segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Para lá da "cortina"... uma volta pela Europa Central e de Leste





Texto: Luís de Matos
Fotos: Luís de Matos, Maria José Lopes e Ana Sofia Matos

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Foto: Trajecto.



Desde a exposição de obras do Museu Hermitage em Lisboa, que a já imensa vontade de conhecer São Petersburgo cresceu cá por casa. Começou-se então a gizar o plano de viagem, a bordo do nosso fiel amigo “Pantera Negra”. Pelo caminho, todo um leque de paragens e visitas, abrangendo as capitais e cidades emblemáticas (noblesse oblige!), este ou aquele museu fora do habitual, este ou aquele castelo de sonho, este ou aquele parque natural, este ou aquele local para nos fazer pensar, este ou aquele caminho sem asfalto… Quase uma dezena de milhar de quilómetros, na companhia de amigos de longa data.

No final, mesmo à chegada a casa, ainda um “pit-stop” para deixar a “gente mais nova” no último dia do “Festival do Crato”! Ainda não estava suficientemente cansada, a nossa filha!

Já tínhamos estado próximo de São Petersburgo, quando da viagem ao Cabo Norte, em que “descemos” pelo lado da Finlândia. Mas já não havia dias de férias para mais esse desvio… Nem sequer para “descer” pelo lado das repúblicas do Báltico… Optámos então pelo ferry-boat que ligava Helsínquia a Rostock. Um mini-cruzeiro no Báltico!

Entretanto, para além de todos e mais alguns imprevistos que podem surgir em qualquer viagem, a colecta de informações de outros viajantes, operadores turísticos, embaixadas e serviços consulares, levou-nos logo às primeiras grandes alterações de planos…


- Sabíamos que entrar na Rússia (utilizaríamos uma das fronteiras Estónia – Rússia) com um veículo estrangeiro era complexo, mas já tínhamos os detalhes dos passos a dar junto dos serviços diplomáticos, por forma a tratarmos de toda a papelada em tempo útil (estávamos em início de Novembro e a viagem seria em Agosto). Como não falamos russo, também sabíamos que seria (muito!) aconselhável contratar os serviços de um guia “oficial” para o trajecto fronteiriço… Também sabíamos que a passagem na fronteira, de per se, poderia consumir umas quantas horas, para além de estar sempre dependente do “humor” dos guardas transfronteiriços… Só não sabíamos que as filas de veículos para passarem a fronteira podiam durar dois dias… três dias… Por aí. O governo estónio disponibiliza até um site na Internet onde os veículos são registados, por forma a se poder seguir o avanço da fila, sem ter de se estar a “dormir no carro”… Do lado russo nem sequer há site de apoio, claro! Tudo confirmado e, obviamente, que não iríamos despender quase uma semana apenas para cruzarmos as fronteiras! Investigámos o lado finlandês e a situação era apenas “ligeiramente” melhor. No way! Os carros ficariam em Tallinn! Claro que aquela ideia peregrina inicial de irmos primeiro a Moscovo e, depois, fazermos os setecentos quilómetros até São Petersburgo, há muito que se tinha também dissipado…

- Sabíamos que a única companhia aérea com voos directos entre Tallinn e São Petersburgo era a companhia estatal Estonian Air… Só não sabíamos que a dita tinha acabado de falir, a 7 de Novembro de 2015! Pedimos ajuda à ClickViagens, de Abrantes, para nos tratar dos temas dos vistos, voos, estadia e visita a São Petersburgo ("Cinco estrelas" para a ClickViagens!). Até ao Verão esta importante rota haveria de voltar a ter voos directos. Caso contrário, lá teríamos de incluir um “stop” de permeio e gastar uma eternidade nessas viagens… Foi o caso...

- Sabíamos que o ferry-boat entre Helsínquia e Rostok, para além de oferecer uma boa viagem no Báltico, proporcionava um óptimo e merecido descanso aos viajantes! Tínhamo-lo utilizado em 2011 no regresso da tal viagem ao Cabo Norte… Só não sabíamos que já não se realizava… “Bora lá” alterar os planos, seguir no ferry-boat que liga Tallinn a Estocolmo e daí, por estrada, até ao tal “Centro do Mundo”, Abrantes!


Com todas estas alterações, ainda na fase de planeamento, a viagem ficou com mais quilómetros ao volante e menos oportunidades para descansar, pedindo, onde viável, um bom hotel com um bom restaurante no final de cada dia. Por outro lado, ganhou uma volta espectacular por paragens menos conhecidas!

Aproveitou para bem conduzir, a tal “gente mais nova” cá da casa. Tinha tirado a “Carta de Condução”, precisamente na sexta-feira antes de iniciarmos esta viagem! Chauffeur às ordens e, nunca descansei tanto! Ir com motorista é fixe!



Хорошо поездка!








Foto: Para bem acertarmos os relógios...







Foto: "RED", a mascote da viagem.













Primeira etapa, de Abrantes a Tallinn
– Atravessar meia Europa até às portas da terra dos Czars –





Os primeiros dias (e os últimos) foram, comme d’habitude, mais para “devorar quilómetros”.

Os nossos amigos sairam antes, pois queriam visitar Toledo e Segóvia, algo que nos nossos planos estava já agendado para Setembro. Encontrar-nos-íamos em Biarritz. Assim, saímos só no domingo de manhã, com tempo para desfrutar da “tirada” já nossa conhecida, e também para um retemperador mergulho de final de dia no golfo da Biscaia. De mencionar o aparato policial e militar na fronteira com França. Sinais dos tempos! Mas não fomos questionados, nem mandados parar.

Entretanto, nas subidas do “A23”, o ponteiro da temperatura começa a subir... Oooops!

Algo que não estava mesmo nada no programa. Levantando o pé, o ponteiro regressava ao normal... A direito, com menos esforço, estava tudo bem... Atacava-se mais uma subida longa e o ponteiro voltava a subir... Reduzindo um pouco a velocidade, voltava ao normal e a subida fazia-se sem problemas... O fumo do escape mantinha o aspecto normal e não se detectavam fugas, nem consumos de líquido de refrigeração. Continuámos... Em Biarritz reconfirmámos que não havia fugas nem consumos de líquido de refrigeração. Tudo apontava para que o radiador já estivesse a pedir uma limpeza!

Falámos com o Rui Turnes, da TerrAventur, que conhece o “Pantera Negra” como ninguém. Sem mais informação, validou o nosso “diagnóstico” e deu-nos umas quantas sugestões para caso de necessidade... Mais reconfortados com uma opinião avalizada, decidimos continuar. A Europa Central é, essencialmente, plana. Mas ainda tínhamos de atravessar França e o Sul da Alemanha... A viagem passou a ser feita a velocidades abaixo dos 120 / 130 km/h e sempre “com um olho no manómetro de temperatura”!

Dez mil quilómetros depois, já em Lisboa, tratou-se então da tal limpeza do radiador (que bem precisava!) e ficou, “como novo”! Depois disso, já fez mais uma viagem à Bretanha e à Normandia, sem problemas.

A caminho de Lyon, ainda se pensou numa vista de olhos ao museu da Michelin, em Clermont-Ferrand. Pois… Encerrado às segundas-feiras. Ficámo-nos por uma visita rápida a Périgueux e a Lyon, onde pernoitámos. Carregadas de história, ambas pedem uma visita mais prolongada, especialmente Lyon, a terceira maior cidade de França (a seguir a Paris e Marselha).

Foi uma constante da viagem, o encanto e desejo de voltar com mais tempo, suscitado pelas cidades e vilas em que, muito en passant, parámos e/ou pernoitámos.





Foto: Biarritz.







Fotos: Périgueux.










Fotos: Lyon.





O terceiro dia de viagem levou-nos a Mulhouse e à sua "Cité de L'Automobile", um dos mais importantes (e maiores) museus automóveis do mundo, que também engloba a coleção Schlumpf (que inclui a maior coleção privada de veículo Bugatti do mundo). São mais de quatrocentas viaturas históricas, de prestígio ou de competição, que ilustram toda a história do automóvel. Sem falar da tal maior coleção de veículos Bugatti ainda existente!

“E pronto! Já tiveste o teu museu!!!”, foi a frase que ouvi, “en passant”, logo à chegada... Um casal britânico, de idade já avançada. Ele, num estado “para lá de ZEN”, acabado de sair do conto de fadas perfeito... Ela, “com umas trombas que se podiam atar”, depois de uma seca monumental atrás do marido, que deve ter parado e voltado a parar ao pé de cada viatura exposta...

Não há grande volta a dar. Ou adoramos automóveis, ou... não.

Também só me apercebi devidamente da “seca” que dei à nossa filha, quando contava a uns amigos nossos como tinha explicado à miúda a história e os detalhes das viaturas expostas..., quando ela, muito selecta e com um sorriso maroto, acrescentou... “Sim... Carro a carro...”

Mas, no final, ninguém me disse... “E pronto! Já tiveste o teu museu!!!”























Fotos: Mulhouse - "Cité de L'Automobile". Uma "meia-dúzia" de fotografias..., para gáudio dos 'petrolheads'!












Fotos: Mulhouse.





Mulhouse, povoação, foi também uma agradável surpresa! O destino seguinte era contemporâneo do nosso Palácio da Pena, em Sintra (por vezes referido como "o Neuschwanstein português"). O castelo de Neuschwanstein foi construído por Luís II da Baviera, no século XIX, inspirado na obra de seu amigo e protegido, o compositor Richard Wagner. A arquitectura do castelo serviu de inspiração ao "Castelo da Cinderela", símbolo dos estúdios Disney e o nome Neuschwanstein é uma referência ao "cavaleiro do Cisne", Lohengrin, da ópera com o mesmo nome (de Wagner, claro). No Vale do Loire, França, outros castelos reclamam também créditos na inspiração da Disney… Votamos neste!

Visitámos, não apenas o emblemático e incontornável castelo de Neuschwanstein, como também o de Hohenschwangau, mesmo ao lado, construído por Maximiliano II da Baviera, pai de Luís II. Só não pudemos aceder à vizinha Marienbrücke (a “Ponte de Maria”, em homenagem a Maria da Prússia) sobre o desfiladeiro Pöllat, de onde acreditamos se tenha a melhor vista das fachadas do Castelo de Neuschwanstein. Estava encerrada para obras.

Pernoitámos em Füssen (outra agradável surpresa!) e rumámos depois a Praga, um destino há muito pretendido e um dos mais belos e antigos centros urbanos da Europa, famoso pelo extenso património arquitectónico e rica vida cultural.










Fotos: Schwangau.












Fotos: Schwangau - Castelo de Hohenschwangau.














Fotos: Schwangau - Castelo de Neuschwanstein.














Fotos: Füssen.






Não inventámos muito, preferindo seguir os conselhos dos guias de viagens American Express e Lonely Planet que levávamos, para além das recomendações de amigos... Listando a coisa, seria algo como...


“... Admirar a arquitectura medieval e barroca na praça principal. Ver o desfile horário de figuras mecânicas do relógio da Câmara Municipal, visitar o Palácio de Kinský e a igreja de Nossa Senhora “antes de“ Týn. Seguir para o bairro judeu de Josefov e visitar o respectivo cemitério. Cruzar a ponte de Dom Carlos, com as suas estátuas de Santos e desfrutar do bairro Malá Strana. Seguir pela Nerudova Ulice (com as portas encimadas de figuras decorativas, de um tempo anterior à numeração das casas) em direcção à colina do distrito do castelo, visitar a catedral gótica de São Vito e o antigo Palácio Real e descer a pitoresca Golden Lane. Apreciar o Teatro Nacional e a Ópera, a igreja de São Nicolau, a igreja de São Jaime e o mercado municipal...”



A que acrescentámos um passeio no rio Vltava (impressionante o registo histórico das cheias!) e, claro, não deixámos os nossos créditos por mãos alheias na nobre arte de provar o Struddel, os Dunplings, o doce típico Tredlnik, o queijo Olomoucké Tvarůžky, as cervejas Pilsner Urquell.... Só não alinhámos no Budvar, o vinho quente…

Quase diria que, para cada “paragem” desta viagem, levávamos uma boa lista de sítios a ver, de coisas a provar e de “tascos” a visitar!.

Com o “trabalho de casa” feito, contratámos também uma visita guiada. Só que o grupo era… “multi-étnico” e, alguns povos não primam pela capacidade de respeitar as orientações, regras e horários… O guia também era jovem e não conseguia “ter mão” naquela gente. A meteorologia também nos brindou com chuva… Um dia um tanto ou quanto mal aproveitado.

Vingámo-nos no dia seguinte! Um dia soalheiro em que visitámos Praga de ponta a ponta por nossa conta, com a vantagem de os nossos amigos já lá terem estado antes. Uma cidade que nos envolve em todo o seu esplendor e história e que, claro, não se esgota em dois ou três dias de visita.

Imperdível também, foi o bailado “O “Lago dos cisnes”, de Tchaikovsky, como uma “Prima Ballerina” absolutamente assombrosa. Quem sabe, não sairá dali ainda uma “Prima Ballerina Assoluta”...

Com a menor eficiência do primeiro dia de visita a Praga, optámos por deixar cair a visita à zona da Boémia e ao Parque Natural de České Švýcarsko, famoso pelas suas extraordinárias belezas naturais, com paisagens de florestas, rios, lagos e rochas esculpidas pela erosão (tem a maior ponte rochosa natural da Europa, a Pravčická brána), desfiladeiros e ravinas.

O National Geographic também sugeria que se percorresse uma parte do Vale do Elba… já na Alemanha, visitando a ponte entre escarpas de Bastei, o castelo de Pillnitz e a fortaleza de Königstein, a caminho de Dresden. Ficou para uma próxima visita. Com tudo isto, já íamos com uma semana de viagem.
















































Fotos: Praga.




Rumámos depois a Cracóvia, sem dispensar uma ida a Auschwitz (ou “Oświęcim”), uma daquelas visitas para nos fazer pensar. Um misto de visita, de tributo, de respeito e de reflexão. Para que nem nós, nem a geração mais nova, alguma vez possamos esquecer. O complexo de “campos de concentração” de Auschwitz encarna o maior símbolo do holocausto perpetrado pelo regime Nazi durante a Segunda Guerra Mundial. O primeiro comandante do complexo, Rudolf Höß, referiu a morte de três milhões de pessoas. Investigações posteriores, apontam para menos de dois milhões...

Entrámos em silêncio e foi de coração apertado que cruzámos o portão principal e o seu dístico "Arbeit macht frei" ("O trabalho liberta"). Deambulámos por ali, sem grande destino. Arruamentos, pátios, muros de execução, vedações electrificadas, outros “equipamentos”, edifícios, fornos crematórios, exposições... As reproduções de muitos dos trezentos desenhos de Mieczysław Kościelniak, pintor e desenhador, preso em Auschwitz em 1941 (e sobrevivente), estão colocadas de forma a que, a cada passo, melhor consigamos entender o que nos rodeia, perceber o quotidiano destes campos..., e recordar o que lemos e vimos em vários livros e filmes.

Em resumo, o complexo de campos de concentração de Auschwitz era constituído por um total de quarenta e oito campos. Três campos principais, “Auschwitz I” (o campo original, que também incluía o centro administrativo de todo o complexo, assim como as zonas de experiências médicas), “Auschwitz II – Birkenau” (o campo de extermínio em larga escala) e “Auschwitz III - Monowitz-Buna” (um campo “educacional”, de trabalhos forçados, essencialmente destinado a fornecer mão-de-obra escrava para a indústria). Coordenados por este último, existiam mais quarenta e cinco pequenos campos “satélite” (alguns com milhares de prisioneiros), agregados em três categorias principais, consoante se destinassem a fornecer mão-de-obra escrava para a agricultura, para a indústria ou para outros fins.

Presentemente, os campos principais, “Auschwitz I” e “Auschwitz II – Birkenau”, constituem o “Auschwitz-Birkenau State Museum” e integram a lista de Património da Humanidade, da UNESCO.

Seguimos depois para “Auschwitz II – Birkenau”, o campo de extermínio em larga escala, a cerca de dois quilómetros. As quatro unidades de “câmara de gás + crematórios” tinham capacidade para matar duas mil pessoas de cada vez. Operaram ininterruptamente desde 1942. Na sua retirada, as forças Nazis destruíram a maior parte do campo. Mas o que chegou até aos nossos dias, ainda consegue ilustrar o gigantismo do empreendimento. Se, apesar do cuidado colocado numa apresentação museológica da realidade, “Auschwitz I” nos abalou..., a crueza e a dimensão de “Auschwitz II – Birkenau” quase nos derrubou. Enquanto caminhava lentamente pela via férrea em direcção ao portão principal, dei por mim com lágrimas a rolarem-me pela face. Tudo aquilo tinha sido imaginado, projectado, construído, equipado, operado e optimizado para..., exterminar seres humanos a uma escala industrial. E nada disto ocorreu numa qualquer civilização bárbara desconhecida, nem numa qualquer longínqua “idade das trevas”. Aconteceu aqui, na nossa Europa e, há muito pouco tempo. Há pessoas dessa época, que ainda estão vivas.

Regressámos a Cracóvia em silêncio, a digerir tudo o que tínhamos visto e sentido.
































Fotos: Auschwitz (“Oświęcim”).






Cracóvia, nas margens do rio Vístula, é um centro histórico-cultural da Polónia. Fundada no ano 700, foi capital do país entre 1038 e 1569 e da “Commonwealth” Polaco-Lituana entre 1569 e 1596. Foi Cidade Livre de Cracóvia entre 1815 e 1846, constituindo, a partir daí e até 1918, o Grão Ducado de Cracóvia. Destruída pelos Mongóis em 1241, 1259 e 1287, fez parte da Áustria, de 1795 a 1809 e de 1846 a 1914. De hora a hora, um homem dá quatro voltas na torre mais alta da igreja de Santa Maria, enquanto de uma das janelas um trompetista toca o “Hejnał mariacki”, em honra do trompetista que deu o alarme da primeira invasão mongol. Conseguiu dar o alarme, mas foi abatido por uma flecha inimiga. Ao meio-dia, o “Hejnał mariacki” é também transmitido via rádio.

O Centro Histórico de Cracóvia integra o restrito clube dos mais belos centros históricos da Europa e foi inscrito pela UNESCO, em 1978, na lista do Património Mundial.

Deixámo-nos absorver pela beleza arquitectónica e história da cidade. Começámos por admirar as torres góticas, os murais e os altares da igreja de Santa Maria, que visitámos por duas vezes. Deambulámos pela Praça do Mercado Principal (a maior praça medieval da Europa), subimos à Torre da Câmara Municipal, percorremos o Mercado Renascentista dos Panos, as inúmeras ruas e ruelas, sem perder a Ulica Grodzka (uma das ruas mais antigas) e a Ulica Floriańska e o bairro judeu de Kazimierz, onde, inclusivé, almoçámos num dos pátios utilizados em 1993 para as filmagens do filme “A lista de Schindler”, de Steven Spielberg. Seguimos depois o roteiro habitual e visitamos a zona do Wawel, com a catedral e o castelo real.


































Fotos: Cracóvia.






Reservámos também meio-dia para visitar-mos as minas de sal de Wieliczka, também Património da Humanidade pela UNESCO desde 1978.

Com 327 metros de profundidade e mais de 287 quilómetros de comprimento, mantiveram-se em produção continua desde o século XIII até 2007, tendo então sido consideradas uma das mais antigas minas de sal em laboração em todo o mundo. O percurso da visita perde o conto ao número de degraus que se têm de descer e subir, assim como aos corredores e galerias escavados na rocha de sal. Inúmeras figuras esculpidas na rocha, assim como quatro capelas, tornam esta visita única. Destaque à grande capela de Santa Cunegunda, onde entre diversas esculturas feitas em sal, se destaca uma estátua do papa João Paulo II.

A lista de visitantes notáveis inclui Nicolau Copérnico (que estudou em Cracóvia, na Universidade Jaguelónica (uma das mais antigas do mundo)), Goethe, Alexander von Humboldt, Dmitri Mendeleev, Robert Baden-Powell, Karol Wojtyła (mais tarde, papa João Paulo II), Bill Clinton... e nós, claro!

Uma visita mais que recomendada! Diferente!



















Fotos: Minas de sal de Wieliczka.




De Cracóvia seguimos para Varsóvia, num misto estradas principais e secundárias, para melhor apreciarmos o país.

Acabou por ser mais uma “etapa de ligação”, com apenas metade do dia para apreciar Varsóvia, que se tornou capital da Polónia em 1596, sendo assim uma das mais jovens capitais europeias. A zona antiga foi declarada Património da Humanidade pela UNESCO e vale uma visita prolongada. Como não podia deixar de ser, também procurámos visitar, no número 16 da Ulica Freta a casa onde nasceu Maria Skłodowska-Curie..., que estava em obras.

























Fotos: Varsóvia.



Cedo e por estradinhas interiores, seguimos para Leste, quase até à Bielorússia, rumo ao Parque Natural de Białowieża que conserva o que se considera ser a última floresta primitiva da Europa e, entre outra fauna, o maior número de bisontes europeus existentes em liberdade.

À chegada, despertámos alguma admiração. Um ancião não aguentou mesmo a curiosidade e, olhando intrigado para o “P” das matrículas, perguntou aos nossos amigos se éramos da... “Prússia”! Ok! O senhor já tinha uma certa idade e muita água já tinha passado debaixo das pontes desde a Grande Guerra... Não, não éramos da Prússia. Vínhamos de “Portugal”...

- “No Verão, só vão conseguir vê-los na Reserva dos Bisontes. O Inverno está muito chuvoso e vai haver muita comida. Os bisontes vão estar sempre escondidos na floresta.”, disse-nos o responsável do “Parque Nacional de Białowieża”, quando preparávamos a visita, uns meses antes.

A dita “Reserva dos Bisontes”, integrada no parque, é apenas um conjunto de largos cercados, com vegetação natural, em que os animais se encontram. Para além de bisontes, podem-se ver alces, veados e outros cervídeos, “żubroń” (um híbrido do bisonte e da vaca, que chega a ser maior do que os bisontes!), javalis, lobos e linces, assim como exemplares de um “parente afastado” do extinto tarpã, o cavalo selvagem euro-asiático.

A floresta de Białowieża, abrangida pelo parque, é a maior floresta de planície da Europa e mantém ainda grande parte do tipo de flora primitiva, fazendo parte da Reserva da Biosfera e do Património da Humanidade, listados pela UNESCO. O “Parque Nacional de Białowieża”, fundado em 1921, é o mais antigo do país. Cobre uma área superior a cem quilómetros quadrados e estende-se entre a Polónia e a Bielorrússia. É a zona de origem do bisonte europeu, o maior mamífero terrestre do continente e símbolo do parque, albergando a maior população conhecida destes animais. Considerados extintos em 1919, no estado selvagem, o subsequente programa internacional de recuperação e reintrodução do bisonte europeu em Białowieża tem tido assinalável sucesso.

No bar do hotel, voltámos a ver bisontes, agora na versão “Żubr”, de 1768..., a cerveja local. O pessoal era simpático e ninguém se lembrava de, alguma vez, por ali ter visto veículos de matrícula portuguesa. Quando percebiam que íamos a caminho de São Petersburgo..., olhavam-nos com aquele ar condescendente de quem lamentava o encerramento do hospício lá da zona. “Just kidding”! Recebíamos sempre um sorriso de simpatia e, na recepção, lembravam-se ainda dos e-mails e telefonemas que havíamos trocado meses antes.

Tínhamos também marcado para a manhã do dia seguinte uma visita guiada à “Zona Restrita”. Trata-se da zona mais antiga e de floresta “primitiva” do parque, que só pode ser visitada com um guia autorizado. Cerca de meia centena de quilómetros quadrados de paraíso para os estudiosos da botânica. Uma autêntica “aula”, que nos foi sendo transmitida pela simpática guia, ao longo de quase uma dezena de quilómetros de trilhos. Bisontes, claro... Nem sombras! Talvez nos estivessem a mirar discretamente, por entre o arvoredo. Encontrámos depois, no National Geographic, fotografias dos trilhos que percorremos, com bisontes... Tiradas no Inverno, claro!

Aproveitámos a tarde para deambular pelas zonas de acesso livre do parque. Era Verão e os caminhos, mesmo os não asfaltados, estavam impecáveis. Sempre na senda de uma fugaz observação de um ou outro esquivo bisonte, seguimos para a parte Norte e menos visitada do parque. Subimos a um dos postos de observação, dissimulado na orla da floresta..., e ali nos deixámos ficar. O local não podia ser melhor, com vistas magníficas para a clareira pantanosa. Do outro lado, um discreto “alimentador”, pensado para os rigores da estação fria. O final da tarde aproximava-se.

- Bisontes... “0”. 

            - Mosquitos... “Googol”!


Tivemos de nos raspar dali, antes de sermos comidos vivos! Entretanto, chegava uma família, equipada a preceito e preparada para ali passar a noite! Coragem!

No meio das voltas e voltinhas, acabámos frente a um dos postos fronteiriços com a Bielorússia, país ainda pouco aberto ao turismo. Virei o “Pantera Negra” no sentido da “retirada”, saí do carro e..., discretamente, tirei uma ou outra fotografia ao edifício. Sai um indivíduo lá de dentro, entra num carro e dirige-se para as cancelas... Guardei a máquina, meti-me no carro e... ala dali para fora!

Ainda deu tempo para uma visita ao “Local da Força” (“Miejsc Mocy”), com uns quantos afloramentos rochosos “especiais” e uma anormal concentração de árvores de troncos múltiplos, bifurcados logo na base, que abrangia diferentes espécies de diferentes idades. Um local de “energia telúrica” e dado a lendas. Uma espécie de “assembleia dos Druidas” lá do sítio. Perguntámos indicações a umas senhoras que passeavam junto de um povoado. Não entendiam os mapas, mas quando lhes mostrámos a fotografia com “Miejsc Mocy”, a mais velha encostou o braço à janela aberta do “Pantera Negra” e, no seu melhor polaco, desatou a explicar-nos o trajecto. E fazia-o com tanto empenho e dedicação, que até dava gosto! Nós, muito atentos..., lá tentávamos descortinar nas suas palavras, lábios e gestos, o nome de alguma referência ou de algum povoado que tivéssemos visto (detectámos um, que tínhamos acabado de atravessar!), ou de alguma indicação de direcção. Entretanto, a esforçada senhora começou a tentar descrever-nos qualquer coisa grande... Uma “praça”? Um “edifício”? Uma “torre”?... pensávamos nós. Por fim, tocou com a mão repetidamente no tablier e disse “Benzina!”, “Benzina!”... Ah! “As bombas de gasolina”! Exclamámos os três em uníssono! Estávamos no bom caminho. Cinco estrelas, estes polacos da Białowieża!












Fotos: Białowieża.
















































Fotos: Białowieża - Parque Natural de Białowieża.







Fotos: Białowieża - Parque Natural de Białowieża (Fonte: INTERNET).






Mais um dia e lançámos um último olhar de saudade a Białowieża. Rumámos a Noroeste, de novo pelas estradinhas interiores, rumo a Suchowola, o “Centro Geográfico da Europa”. No autocolante do “Pantera Negra” com “O ‘centro’ e os ‘quatro cantos’ da Europa continental”, só já ficam em falta os Montes Urais! A seu tempo...

Na praça, junto da igreja, existe um pequeno monumento alusivo ao tema. Como toda a Polónia, Suchowola e a sua comunidade judaica sofreram também os horrores da ocupação Nazi. Estranhamente, nos nossos guias da American Express e da Lonely Planet não existiam quaisquer referências a Suchowola... Valeu o “São Google” e a Internet, onde as coordenadas do outro “Centro Geográfico da Europa”, mais próximo de Vilnius, até estavam erradas! Já lá não fomos.

No início do último quartel do século XVIII, em 1775, o astrónomo real Szymon Sobiekrajski calculou a posição do “Centro Geográfico da Europa” como estando situado na povoação de Suchowola ( 53°34'00”N // 23°06'00”E ), na região de Białystok, na Polónia... A verdade, é que não é pacífica a definição de quais os melhores critérios para a determinação do dito “Centro Geográfico da Europa”, existindo mais de uma dúzia de pontos que se reclamam como sendo o verdadeiro "Centro", nos territórios da Lituânia, Polónia, Áustria, Alemanha, Eslovénia, República Checa, Eslováquia, Roménia, Ucrânia e Bielorrússia...










Fotos: Suchowola - "Centro Geográfico da Europa".







Foto: Os extremos e o centro da Europa...









Fotos: Augustow.



Seguimos viagem por estradas secundárias, desfrutando do “país profundo”. O destino do dia já se encontrava para lá da fronteira. Vilnius, capital da Lituânia, já não estava longe.

Entrávamos assim nos três Estados do Báltico, a Lituânia e a Letónia (com maior afinidade cultural e linguística entre si) e a Estónia (com maior afinidade cultural e linguística com a Finlândia e a Lapónia). Com histórias diferentes, ricas e agitadas, onde se cruzam as várias influências ao longo dos séculos, os três países integram hoje a União Europeia e a NATO, depois de décadas muito complicadas sob ocupação soviética, que perdurou até 1991. As últimas duas décadas trouxeram um assinalável desenvolvimento, com indicadores como o “PIB per capita” e o “Índice de Gini” a aproximarem-se (dados do ano anterior), dos correspondentes de países como Portugal. De qualquer das formas, percorrendo estes países, nota-se que as feridas deixadas pela ocupação ainda estão bem visíveis e existe todo um longo caminho de evolução pela frente... que está a ser trilhado.

Existem “Museus da ocupação soviética” um pouco por todo lado, que não chegámos a visitar.

Também não já não tivemos oportunidade de visitar o Rïgas Motormuzejs, que me havia sido recomendado pelo Alexandre Correia (da revista “Todo-Terreno”), talvez o mais completo museu automóvel do leste europeu. Entre vários “tesouros”, este museu tem o que consta ser o único Auto Union V16 Type D (de 1938) sobrevivente. No final da II Guerra Mundial, o “Exército Vermelho” levou o veículo para Moscovo. Perdeu-se-lhe o rasto, mas, em 1976, estava na fábrica ZIL... destinado para abate. Foi então adquirido por Victors Kulbergs, presidente do Clube de Automóveis Antigos da Letónia, para integrar o respectivo museu. Nos anos noventa a Audi terá adquirido o veículo, entregando também uma réplica exacta... Hoje, há quem “jure a pés juntos” que a réplica está na Alemanha e o original em Rïga, precisamente no Rïgas Motormuzejs...

Ficou para uma próxima visita. Afinal, já tinha tido o meu museu automóvel..., em Mulhouse.

Com o adiamento sine die daquela ideia inicial de entrarmos de carro nos territórios da Rússia (pela fronteira de Narva – Ivangorod), adiámos também a visita ao Nordeste e às áreas de florestas ainda intocadas, onde se encontram centenas de ursos pardos, para além de alces, veados, lobos e linces. Seguimos de Rïga pela estrada costeira até à fronteira com a Estónia e daí, rumámos directamente a Tallinn. Tirando uma centena de quilómetros junto a Vilnius, as auto-estradas ainda não chegaram aos Estados Bálticos. Todo o intenso tráfego rodoviário entre as três capitais é feito por estradas..., nem sempre boas. Para minimizar o impacto, havíamos planeado atravessar estes Estados no fim-de-semana, o que se revelou uma decisão acertada. Uma palavra de especial apreço para a generalidade dos camionistas, que sistematicamente nos facilitaram as ultrapassagens.

Do (sempre pouco) que vimos dos três Estados, gostámos particularmente da Estónia e da sua capital, Tallinn, uma das cidades muradas medievais mais bem preservadas da Europa. As três capitais têm apostado com sucesso no sector das novas tecnologias como alavanca de desenvolvimento. Tallinn, contudo, consegue cativar mais o visitante. Um misto de riqueza histórica, equilíbrio na preservação, organização e dinamismo, limpeza e cosmopolitismo, destacam-na positivamente.

Comme d’habitude, seguimos os guias de viagem e as sugestões que trazíamos, e desfrutámos do ambiente, da cultura, dos monumentos, das ruas e ruelas, dos castelos e muralhas, das igrejas e catedrais, da gastronomia... Comprovámos in loco que a cerveja artesanal com mel do “Olde Hansa” (uma das inúmeras sugestões que trazíamos para esta viagem) era a melhor que alguma vez tínhamos degustado... Degustado, “à la” Leste europeu, claro! Em canecas de barro com um litro...


















Fotos: Vilnius.

















Fotos: Rïga.















































Fotos: Tallinn.


















Segunda etapa, São Petersburgo
– Para muitos, o melhor da terra dos Czars –






Com a falência da Estonian Air (um cenário idêntico ao que teria acontecido com a TAP, se não tivesse sido reprivatizada), o tema dos voos directos entre Tallinn e São Petersburgo continuou sem solução. Mantivemos a melhor opção de recurso, com voos da Baltic Air... via Rïga.

Fundada pelo Czar Pedro (“O Grande”) em 1703, São Petersburgo foi capital da “Rússia Imperial” entre 1713 e 1728, e entre 1732 e 1918. Continua a ser a sua capital cultural e o seu centro histórico faz parte da lista de Património da Humanidade da UNESCO.

Havíamos também contratado, via ClickViagens, uma visita guiada ao Museu Hermitage, um dos maiores e mais completos museus do mundo, com um acervo de mais de três milhões de peças. Acertada decisão pois, para além de termos passado ao lado das filas para compra de bilhetes, foi-nos proporcionada uma visita detalhada, super bem explicada e com acesso à zona restrita do Tesouro Imperial (com uma guia adicional só dedicada ao tema). Uma autêntica aula de dia inteiro. Acabámos, já no final da tarde, num lanche ajantarado com o guia. Um indivíduo “cinco estrelas”, inteligente e um “poço de sabedoria”, não só sobre o museu, mas também sobre temas relacionados, como São Petersburgo e a Rússia, e outros da senda internacional. Foi um gosto e um privilégio termos um guia destes!

Dito isto, claro que um museu como o Hermitage não se esgota num dia..., nem numa semana! Muito menos São Petersburgo se esgota nos parcos “dois dias e picos” que lhe dedicámos...

Sem stresses, e seguindo o “trabalho de casa”, procurámos aproveitar bem o tempo para deambular pela cidade e apreciar alguns dos seus pontos mais emblemáticos, de praças, ruas e pontes, a mercados, fortificações, igrejas e catedrais, sem perdermos a tradição de treparmos os degraus de campanários e miradouros!

Também embarcámos no “hydrofoil” para uma agradável viagem costeira de meia hora até ao Palácio Peterhof, uma espécie de “Versailles da Rússia”. Mais do que o seu interior, o seu canal marítimo, os seus jardins e cascatas, com especial destaque para a “Grande Cascata”, são obras absolutamente únicas.


















Fotos: São Petersburgo - Museu Hermitage.




































Fotos: São Petersburgo.




















Fotos: São Petersburgo - Palácio Peterhof.















Terceira etapa, de Tallinn a Abrantes
– Atravessar meia Europa no regresso ao "centro do mundo" –







Regressados a Tallinn ao início da manhã, ainda tivemos tempos para mais umas voltas pela cidade, pois o ferry-boat da Talink Silja, “MS-Victoria I”, para Estocolmo só partia ao final da tarde. Mais uma vez e sinais dos tempos, controlos policiais mais apertados, face ao que nos habituámos a ver em viagens anteriores. Mas nada nos perguntaram, nem mandaram parar. Devemos ter um ar de doidos simpáticos e inofensivos...

Noite a bordo (o ferry-boat faz uma escala noturna nas ilhas Åland) e travessia magistral, ao início da manhã, do dédalo de ilhas e ilhotas que, por setenta quilómetros, rodeiam Estocolmo. A maioria das pessoas que apenas chega e parte de Estocolmo por via aérea, perde uma experiência magnífica.










Fotos: Ligação de Tallinn a Estocolmo, via ferry-boat "MS-Victoria I".



A capital sueca estende-se por catorze ilhas, ligadas por inúmeras pontes e carreiras de barcos e ferry-boats. Tal como havíamos constatado em viagens anteriores pelos países da Escandinávia, tudo funciona, bem e a horas.

Procurámos optimizar o dia, desfrutando de Estocolmo. Incluímos também uma visita imperdível ao museu Vasa. Construído no reinado de Gustavo Adolfo II, o “Vasa” era um dos navios mais bem armados e esplendidamente decorados do seu tempo. Um vector de “projecção de poder”, crucial para os tempos conturbados que então se viviam. Contudo, mal calculado e com insuficiente lastro, naufragou na sua viagem inaugural, a 10 de Agosto de 1628, à vista do porto.

Foi relocalizado e recuperado três séculos depois, em 1961, com o casco quase intacto. Restaurado (de um ponto de vista museológico), foi transferido para o Museu Vasa em 1987, sendo, desde então, uma das maiores atracções da Suécia, oferecendo uma perspectiva única do país no início do século XVII.

Estar em Estocolmo e não desfrutar de um jantar no Gondolen, com uma das melhores vistas de final de dia sobre a cidade e os canais, seria imperdoável. Mais um “visto” na lista de sugestões que levávamos.






























Fotos: Estocolmo.
















Fotos: Estocolmo - Museu Vasa.





O dia seguinte foi de ligação calma a Copenhaga, atravessando todo o Sul da Suécia, com paragens maiores no lago Vättern e em Malmö.

Atravessamos de Malmö para Copenhaga pela nova "ponte - túnel" que atravessa o golfo de Öresund e que retirou muita da pujança económica a Malmö, anterior centro nevrálgico das ligações marítimas com Copenhaga. A ponte-túnel de Öresund (ou Øresund, do lado dinamarquês) abriu ao público em 2000 e atravessa o estreito de Öresund, ligando Malmö a Copenhaga e permitindo a circulação rodoviária e ferroviária. São oito quilómetros de ponte, entre Malmö e a ilha artificial de Peberholm, seguindo depois por quatro quilómetros de tunel (o tunel Drogden) até à ilha de Amager, já na Dinamarca. Por aqui passam também os cabos do backbone da transmissão de dados entre a Europa Central e a Suécia e a Finlândia.

Tinham-nos alertado na embaixada para, dadas as circunstâncias actuais, contarmos com eventuais demoras devido a controlos policiais. Mas estava tudo normal.












Fotos: Malmö.










Fotos: Ponte-túnel de Öresund (ou Øresund, do lado dinamarquês). A primeira fotografia foi retirada da INTERNET.





No dia da chegada, fomos recebidos em Copenhaga por uma daquelas “paradas” / “festas” / “encontros”... ou o que se lhe queira chamar, da comunidade “gay”, em plena Praça do Município lá do burgo. Nunca tinha visto tanta sujeira e tanto lixo numa zona nobre de uma capital. Uma vergonha! No dia seguinte ao início da tarde, as equipas de limpeza (do Estado, claro!) ainda andavam a tentar limpar a praça e a devolver um pouco de dignidade ao local. Enfim, falta de bom senso na escolha dos locais de festejos. De notar que Copenhaga já foi, em tempos, considerada pelos turistas como “a cidade mais limpa da Europa”!

Só dois dias depois (era fim-de-semana) conseguimos entrar no belo edifício da “Câmara Municipal” para apreciarmos o Relógio Astronómico de Jens Olsen, que entrou ao serviço em 1955. Trata-se de um completo relógio totalmente mecânico, de doze movimentos que, entre outras informações e para além das “horas”, apresenta os eclipses lunares e solares, posições de corpos celestes e calendário perpétuo.

Tal como a grande maioria destas capitais europeias cheias de história, Copenhaga é uma cidade para se apreciar a pé, com a maioria dos seus locais mais emblemáticos a curta distância uns dos outros.

Só tinha estado em Copenhaga uma vez, no início dos anos noventa, em trabalho. Na altura pouco tinha podido apreciar da cidade, já então pejada de turistas asiáticos. Lembro-me de ter dado “uma fugida” até à “Pequena Sereia” e só ter conseguido tirar uma fotografia “à queima-roupa”, com gente à volta, naquela fracção de tempo que medeia entre o regresso de uma horda de turistas aos autocarros..., e o despejar de outra horda por outros autocarros!

Tinha gostado da cidade e “publicitei-a” junto da família! Valeu a pena. Continua uma cidade muito agradável e bem organizada. De novo pegámos nos “trabalhos de casa” e deixámo-nos embalar por ruas e ruelas, bairros históricos, igrejas, catedrais, palácios, jardins e porto, muito especialmente a zona do “Nyhavn” (o “Porto Novo”), provavelmente a área mais fotografada de toda a Dinamarca! Imperdível também, foi um passeio de barco pelos canais. 


Noblesse oblige, um final de dia no Parque Tivoli é absolutamente imprescindível, assim como uma voltinha na mais antiga montanha russa do mundo.

O Parque Tivoli foi inaugurado em 1843, reclamando o título de segundo parque de diversões mais antigo do mundo. O Parque Pratter, de Viena de Áustria, inaugurado em 1766 (e que também visitámos, em 2013), é considerado por muitos como sendo o parque de diversões mais antigo... Tudo errado! O parque de diversões mais antigo do mundo é o Parque Dyrehavsbakken, inaugurado em 1583. Fica nos arredores de Copenhaga, um pouco a Norte... Numa próxima visita, vamos lá.


No domingo era dia de “KMD IRONMAN Copenhagen 2016”. Eram “apenas” 3,8 km a nadar, mais 180 km em bicicleta, mais uma maratona..., percorrendo os pontos mais emblemáticos da cidade e zonas envolventes. Eu, que já vejo o Triatlo “normal” como uma coisa para gentes do Olimpo, nem me atrevo a tecer comentários sobre as provas do IronMan! Espetacular!

Falhámos o “Noma” pois, quando tentámos fazer as reservas, apesar da antecedência, já se encontrava esgotado para estes dias. Ficou em “agenda potencial”...
























































Fotos: Copenhaga.




De certa forma, iniciávamos aqui aquela parte das viagens... que já soam ao final. Os trajectos já eram, na sua maioria, conhecidos.

Rumámos pois a Bruxelas, onde ficámos duas noites, com uma pernoita em Bremen, que já conhecíamos da nossa viagem ao Cabo Norte, em 2011.

Chegámos a Bruxelas depois de almoço e, noblesse oblige, iniciámos a visita pelo Atomium, construído para a Feira Mundial de Bruxelas de 1958. Representa um cristal de ferro e, se por um lado, a obra faz jus ao entusiasmo que então se vivia no domínio do nuclear, por outro, ilustra uma matéria que não serve para combustível nuclear.

Seguimos para o centro e comprovámos o que já sabíamos sobre um certo modus operandi muito belga... Obras em todo o lado, ao mesmo tempo... e que duram, duram... Trânsito caótico (para os padrões europeus, claro). Soou-nos a familiar!

Os episódios de segurança dos últimos tempos tiveram o seu impacto no turismo. Menos gente. Mais polícia visível e o próprio exército nas ruas.

Com uma história milenar, Bruxelas é hoje, mais do que a capital da Bélgica, a capital da União Europeia e um importante centro da política internacional. A partir do final da Segunda Guerra Mundial, várias instituições europeias, assim como a NATO, estabeleceram as suas sedes na cidade.

De per se, e conseguindo acertar em dias sem chuva..., a cidade é magnífica, com muito que ver e desfrutar. Fizemos, claro, o roteiro do turista, apreciando todas as zonas e monumentos mais emblemáticos. Isto, sem deixarmos por mãos alheias o profundo estudo das artes chocolateira e cervejeira belgas! Um paraíso!

Chegámos a Bruxelas duas semanas depois do “20ème Tapis de Fleurs” na Grand-Place. O dom da ubiquidade ainda não é o nosso forte e tivemos de deixar cair este evento quando estávamos a planear a viagem. Desde há duas décadas que em Agosto, com uma periodicidade bianual, a Grand-Place é adornada com um imenso tapete de flores. Este ano o tema tinha sido influenciado pela comemoração do 150º aniversário do estabelecimento das relações de amizade e diplomáticas com o Japão. Em 2018 haverá mais, entre 16 e 19 de Agosto! De qualquer das formas, a Grand-Place é absolutamente magnífica. Faz parte da lista de Património Mundial, da UNESCO e Victor Hugo considerou-a a mais bela praça do mundo.

Apreciadores de música, não podíamos perder uma visita ao “MIM – Musée des Instruments de Musique”, criado em 1877. O seu acervo inclui uma das maiores e mais completas colecções de instrumentos musicais de todo o mundo. Depois... Bem, depois é possível ouvir peças tocadas pelos instrumentos expostos. Fabuloso!

Um referência também ao famoso Manneken Pis... Obrigatória a visita, embora para o “turista normal” seja um mistério o motivo de toda aquela fama. Escarafunchando na história, tudo está envolto em névoa e fantasia. Mas parece que a estátua original (a que está exposta é uma réplica), de 1619, ali teria sido colocada para, de uma forma irónica, alertar para a escassez de água potável... Os belgas, contudo, gostam mais da versão que alude ao militar do século XII que, em plena batalha, não se coibiu de se “aliviar” junto a uma árvore, numa demonstração de enorme coragem... Ok! Entretanto, criou-se o hábito de vestir a estátua (já teve, inclusive, um fato típico do Minho). Gostamos mais da versão “original”, sem roupagens.

























































Fotos: Bruxelas.



















Fotos: Bruxelas - "MIM - Musée des Instruments de Musique".





Os dois últimos dias foram, essencialmente, dias de ligação calma a Abrantes, com pernoitas em cidades já nossas conhecidas, Poitiers e Burgos. Sempre encantadoras e a enriquecerem os nossos finais de tarde, estas duas cidades.

Terra de importantes batalhas que muito influenciaram o futuro da França, a cidade de Poitiers passa despercebida ao viajante apressado, quase só se fazendo notar pelo seu moderno “Futuroscope”. Vale a pena subir à cidade e apreciar todo o seu centro histórico repleto de arte romana, destacando-se a igreja de Notre-Dame-la-Grande (séculos XI e XII). É, também, a terceira cidade francesa em número de órgãos acústicos. Visitá-mo-la em plena aula de música em órgão acústico! Vale a pena!

A terra de El Cid Campeador é uma nossa paragem habitual, mas nunca ali tínhamos pernoitado. A cidade é plena de arte gótica e sua imponente catedral integra da lista de Património da Humanidade, da UNESCO. Já tínhamos visitado a catedral em viagens anteriores pelo que, desta vez, nos limitámos a deambular pela zona antiga e a desfrutar calmamente da cidade. Sem esquecer que em 2013, Burgos foi nomeada a “Capital da Gastronomia Espanhola”! Pedia uma estadia mais prolongada!

Com a viagem deste ano acrescentámos mais uns quantos países ao curriculum vitæ do “Pantera Negra”, em 22 anos e 340000 km de bons e fiéis serviços… Portugal de lés a lés, Alemanha, Áustria, Bélgica, Croácia, Dinamarca, Eslováquia, Eslovénia, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Grão-Ducado do Luxemburgo, Holanda, Hungria, Itália, Islândia, Letónia, Lituânia, Marrocos, Noruega, Polónia, Principado de Andorra, Principado do Liechtenstein, Principado do Mónaco, Reino Unido (+ Gibraltar + ilhas Hébridas), República Checa, Suécia, Suíça… Há que actualizar o autocolante!
:-)






















Fotos: Poitiers.











Fotos: Burgos.










Foto: Vinte e nove países já visitados a bordo do "Pantera Negra".







Dizem que as viagens se gozam pelo menos por três vezes… Quando se planeiam e preparam… Quando se realizam… E, de todas as vezes que se recordam!



Спасибо !







Luís de Matos
(Setembro de 2016)