita a
velocidades abaixo dos 120 / 130 km/h e sempre “com um olho no manómetro de
temperatura”!
Dez mil quilómetros depois, já em
Lisboa, tratou-se então da tal limpeza do radiador (que bem precisava!) e
ficou, “como novo”! Depois disso, já fez mais uma viagem à Bretanha e à
Normandia, sem problemas.
A caminho de Lyon, ainda se pensou numa
vista de olhos ao museu da Michelin, em Clermont-Ferrand. Pois… Encerrado às
segundas-feiras. Ficámo-nos por uma visita rápida a Périgueux e a Lyon, onde
pernoitámos. Carregadas de história, ambas pedem uma visita mais prolongada,
especialmente Lyon, a terceira maior cidade de França (a seguir a Paris e Marselha).
Foi uma constante da viagem, o encanto e
desejo de voltar com mais tempo, suscitado pelas cidades e vilas em que, muito en passant, parámos e/ou pernoitámos.
O terceiro dia de viagem levou-nos a
Mulhouse e à sua "Cité de L'Automobile", um dos mais importantes (e
maiores) museus automóveis do mundo, que também engloba a coleção Schlumpf (que
inclui a maior coleção privada de veículo Bugatti do mundo). São mais de
quatrocentas viaturas históricas, de prestígio ou de competição, que ilustram
toda a história do automóvel. Sem falar da tal maior coleção de veículos
Bugatti ainda existente!
“E pronto! Já tiveste o teu museu!!!”,
foi a frase que ouvi, “en passant”, logo à chegada... Um casal britânico, de
idade já avançada. Ele, num estado “para lá de ZEN”, acabado de sair do conto
de fadas perfeito... Ela, “com umas trombas que se podiam atar”, depois de uma
seca monumental atrás do marido, que deve ter parado e voltado a parar ao pé de
cada viatura exposta...
Não há grande volta a dar. Ou adoramos
automóveis, ou... não.
Também só me apercebi devidamente da “seca”
que dei à nossa filha, quando contava a uns amigos nossos como tinha explicado à miúda a história e os detalhes das viaturas expostas...,
quando ela, muito selecta e com um sorriso maroto, acrescentou... “Sim... Carro
a carro...”
Mas, no final, ninguém me disse... “E
pronto! Já tiveste o teu museu!!!”
Fotos: Mulhouse - "Cité de L'Automobile". Uma "meia-dúzia" de fotografias..., para gáudio dos 'petrolheads'!
Fotos: Mulhouse.
Mulhouse, povoação, foi também uma
agradável surpresa! O destino seguinte era contemporâneo do nosso Palácio da
Pena, em Sintra (por vezes referido como "o Neuschwanstein português").
O castelo de Neuschwanstein foi construído por Luís II da Baviera, no século
XIX, inspirado na obra de seu amigo e protegido, o compositor Richard Wagner. A
arquitectura do castelo serviu de inspiração ao "Castelo da
Cinderela", símbolo dos estúdios Disney e o nome Neuschwanstein é uma
referência ao "cavaleiro do Cisne", Lohengrin, da ópera com o mesmo
nome (de Wagner, claro). No Vale do Loire, França, outros castelos reclamam
também créditos na inspiração da Disney… Votamos neste!
Visitámos, não apenas o emblemático e
incontornável castelo de Neuschwanstein, como também o de Hohenschwangau, mesmo
ao lado, construído por Maximiliano II da Baviera, pai de Luís II. Só não
pudemos aceder à vizinha Marienbrücke (a “Ponte de Maria”, em homenagem a Maria
da Prússia) sobre o desfiladeiro Pöllat, de onde acreditamos se tenha a melhor vista das fachadas do Castelo de Neuschwanstein. Estava encerrada
para obras.
Pernoitámos em Füssen (outra agradável
surpresa!) e rumámos depois a Praga, um destino há muito pretendido e um dos
mais belos e antigos centros urbanos da Europa, famoso pelo extenso património
arquitectónico e rica vida cultural.
Fotos: Schwangau.
Fotos: Schwangau - Castelo de Hohenschwangau.
Fotos: Schwangau - Castelo de Neuschwanstein.
Fotos: Füssen.
Não inventámos muito, preferindo seguir
os conselhos dos guias de viagens American Express e Lonely Planet que
levávamos, para além das recomendações de amigos... Listando a coisa, seria
algo como...
“... Admirar a
arquitectura medieval e barroca na praça principal. Ver o desfile horário de
figuras mecânicas do relógio da Câmara Municipal, visitar o Palácio de Kinský e
a igreja de Nossa Senhora “antes de“ Týn. Seguir para o bairro judeu de Josefov
e visitar o respectivo cemitério. Cruzar a ponte de Dom Carlos, com as suas
estátuas de Santos e desfrutar do bairro Malá Strana. Seguir pela Nerudova
Ulice (com as portas encimadas de figuras decorativas, de um tempo anterior à
numeração das casas) em direcção à colina do distrito do castelo, visitar a
catedral gótica de São Vito e o antigo Palácio Real e descer a pitoresca Golden
Lane. Apreciar o Teatro Nacional e a Ópera, a igreja de São Nicolau, a igreja
de São Jaime e o mercado municipal...”
A que acrescentámos um passeio no rio Vltava (impressionante o registo histórico das cheias!) e, claro, não deixámos os nossos créditos por mãos alheias na nobre arte de provar o Struddel, os Dunplings, o doce típico Tredlnik, o queijo Olomoucké Tvarůžky, as cervejas Pilsner Urquell.... Só não alinhámos no Budvar, o vinho quente…
Quase diria que, para cada “paragem”
desta viagem, levávamos uma boa lista de sítios a ver, de coisas a provar e de
“tascos” a visitar!.
Com o “trabalho de casa” feito,
contratámos também uma visita guiada. Só que o grupo era… “multi-étnico” e,
alguns povos não primam pela capacidade de respeitar as orientações, regras e
horários… O guia também era jovem e não conseguia “ter mão” naquela gente. A
meteorologia também nos brindou com chuva… Um dia um tanto ou quanto mal
aproveitado.
Vingámo-nos no dia seguinte! Um dia
soalheiro em que visitámos Praga de ponta a ponta por nossa conta, com a
vantagem de os nossos amigos já lá terem estado antes. Uma cidade que nos
envolve em todo o seu esplendor e história e que, claro, não se esgota em dois
ou três dias de visita.
Imperdível também, foi o bailado “O
“Lago dos cisnes”, de Tchaikovsky, como uma “Prima Ballerina” absolutamente
assombrosa. Quem sabe, não sairá dali ainda uma “Prima Ballerina Assoluta”...
Com a menor eficiência do primeiro dia
de visita a Praga, optámos por deixar cair a visita à zona da Boémia e ao
Parque Natural de České Švýcarsko, famoso pelas suas extraordinárias belezas
naturais, com paisagens de florestas, rios, lagos e rochas esculpidas pela
erosão (tem a maior ponte rochosa natural da Europa, a Pravčická brána),
desfiladeiros e ravinas.
O National Geographic também sugeria que
se percorresse uma parte do Vale do Elba… já na Alemanha, visitando a ponte
entre escarpas de Bastei, o castelo de Pillnitz e a fortaleza de Königstein, a caminho
de Dresden. Ficou para uma próxima visita. Com tudo isto, já íamos com uma
semana de viagem.
Rumámos depois a Cracóvia, sem dispensar
uma ida a Auschwitz (ou “Oświęcim”), uma daquelas visitas para nos fazer
pensar. Um
misto de visita, de tributo, de respeito e de reflexão. Para que nem nós, nem a
geração mais nova, alguma vez possamos esquecer. O complexo de “campos de
concentração” de Auschwitz encarna o maior símbolo do holocausto perpetrado
pelo regime Nazi durante a Segunda Guerra Mundial. O primeiro comandante do
complexo, Rudolf Höß, referiu a morte de três milhões de pessoas. Investigações
posteriores, apontam para menos de dois milhões...
Entrámos em silêncio e foi de coração apertado que cruzámos o
portão principal e o seu dístico "Arbeit macht frei" ("O
trabalho liberta"). Deambulámos por ali, sem grande destino. Arruamentos,
pátios, muros de execução, vedações electrificadas, outros “equipamentos”, edifícios,
fornos crematórios, exposições... As reproduções de muitos dos trezentos
desenhos de Mieczysław Kościelniak, pintor e desenhador, preso em Auschwitz em
1941 (e sobrevivente), estão colocadas de forma a que, a cada passo, melhor
consigamos entender o que nos rodeia, perceber o quotidiano destes campos..., e
recordar o que lemos e vimos em vários livros e filmes.
Em resumo, o complexo de campos de concentração de Auschwitz era
constituído por um total de quarenta e oito campos. Três campos principais,
“Auschwitz I” (o campo original, que também incluía o centro administrativo de
todo o complexo, assim como as zonas de experiências médicas), “Auschwitz II –
Birkenau” (o campo de extermínio em larga escala) e “Auschwitz III -
Monowitz-Buna” (um campo “educacional”, de trabalhos forçados, essencialmente
destinado a fornecer mão-de-obra escrava para a indústria). Coordenados por
este último, existiam mais quarenta e cinco pequenos campos “satélite” (alguns
com milhares de prisioneiros), agregados em três categorias principais,
consoante se destinassem a fornecer mão-de-obra escrava para a agricultura,
para a indústria ou para outros fins.
Presentemente, os campos principais, “Auschwitz I” e “Auschwitz II
– Birkenau”, constituem o “Auschwitz-Birkenau State Museum” e integram a lista
de Património da Humanidade, da UNESCO.
Seguimos depois para “Auschwitz II – Birkenau”, o campo de
extermínio em larga escala, a cerca de dois quilómetros. As quatro unidades de
“câmara de gás + crematórios” tinham capacidade para matar duas mil pessoas de
cada vez. Operaram ininterruptamente desde 1942. Na sua retirada, as forças
Nazis destruíram a maior parte do campo. Mas o que chegou até aos nossos dias,
ainda consegue ilustrar o gigantismo do empreendimento. Se, apesar do cuidado
colocado numa apresentação museológica da realidade, “Auschwitz I” nos
abalou..., a crueza e a dimensão de “Auschwitz II – Birkenau” quase nos
derrubou. Enquanto caminhava lentamente pela via férrea em direcção ao portão
principal, dei por mim com lágrimas a rolarem-me pela face. Tudo aquilo tinha
sido imaginado, projectado, construído, equipado, operado e optimizado para...,
exterminar seres humanos a uma escala industrial. E nada disto ocorreu numa
qualquer civilização bárbara desconhecida, nem numa qualquer longínqua “idade
das trevas”. Aconteceu aqui, na nossa Europa e, há muito pouco tempo. Há
pessoas dessa época, que ainda estão vivas.
Regressámos a Cracóvia em silêncio, a digerir tudo o que tínhamos
visto e sentido.
Cracóvia, nas margens do rio Vístula, é um centro
histórico-cultural da Polónia. Fundada no ano 700, foi capital do país entre
1038 e 1569 e da “Commonwealth” Polaco-Lituana entre 1569 e 1596. Foi Cidade
Livre de Cracóvia entre 1815 e 1846, constituindo, a partir daí e até 1918, o
Grão Ducado de Cracóvia. Destruída pelos Mongóis em 1241, 1259 e 1287, fez
parte da Áustria, de 1795 a 1809 e de 1846 a 1914. De hora a hora, um homem dá
quatro voltas na torre mais alta da igreja de Santa Maria, enquanto de uma das
janelas um trompetista toca o “Hejnał mariacki”, em honra do trompetista que
deu o alarme da primeira invasão mongol. Conseguiu dar o alarme, mas foi
abatido por uma flecha inimiga. Ao meio-dia, o “Hejnał mariacki” é também
transmitido via rádio.
O Centro Histórico de Cracóvia integra o restrito clube dos mais
belos centros históricos da Europa e foi inscrito pela UNESCO, em 1978, na
lista do Património Mundial.
Deixámo-nos absorver pela beleza arquitectónica e história da
cidade. Começámos por admirar as torres góticas, os murais e os altares da
igreja de Santa Maria, que visitámos por duas vezes. Deambulámos pela Praça do
Mercado Principal (a maior praça medieval da Europa), subimos à Torre da Câmara
Municipal, percorremos o Mercado Renascentista dos Panos, as inúmeras ruas e
ruelas, sem perder a Ulica Grodzka (uma das ruas mais antigas) e a Ulica
Floriańska e o bairro judeu de Kazimierz, onde, inclusivé, almoçámos num dos
pátios utilizados em 1993 para as filmagens do filme “A lista de Schindler”, de
Steven Spielberg. Seguimos depois o roteiro habitual e visitamos a zona do Wawel,
com a catedral e o castelo real.
Reservámos também meio-dia para visitar-mos as minas de sal de
Wieliczka, também Património da Humanidade pela UNESCO desde 1978.
Com 327 metros de profundidade e mais de 287 quilómetros de
comprimento, mantiveram-se em produção continua desde o século XIII até 2007,
tendo então sido consideradas uma das mais antigas minas de sal em laboração em
todo o mundo. O percurso da visita perde o conto ao número de degraus que se têm
de descer e subir, assim como aos corredores e galerias escavados na rocha de
sal. Inúmeras figuras esculpidas na rocha, assim como quatro capelas, tornam
esta visita única. Destaque à grande capela de Santa Cunegunda, onde entre
diversas esculturas feitas em sal, se destaca uma estátua do papa João Paulo
II.
A lista de visitantes notáveis inclui Nicolau Copérnico (que
estudou em Cracóvia, na Universidade Jaguelónica (uma das mais antigas do
mundo)), Goethe, Alexander von Humboldt, Dmitri Mendeleev, Robert Baden-Powell,
Karol Wojtyła (mais tarde, papa João Paulo II), Bill Clinton... e nós, claro!
Uma visita mais que recomendada! Diferente!
De Cracóvia seguimos para Varsóvia, num misto estradas principais
e secundárias, para melhor apreciarmos o país.
Acabou por ser mais uma “etapa de ligação”, com apenas metade do
dia para apreciar Varsóvia, que se tornou capital da Polónia em 1596, sendo
assim uma das mais jovens capitais europeias. A zona antiga foi declarada
Património da Humanidade pela UNESCO e vale uma visita prolongada. Como não
podia deixar de ser, também procurámos visitar, no número 16 da Ulica Freta a
casa onde nasceu Maria Skłodowska-Curie..., que estava em obras.
Cedo e por estradinhas interiores, seguimos para Leste, quase até
à Bielorússia, rumo ao Parque Natural de Białowieża que conserva o que se
considera ser a última floresta primitiva da Europa e, entre outra fauna, o
maior número de bisontes europeus existentes em liberdade.
À chegada, despertámos alguma admiração.
Um ancião não aguentou mesmo a curiosidade e, olhando intrigado para o “P” das
matrículas, perguntou aos nossos amigos se éramos da... “Prússia”! Ok! O senhor
já tinha uma certa idade e muita água já tinha passado debaixo das pontes desde
a Grande Guerra... Não, não éramos da Prússia. Vínhamos de “Portugal”...
- “No Verão, só vão
conseguir vê-los na Reserva dos Bisontes. O Inverno está muito chuvoso e vai
haver muita comida. Os bisontes vão estar sempre escondidos na floresta.”,
disse-nos o responsável do “Parque Nacional de Białowieża”, quando preparávamos
a visita, uns meses antes.
A dita “Reserva dos Bisontes”, integrada no parque, é apenas um
conjunto de largos cercados, com vegetação natural, em que os animais se
encontram. Para além de bisontes, podem-se ver alces, veados e outros
cervídeos, “żubroń” (um híbrido do bisonte e da vaca, que chega a ser maior do
que os bisontes!), javalis, lobos e linces, assim como exemplares de um
“parente afastado” do extinto tarpã, o cavalo selvagem euro-asiático.
A floresta de Białowieża, abrangida pelo parque, é a maior
floresta de planície da Europa e mantém ainda grande parte do tipo de flora
primitiva, fazendo parte da Reserva da Biosfera e do Património da Humanidade,
listados pela UNESCO. O “Parque Nacional de Białowieża”, fundado em 1921, é o
mais antigo do país. Cobre uma área superior a cem quilómetros quadrados e
estende-se entre a Polónia e a Bielorrússia. É a zona de origem do bisonte
europeu, o maior mamífero terrestre do continente e símbolo do parque,
albergando a maior população conhecida destes animais. Considerados extintos em
1919, no estado selvagem, o subsequente programa internacional de recuperação e
reintrodução do bisonte europeu em Białowieża tem tido assinalável sucesso.
No bar do hotel, voltámos a ver bisontes, agora na versão “Żubr”,
de 1768..., a cerveja local. O pessoal era simpático e ninguém se lembrava de,
alguma vez, por ali ter visto veículos de matrícula portuguesa. Quando
percebiam que íamos a caminho de São Petersburgo..., olhavam-nos com aquele ar
condescendente de quem lamentava o encerramento do hospício lá da zona. “Just
kidding”! Recebíamos sempre um sorriso de simpatia e, na recepção, lembravam-se
ainda dos e-mails e telefonemas que
havíamos trocado meses antes.
Tínhamos também marcado para a manhã do dia seguinte uma visita
guiada à “Zona Restrita”. Trata-se da zona mais antiga e de floresta
“primitiva” do parque, que só pode ser visitada com um guia autorizado. Cerca
de meia centena de quilómetros quadrados de paraíso para os estudiosos da
botânica. Uma autêntica “aula”, que nos foi sendo transmitida pela simpática
guia, ao longo de quase uma dezena de quilómetros de trilhos. Bisontes,
claro... Nem sombras! Talvez nos estivessem a mirar discretamente, por entre o
arvoredo. Encontrámos depois, no National Geographic, fotografias dos trilhos
que percorremos, com bisontes... Tiradas no Inverno, claro!
Aproveitámos a tarde para deambular pelas zonas de acesso livre do
parque. Era Verão e os caminhos, mesmo os não asfaltados, estavam impecáveis.
Sempre na senda de uma fugaz observação de um ou outro esquivo bisonte,
seguimos para a parte Norte e menos visitada do parque. Subimos a um dos postos
de observação, dissimulado na orla da floresta..., e ali nos deixámos ficar. O
local não podia ser melhor, com vistas magníficas para a clareira pantanosa. Do
outro lado, um discreto “alimentador”, pensado para os rigores da estação fria.
O final da tarde aproximava-se.
- Bisontes... “0”.
- Mosquitos... “Googol”!
- Mosquitos... “Googol”!
Tivemos de nos raspar dali, antes de sermos comidos vivos!
Entretanto, chegava uma família, equipada a preceito e preparada para ali
passar a noite! Coragem!
No meio das voltas e voltinhas, acabámos frente a um dos postos
fronteiriços com a Bielorússia, país ainda pouco aberto ao turismo. Virei o
“Pantera Negra” no sentido da “retirada”, saí do carro e..., discretamente,
tirei uma ou outra fotografia ao edifício. Sai um indivíduo lá de dentro, entra
num carro e dirige-se para as cancelas... Guardei a máquina, meti-me no carro
e... ala dali para fora!
Ainda deu tempo para uma visita ao “Local da Força” (“Miejsc
Mocy”), com uns quantos afloramentos rochosos “especiais” e uma anormal
concentração de árvores de troncos múltiplos, bifurcados logo na base, que abrangia
diferentes espécies de diferentes idades. Um local de “energia telúrica” e dado
a lendas. Uma espécie de “assembleia dos Druidas” lá do sítio. Perguntámos
indicações a umas senhoras que passeavam junto de um povoado. Não entendiam os
mapas, mas quando lhes mostrámos a fotografia com “Miejsc Mocy”, a mais velha
encostou o braço à janela aberta do “Pantera Negra” e, no seu melhor polaco,
desatou a explicar-nos o trajecto. E fazia-o com tanto empenho e dedicação, que
até dava gosto! Nós, muito atentos..., lá tentávamos descortinar nas suas
palavras, lábios e gestos, o nome de alguma referência ou de algum povoado que
tivéssemos visto (detectámos um, que tínhamos acabado de atravessar!), ou de
alguma indicação de direcção. Entretanto, a esforçada senhora começou a tentar
descrever-nos qualquer coisa grande... Uma “praça”? Um “edifício”? Uma
“torre”?... pensávamos nós. Por fim, tocou com a mão repetidamente no tablier
e disse “Benzina!”, “Benzina!”... Ah! “As bombas de gasolina”! Exclamámos os
três em uníssono! Estávamos no bom caminho. Cinco estrelas, estes polacos da
Białowieża!
Fotos: Białowieża - Parque Natural de Białowieża.
Fotos: Białowieża - Parque Natural de Białowieża (Fonte: INTERNET).
Mais um dia e lançámos um último olhar de saudade a Białowieża. Rumámos a Noroeste, de novo pelas estradinhas interiores, rumo a Suchowola, o “Centro Geográfico da Europa”. No autocolante do “Pantera Negra” com “O ‘centro’ e os ‘quatro cantos’ da Europa continental”, só já ficam em falta os Montes Urais! A seu tempo...
Na praça, junto da igreja, existe um pequeno monumento alusivo ao tema. Como toda a Polónia, Suchowola e a sua comunidade judaica sofreram também os horrores da ocupação Nazi. Estranhamente, nos nossos guias da American Express e da Lonely Planet não existiam quaisquer referências a Suchowola... Valeu o “São Google” e a Internet, onde as coordenadas do outro “Centro Geográfico da Europa”, mais próximo de Vilnius, até estavam erradas! Já lá não fomos.
No início do último quartel do século XVIII, em 1775, o astrónomo real Szymon Sobiekrajski calculou a posição do “Centro Geográfico da Europa” como estando situado na povoação de Suchowola ( 53°34'00”N // 23°06'00”E ), na região de Białystok, na Polónia... A verdade, é que não é pacífica a definição de quais os melhores critérios para a determinação do dito “Centro Geográfico da Europa”, existindo mais de uma dúzia de pontos que se reclamam como sendo o verdadeiro "Centro", nos territórios da Lituânia, Polónia, Áustria, Alemanha, Eslovénia, República Checa, Eslováquia, Roménia, Ucrânia e Bielorrússia...
Fotos: Suchowola - "Centro Geográfico da Europa".
Foto: Os extremos e o centro da Europa...
Fotos: Augustow.
Seguimos viagem por estradas secundárias, desfrutando do “país
profundo”. O destino do dia já se encontrava para lá da fronteira. Vilnius,
capital da Lituânia, já não estava longe.
Entrávamos assim nos três Estados do Báltico, a Lituânia e a Letónia
(com maior afinidade cultural e linguística entre si) e a Estónia (com maior
afinidade cultural e linguística com a Finlândia e a Lapónia). Com histórias
diferentes, ricas e agitadas, onde se cruzam as várias influências ao longo dos
séculos, os três países integram hoje a União Europeia e a NATO, depois de
décadas muito complicadas sob ocupação soviética, que perdurou até 1991. As
últimas duas décadas trouxeram um assinalável desenvolvimento, com indicadores
como o “PIB per capita” e o “Índice de Gini” a aproximarem-se (dados do ano
anterior), dos correspondentes de países como Portugal. De qualquer das formas,
percorrendo estes países, nota-se que as feridas deixadas pela ocupação ainda
estão bem visíveis e existe todo um longo caminho de evolução pela frente... que está a ser
trilhado.
Existem “Museus da ocupação soviética” um pouco por todo lado, que não
chegámos a visitar.
Também não já não tivemos oportunidade de visitar o Rïgas
Motormuzejs, que me havia sido recomendado pelo Alexandre Correia (da revista “Todo-Terreno”), talvez o mais completo museu automóvel do leste europeu. Entre
vários “tesouros”, este museu tem o que consta ser o único Auto Union V16 Type D
(de 1938) sobrevivente. No final da II Guerra Mundial, o “Exército Vermelho”
levou o veículo para Moscovo. Perdeu-se-lhe o rasto, mas, em 1976, estava na
fábrica ZIL... destinado para abate. Foi então adquirido por Victors Kulbergs,
presidente do Clube de Automóveis Antigos da Letónia, para integrar o
respectivo museu. Nos anos noventa a Audi terá adquirido o veículo, entregando
também uma réplica exacta... Hoje, há quem “jure a pés juntos” que a réplica
está na Alemanha e o original em Rïga, precisamente no Rïgas Motormuzejs...
Ficou para uma próxima visita. Afinal, já tinha tido o meu museu automóvel...,
em Mulhouse.
Com o adiamento sine die daquela ideia inicial de entrarmos de carro nos
territórios da Rússia (pela fronteira de Narva – Ivangorod), adiámos também a
visita ao Nordeste e às áreas de florestas ainda intocadas, onde se encontram
centenas de ursos pardos, para além de alces, veados, lobos e linces. Seguimos
de Rïga pela estrada costeira até à fronteira com a Estónia e daí, rumámos
directamente a Tallinn. Tirando uma centena de quilómetros junto a Vilnius, as
auto-estradas ainda não chegaram aos Estados Bálticos. Todo o intenso tráfego
rodoviário entre as três capitais é feito por estradas..., nem sempre boas. Para
minimizar o impacto, havíamos planeado atravessar estes Estados no
fim-de-semana, o que se revelou uma decisão acertada. Uma palavra de especial
apreço para a generalidade dos camionistas, que sistematicamente nos
facilitaram as ultrapassagens.
Do (sempre pouco) que vimos dos três
Estados, gostámos particularmente da Estónia e da sua capital, Tallinn, uma das
cidades muradas medievais mais bem preservadas da Europa. As três capitais têm
apostado com sucesso no sector das novas tecnologias como alavanca de
desenvolvimento. Tallinn, contudo, consegue cativar mais o visitante. Um misto
de riqueza histórica, equilíbrio na preservação, organização e dinamismo,
limpeza e cosmopolitismo, destacam-na positivamente.
Comme
d’habitude, seguimos os guias de viagem e as sugestões que
trazíamos, e desfrutámos do ambiente, da cultura, dos monumentos, das ruas e
ruelas, dos castelos e muralhas, das igrejas e catedrais, da gastronomia...
Comprovámos in loco que a cerveja
artesanal com mel do “Olde Hansa” (uma das inúmeras sugestões que trazíamos
para esta viagem) era a melhor que alguma vez tínhamos degustado... Degustado,
“à la” Leste europeu, claro! Em canecas de barro com um litro...
Fotos: Vilnius.
Fotos: Rïga.
Fotos: Tallinn.
Segunda etapa, São Petersburgo
– Para muitos, o melhor da terra dos Czars –
Com a falência da Estonian Air (um
cenário idêntico ao que teria acontecido com a TAP, se não tivesse sido
reprivatizada), o tema dos voos directos entre Tallinn e São Petersburgo
continuou sem solução. Mantivemos a melhor opção de recurso, com voos da Baltic
Air... via Rïga.
Fundada pelo Czar Pedro (“O Grande”) em
1703, São Petersburgo foi capital da “Rússia Imperial” entre 1713 e 1728, e
entre 1732 e 1918. Continua a ser a sua capital cultural e o seu centro
histórico faz parte da lista de Património da Humanidade da UNESCO.
Havíamos também contratado, via ClickViagens, uma visita guiada ao Museu Hermitage, um dos maiores e mais completos museus do
mundo, com um acervo de mais de três milhões de peças. Acertada decisão pois,
para além de termos passado ao lado das filas para compra de bilhetes, foi-nos
proporcionada uma visita detalhada, super bem explicada e com acesso à zona restrita
do Tesouro Imperial (com uma guia adicional só dedicada ao tema). Uma autêntica
aula de dia inteiro. Acabámos, já no final da tarde, num lanche ajantarado com o guia. Um indivíduo “cinco estrelas”,
inteligente e um “poço de sabedoria”, não só sobre o museu, mas também
sobre temas relacionados, como São Petersburgo e a Rússia, e outros da senda internacional. Foi um gosto e um privilégio termos um guia
destes!
Dito isto, claro que um museu como o
Hermitage não se esgota num dia..., nem numa semana! Muito menos São
Petersburgo se esgota nos parcos “dois dias e picos” que lhe dedicámos...
Sem stresses, e seguindo o “trabalho de
casa”, procurámos aproveitar bem o tempo para deambular pela cidade e apreciar
alguns dos seus pontos mais emblemáticos, de praças, ruas e pontes, a mercados,
fortificações, igrejas e catedrais, sem perdermos a tradição de treparmos os
degraus de campanários e miradouros!
Também embarcámos no “hydrofoil” para
uma agradável viagem costeira de meia hora até ao Palácio Peterhof, uma espécie
de “Versailles da Rússia”. Mais do que o seu interior, o seu canal marítimo, os
seus jardins e cascatas, com especial destaque para a “Grande Cascata”, são
obras absolutamente únicas.
Fotos: São Petersburgo - Museu Hermitage.
Fotos: São Petersburgo.
Fotos: São Petersburgo - Palácio Peterhof.
Terceira etapa, de Tallinn a Abrantes
– Atravessar meia Europa no regresso ao "centro do mundo" –
Regressados a Tallinn ao início da
manhã, ainda tivemos tempos para mais umas voltas pela cidade, pois o ferry-boat da Talink Silja, “MS-Victoria
I”, para Estocolmo só partia ao final da tarde. Mais uma vez e sinais dos
tempos, controlos policiais mais apertados, face ao que nos habituámos a ver em
viagens anteriores. Mas nada nos perguntaram, nem mandaram parar. Devemos ter um ar de doidos simpáticos e inofensivos...
Noite a bordo (o ferry-boat faz uma escala noturna nas ilhas Åland) e travessia magistral, ao início da
manhã, do dédalo de ilhas e ilhotas que, por setenta quilómetros, rodeiam
Estocolmo. A maioria das pessoas que apenas chega e parte de Estocolmo por via
aérea, perde uma experiência magnífica.
A capital sueca estende-se por catorze
ilhas, ligadas por inúmeras pontes e carreiras de barcos e ferry-boats. Tal como havíamos constatado em viagens anteriores
pelos países da Escandinávia, tudo funciona, bem e a horas.
Procurámos optimizar o dia, desfrutando
de Estocolmo. Incluímos também uma visita imperdível ao museu Vasa. Construído
no reinado de Gustavo Adolfo II, o “Vasa” era um dos navios mais bem armados e
esplendidamente decorados do seu tempo. Um vector de “projecção de poder”,
crucial para os tempos conturbados que então se viviam. Contudo, mal calculado
e com insuficiente lastro, naufragou na sua viagem inaugural, a 10 de Agosto de
1628, à vista do porto.
Foi relocalizado e recuperado três
séculos depois, em 1961, com o casco quase intacto. Restaurado (de um ponto de
vista museológico), foi transferido para o Museu Vasa em 1987, sendo, desde
então, uma das maiores atracções da Suécia, oferecendo uma perspectiva única do
país no início do século XVII.
Estar em Estocolmo e não desfrutar de um
jantar no Gondolen, com uma das melhores vistas de final de dia sobre a cidade
e os canais, seria imperdoável. Mais um “visto” na lista de sugestões que levávamos.
O dia seguinte foi de ligação calma a
Copenhaga, atravessando todo o Sul da Suécia, com paragens maiores no lago
Vättern e em Malmö.
Atravessamos de Malmö para Copenhaga
pela nova "ponte - túnel" que atravessa o golfo de Öresund e que
retirou muita da pujança económica a Malmö, anterior centro nevrálgico das
ligações marítimas com Copenhaga. A ponte-túnel de Öresund (ou Øresund, do lado
dinamarquês) abriu ao público em 2000 e atravessa o estreito de Öresund,
ligando Malmö a Copenhaga e permitindo a circulação rodoviária e ferroviária. São
oito quilómetros de ponte, entre Malmö e a ilha artificial de Peberholm,
seguindo depois por quatro quilómetros de tunel (o tunel Drogden) até à ilha de
Amager, já na Dinamarca. Por aqui passam também os cabos do backbone da transmissão de dados entre a
Europa Central e a Suécia e a Finlândia.
Tinham-nos alertado na embaixada para, dadas as
circunstâncias actuais, contarmos com eventuais demoras devido a controlos policiais. Mas
estava tudo normal.
Fotos: Malmö.
Fotos: Ponte-túnel de Öresund (ou Øresund, do lado dinamarquês). A primeira fotografia foi retirada da INTERNET.
No dia da chegada, fomos recebidos em
Copenhaga por uma daquelas “paradas” / “festas” / “encontros”... ou o que se
lhe queira chamar, da comunidade “gay”, em plena Praça do Município lá do
burgo. Nunca tinha visto tanta sujeira e tanto lixo numa zona nobre de uma
capital. Uma vergonha! No dia seguinte ao início da tarde, as equipas de
limpeza (do Estado, claro!) ainda andavam a tentar limpar a praça e a devolver
um pouco de dignidade ao local. Enfim, falta de bom senso na escolha dos locais
de festejos. De notar que Copenhaga já foi, em tempos, considerada pelos
turistas como “a cidade mais limpa da Europa”!
Só dois dias depois (era fim-de-semana)
conseguimos entrar no belo edifício da “Câmara Municipal” para apreciarmos o
Relógio Astronómico de Jens Olsen, que entrou ao serviço em 1955. Trata-se de um
completo relógio totalmente mecânico, de doze movimentos que, entre outras
informações e para além das “horas”, apresenta os eclipses lunares e solares,
posições de corpos celestes e calendário perpétuo.
Tal como a grande maioria destas
capitais europeias cheias de história, Copenhaga é uma cidade para se apreciar
a pé, com a maioria dos seus locais mais emblemáticos a curta distância uns dos
outros.
Só tinha estado em Copenhaga uma vez, no
início dos anos noventa, em trabalho. Na altura pouco tinha podido apreciar da
cidade, já então pejada de turistas asiáticos. Lembro-me de ter dado “uma
fugida” até à “Pequena Sereia” e só ter conseguido tirar uma fotografia “à
queima-roupa”, com gente à volta, naquela fracção de tempo que medeia entre o
regresso de uma horda de turistas aos autocarros..., e o despejar de outra
horda por outros autocarros!
Tinha gostado da cidade e “publicitei-a”
junto da família! Valeu a pena. Continua uma cidade muito agradável e bem
organizada. De novo pegámos nos “trabalhos de casa” e deixámo-nos embalar por ruas
e ruelas, bairros históricos, igrejas, catedrais, palácios, jardins e porto,
muito especialmente a zona do “Nyhavn” (o “Porto Novo”), provavelmente a área
mais fotografada de toda a Dinamarca! Imperdível também, foi um passeio de
barco pelos canais.
Noblesse oblige, um final de dia no Parque Tivoli é absolutamente imprescindível, assim como uma voltinha na mais antiga montanha russa do mundo.
O Parque Tivoli foi inaugurado em 1843, reclamando o título de segundo parque de diversões mais antigo do mundo. O Parque Pratter, de Viena de Áustria, inaugurado em 1766 (e que também visitámos, em 2013), é considerado por muitos como sendo o parque de diversões mais antigo... Tudo errado! O parque de diversões mais antigo do mundo é o Parque Dyrehavsbakken, inaugurado em 1583. Fica nos arredores de Copenhaga, um pouco a Norte... Numa próxima visita, vamos lá.
Noblesse oblige, um final de dia no Parque Tivoli é absolutamente imprescindível, assim como uma voltinha na mais antiga montanha russa do mundo.
O Parque Tivoli foi inaugurado em 1843, reclamando o título de segundo parque de diversões mais antigo do mundo. O Parque Pratter, de Viena de Áustria, inaugurado em 1766 (e que também visitámos, em 2013), é considerado por muitos como sendo o parque de diversões mais antigo... Tudo errado! O parque de diversões mais antigo do mundo é o Parque Dyrehavsbakken, inaugurado em 1583. Fica nos arredores de Copenhaga, um pouco a Norte... Numa próxima visita, vamos lá.
No domingo era dia de “KMD IRONMAN Copenhagen
2016”. Eram “apenas” 3,8 km a nadar, mais 180 km em bicicleta, mais uma
maratona..., percorrendo os pontos mais emblemáticos da cidade e zonas envolventes.
Eu, que já vejo o Triatlo “normal” como uma coisa para gentes do Olimpo, nem me
atrevo a tecer comentários sobre as provas do IronMan! Espetacular!
Falhámos o “Noma” pois, quando tentámos
fazer as reservas, apesar da antecedência, já se encontrava esgotado para estes
dias. Ficou em “agenda potencial”...
De certa forma, iniciávamos aqui aquela
parte das viagens... que já soam ao final. Os trajectos já eram, na sua
maioria, conhecidos.
Rumámos pois a Bruxelas, onde ficámos
duas noites, com uma pernoita em Bremen, que já conhecíamos da nossa viagem ao
Cabo Norte, em 2011.
Chegámos a Bruxelas depois de almoço e, noblesse oblige, iniciámos a visita pelo
Atomium, construído para a Feira Mundial de Bruxelas de 1958. Representa um
cristal de ferro e, se por um lado, a obra faz jus ao entusiasmo que então se
vivia no domínio do nuclear, por outro, ilustra uma matéria que não serve para
combustível nuclear.
Seguimos para o centro e comprovámos o
que já sabíamos sobre um certo modus
operandi muito belga... Obras em todo o lado, ao mesmo tempo... e que
duram, duram... Trânsito caótico (para os padrões europeus, claro). Soou-nos a
familiar!
Os episódios de segurança dos últimos
tempos tiveram o seu impacto no turismo. Menos gente. Mais polícia visível e o
próprio exército nas ruas.
Com uma história milenar, Bruxelas é
hoje, mais do que a capital da Bélgica, a capital da União Europeia e um
importante centro da política internacional. A partir do final da Segunda
Guerra Mundial, várias instituições europeias, assim como a NATO, estabeleceram
as suas sedes na cidade.
De per
se, e conseguindo acertar em dias sem chuva..., a cidade é magnífica, com
muito que ver e desfrutar. Fizemos, claro, o roteiro do turista, apreciando
todas as zonas e monumentos mais emblemáticos. Isto, sem deixarmos por mãos
alheias o profundo estudo das artes chocolateira e cervejeira belgas! Um
paraíso!
Chegámos a Bruxelas duas semanas depois
do “20ème Tapis de Fleurs” na Grand-Place. O dom da ubiquidade ainda
não é o nosso forte e tivemos de deixar cair este evento quando estávamos a
planear a viagem. Desde há duas décadas que em Agosto, com uma periodicidade
bianual, a Grand-Place é adornada com um imenso tapete de flores.
Este ano o tema tinha sido influenciado pela comemoração do 150º aniversário do
estabelecimento das relações de amizade e diplomáticas com o Japão. Em 2018
haverá mais, entre 16 e 19 de Agosto! De qualquer das formas, a Grand-Place é
absolutamente magnífica. Faz parte da lista de Património Mundial, da UNESCO e
Victor Hugo considerou-a a mais bela praça do mundo.
Apreciadores de música, não podíamos
perder uma visita ao “MIM – Musée des Instruments de Musique”, criado em 1877. O
seu acervo inclui uma das maiores e mais completas colecções de instrumentos
musicais de todo o mundo. Depois... Bem, depois é possível ouvir peças tocadas
pelos instrumentos expostos. Fabuloso!
Um referência também ao famoso Manneken
Pis... Obrigatória a visita, embora para o “turista normal” seja um mistério o
motivo de toda aquela fama. Escarafunchando na história, tudo está envolto em
névoa e fantasia. Mas parece que a estátua original (a que está exposta é uma réplica),
de 1619, ali teria sido colocada para, de uma forma irónica, alertar para a
escassez de água potável... Os belgas, contudo, gostam mais da versão que alude
ao militar do século XII que, em plena batalha, não se coibiu de se “aliviar”
junto a uma árvore, numa demonstração de enorme coragem... Ok! Entretanto,
criou-se o hábito de vestir a estátua (já teve, inclusive, um fato típico do
Minho). Gostamos mais da versão “original”, sem roupagens.
Os dois últimos dias foram, essencialmente, dias de
ligação calma a Abrantes, com pernoitas em cidades já nossas conhecidas,
Poitiers e Burgos. Sempre encantadoras e a enriquecerem os nossos finais de
tarde, estas duas cidades.
Terra de importantes batalhas que muito
influenciaram o futuro da França, a cidade de Poitiers passa despercebida ao
viajante apressado, quase só se fazendo notar pelo seu moderno “Futuroscope”.
Vale a pena subir à cidade e apreciar todo o seu centro histórico repleto de
arte romana, destacando-se a igreja de Notre-Dame-la-Grande (séculos XI e XII).
É, também, a terceira cidade francesa em número de órgãos acústicos. Visitá-mo-la em plena aula de música em órgão acústico! Vale a
pena!
A terra de El Cid Campeador é uma nossa paragem
habitual, mas nunca ali tínhamos pernoitado. A cidade é plena de arte gótica e sua
imponente catedral integra da lista de Património da Humanidade, da UNESCO. Já
tínhamos visitado a catedral em viagens anteriores pelo que, desta vez, nos
limitámos a deambular pela zona antiga e a desfrutar calmamente da cidade. Sem
esquecer que em 2013, Burgos foi nomeada a “Capital da Gastronomia Espanhola”! Pedia
uma estadia mais prolongada!
Com a viagem deste ano acrescentámos mais uns quantos países ao curriculum
vitæ do “Pantera Negra”, em 22 anos e 340000 km de bons e fiéis serviços…
Portugal de lés a lés, Alemanha, Áustria, Bélgica, Croácia, Dinamarca,
Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grão-Ducado do
Luxemburgo, Holanda, Hungria, Itália, Islândia, Letónia, Lituânia, Marrocos,
Noruega, Polónia, Principado de Andorra, Principado do Liechtenstein,
Principado do Mónaco, Reino Unido (+ Gibraltar + ilhas Hébridas), República
Checa, Suécia, Suíça… Há que actualizar o autocolante!
:-)
Dizem que as viagens se gozam pelo menos
por três vezes… Quando se planeiam e preparam… Quando se realizam… E, de todas
as vezes que se recordam!
Спасибо !
Luís de Matos
(Setembro de 2016)