sábado, 23 de maio de 2009

Côte D’Azur e “arredores” - Páscoa de 2009

Texto e fotos: Luís de Matos

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Foto 01: O trajecto.


Não! Desta vez nenhum de nós foi cruzar montanhas por picadas à beira do precipício, nem foi necessário baixar pressões nos pneus para não atolar nas areias, nem tão pouco abençoar o snorkel com a água a passar por cima do capôt... E também não havia ursos nem lobos à solta na cordilheira, nem serpentes e escorpiões à espreita! Este ano optou-se por uma volta diferente, mais "chique"... e envolvendo toda a família.



Foto 02: Bilbau - Guggenheim



Foto 03: Bilbau - Guggenheim.

Com algum pequeno planeamento (especialmente com crianças, é imprescindível), fizemos um pequeno périplo por Espanha, França, Principado do Mónaco e Itália, "à moda antiga", quer dizer, de carro. De carro não, de Land Rover! Embora que, neste caso concreto, pouco se tenham "sujados os pneus"... Noutros tempos, ter-se-ia ido em VW "pão de forma", mas agora até os homens já usam cabelo curto!


Foto 04: Bilbau - Guggenheim.

Foto 05: Área de serviço nos Pirinéus franceses.

Mantivémo-nos assim em zonas mais "preenchidas"..., o que não evitou que quase tivéssemos sido assaltados ao final do dia numa zona mais remota, lindíssima, do parque natural das gargantas do Verdon! Foi só o tempo de saltar para dentro do veículo, trancar as portas e arrancar, já com quatro pares de mãos "indevidas", a tocar as fechaduras... Deu para o susto. Afinal, a tal outra “bicharada”, que não a constituída pelos ditos homo sapiens sapiens, até é bem mais previsível!


Foto 06: Toulouse - Cité de l'Espace.


Foto 07: Toulouse - Cité de l'Espace.

Foram nove dias e “picos” (a encaixar bem a Semana Santa!), com 4.700 km e 530 l de gasóleo de permeio (os incontáveis quilómetros que fizemos a pé e de combóio não estão incluídos...). Se se sair e regressar dos (aos) arredores de Abrantes (e.g., de Lisboa), acrescentem-se uns 300 km... Não perdemos sequer uma sugestão de almoço em Saint Tropez, no "Le Club 55" (excelente!), onde o nosso venerável Range Rover Classic com 15 anos e quase 240.000 km até fez boa figura ao lado de um Bugatti Type 57 Atalante de 1936 e de um Rolls Royce Corniche de 1972..., restaurados a rigor.



Foto 08: Toulouse - Cité de l'Espace.



Foto 09: Cannes - Carlton :-).

Privilegiámos os trajectos de ligação em auto-estrada, com todas as paragens "regulamentares" e mantendo velocidades na casa dos 120 km/h. A ligação mais longa, entre Biarritz e Abrantes, foi de 850 km. Fez-se bastante bem, inclusive com margem para etapas bem maiores, se fosse necessário. Noblesse oblige, os bons e fieis mapas Michelin têm lugar cativo a bordo do Range Rover (que já ostenta as bandeiras de Portugal, Espanha, Grã-Bretanha, Marrocos, França, Principado do Mónaco e Itália no "CV"...). Mas devo dizer que os softwares da Tom Tom e da OziExplorer, com os mapas devidamente actualizados, atingiram um nível de eficácia absolutamente fenomenal! Claro que também demos por nós numas quantas estradas “novas” que ainda não se encontravam cartografadas...


Foto 10: Cannes.



Foto 11: Cap d'Antibes.

Recomenda-se vivamente todo o trajecto! Talvez evitar apenas fazê-lo na época estival, pois aí o carro muito provavelmente só precisará da primeira velocidade em toda a Côte D'Azur... O período de Páscoa, tanto em termos climatéricos, como de afluência de gente, revelou-se ideal (com menos nuvens a toldar os céus e a permitir fotografias decentes ainda seria melhor!). Além do mais, já se estava na "hora de Verão", o que prolongava a luz do dia para lá das 20h00... Os parques naturais que percorremos, quer o das "Cinque Terre" em Itália, quer o das "Gorges du Verdon" em França são absolutamente imperdíveis e, de per se, valem a viagem. Não conhecía-mos ainda a zona da Côte D'Azur. É, de facto, divinal e percebe-se porque há gente que se sente "motivada" a residir, por exemplo, no Mónaco... Na "Cité de l'Espace", em Toulouse, não sei quem é que se diverte e aprende mais, se os miúdos, se os graúdos! Nîmes mantém um admiravelmente bem conservado conjunto de edifícios da época romana. Quanto ao "Guggenheim" de Bilbau, dispensa apresentações. Fenomenal! Também impressiona o que se conseguiu fazer de uma cidade industrial, suja e feia, tornando-a em algo de bonito e apetecível. No regresso impõe-se, naturalmente, uma visita à catedral de Burgos... Magnífica!



Foto 12: Ville Franche sur Mer.



Foto 13: Ville Franche sur Mer.

Ficamos sempre encantados com aquelas cidades que conseguiram emergir dos tempos industriais e até algo sujos, para um explendor harmonioso e cativante. É assim Bilbau! Que o exemplo seja seguido aqui no nosso pequeno rectângulo, muito especialmente por aquelas cidades, vilas e aldeias que têm a sorte de ser "ribeirinhas". O Museu Guggenheim de Bilbau é um dos cinco museus pertencentes à Fundação Solomon Guggenheim no mundo. Projectado pelo arquitecto norte-americano Frank Gehry, é hoje um dos locais mais visitados da Espanha. O seu projecto foi parte de um esforço para revitalizar Bilbau e recebe visitantes de todo o mundo. Externamente, o museu é coberto por superfícies de titânio curvadas em vários pontos, que lembram escamas de um peixe, mostrando a influência das formas orgânicas presentes em muitos trabalhos de Frank Gehry. Do átrio central, que tem 50 metros de altura e lembra uma flor cheia de curvas, partem passereles para os três níveis de galerias. Visto do rio, o edifício parece ter a forma de um barco, homenageando a cidade portuária de Bilbau.



Foto 15: Ville Franche sur Mer e S. Jean de Cap Ferrat.



Foto 16: Mónaco.

Cai Guo-Qiang é um dos mais importantes artistas plásticos orientais da actualidade. O artista, que foi responsável pelos fogos de artifício das Olimpíadas de Pequim, expõe uma parte significativa da sua obra nas galerias de exposições temporárias do Guggenheim. Impressionou ao usar pólvora nas suas obras e a sua participação nos efeitos especiais e visuais dos Jogos Olímpicos de Pequim foi um dos trabalhos mais louvados do evento. Depois de fazer sucesso no Museu Guggenheim de Nova Iorque, onde foi o espectáculo de arte visual mais visitado, e no Museu Nacional de Arte da China, em Pequim, Cai Guo-Qiang chega agora à Europa, estando o seu trabalho em exposição no Museu Guggenheim de Bilbao, até Setembro de 2009. A pólvora – em chinês, literalmente, “medicina de fogo” – é uma das invenções mais célebres da China. Cai Guo-Qiang usa a pólvora, que espalha em lenços brancos e sobre óleos em figuras representativas, que acabam dando lugar a outros quadros mais abstratos devido ao impacto da explosão, que deixa áreas enegrecidas e restos de papel calcinado. Estranho e imperdível.



Foto 17: Mónaco.




Foto 18: Mónaco.

Apanhámos também a retrospectiva mais importante, até à data, dedicada ao japonês Takashi Murakami, um dos artistas asiáticos contemporâneos mais célebres e aclamados. Esta mostra, organizada pelo Museum of Contemporary Art de Los Angeles, ocupa integralmente o terceiro piso do museu e permite fazer uma leitura inédita do "transgressor" projecto artístico do artista nipónico. Com uma selecção completa de mais de 90 obras em meios distintos como a pintura, escultura, design industrial, animação e moda, a exposição, revela o universo particular deste artista, desde os seus primeiros trabalhos da década de 90, nos quais explora a sua própria identidade, até às suas esculturas de grande escala criadas a partir de 2000, autênticos ícones do artista, finalizando com a sua galeria de objectos manufacturados, os seus projectos de animação, a sua relação com o mundo da moda e os seus fascinantes trabalhos dos últimos anos.



Foto 19: Mónaco - Bugatti Type 35 :-).



Foto 20: Mónaco - Instituto oceanográfico.

Infelizmente, não é permitido fotografar no interior do Museu Guggenheim…



Foto 21: Mónaco.


Foto 22: Mónaco.

De alma lavada por tamanhas manifestações artísticas, rumámos até Toulouse, não tanto para visitar a cidade, nem seguir passo a passo o inesquecível canal do Midi (acho que ainda um dia vou percorrer aquele canal, mas de barco…), mas para desfrutar do parque temático “Cité de l’Espace”.


Foto 23: Mónaco.



Foto 24: Mónaco.


Quando deambulo em viagem com a família, embora sem entrar em exageros despezistas, procuro que a hotelaria escolhida tenha uma razoável qualidade e uns quantos confortos. Dou-me ao trabalho de especificar à agência de viagens exactamente o que se pretende, as vistas, etc. Bem. Não sei quais confusões fez a agência, que baralhou o nome e morada do hotel… Fomos pelo nome. Era um hotel mais orientado para fins muito… específicos… A julgar pela “fauna”, com um dos “exemplares” a fumar um cigarrinho cá fora, por certo no intervalo das “actividades”… Não havia ninguém na recepção… Mas havia uma máquina automática de dispensa, mediante cartão de crédito, de códigos de acesso aos quartos… Perfeito, para quem se quer pautar pela “discrição”… Não era o caso! Rumámos então ao outro hotel, o que tinha a morada correcta, mas o nome errado. O aspecto era ligeiramente melhor e, pelo menos, a “fauna” já incluía famílias com crianças que iriam visitar o parque… Ah! E tinha uma pessoa na exígua recepção, onde até o computador e a televisão tinham barras metálicas a proteger de roubo! Claro que o nosso nome não constava (nem no outro hotel, que era da mesma cadeia…). Claro que tivemos de pagar a estadia que já tínhamos pago (e de que tínhamos os comprovativos). Claro que o quarto era uma… Claro que o pequeno almoço também deixava bastante a desejar… Enfim… Íamos visitar a “Cité de l’Éspace” e a vida dos astronautas também não é fácil, nem cómoda!



Foto 25: Mónaco.



Foto 26: Mónaco.

A “Cité de l’Éspace” é um parque temático orientado para os temas do espaço e da sua conquista. Possibilita-nos a visita a modelos à escala real do foguetão Ariane 5 (com 55 m de altura), à estação especial MIR e aos módulos Soyuz. O planetário, de quase três centenas de lugares, é um dos mais completos da Europa. Os inúmeros espaços multimédia, painéis e exposições, algumas interactivas, proporcionam uma jornada única de aprendizagem e lazer, para toda a família.



Foto 27: Mónaco.

Foto 28: Parque natural das cinco terras - Monterosso al Mare.

Escusado será dizer, que o plano inicial de despender dois dias em Toulouse, depois do desagrado da noite, foi devidamente abreviado e, a meio da tarde, demandámos Cannes, não sem uma fugaz passagem por Carcassome. Lindíssima!



Foto 29: Parque natural das cinco terras - Riomaggiore.



Foto 30: Parque natural das cinco terras - Riomaggiore.

Cannes foi a nossa base nos dias seguintes. Uma excelente escolha, diga-se de passagem! Um banhozinho de glamour sabe sempre bem, mesmo adoptando uma postura mais discreta, num meio habituado às extravagantes exuberâncias do estrelato cinematográfico e empresarial. A principal actividade de Cannes é o turismo. Existem diversos hotéis (ficámos num mesmo de frente à Croissette, que até servia os deliciosos pequenos almoços na praia…) e lojas de luxo na cidade (um perigo autêntico, quando levamos senhoras!). À beira-mar, a sua célebre avenida Croisette é um dos principais pontos turísticos, bem como as ilhas Lérins, ao largo da costa e que fazem parte da cidade. Na região em torno de Cannes desenvolveu-se um pólo de alta tecnologia. A “tecnopolis” de Sophia-Antipolis situa-se nas colinas ao lado de Cannes. Acho que aqueles meus velhos planos de um “loooongo” doutoramento em Sophia-Antipolis… Adiante! Todos os anos ocorre em Cannes o mais célebre festival de cinema do mundo, o Festival de Cannes. Os preparativos já se faziam notar e troços inteiros de grandes avenidas eram repavimentados, literalmente, da noite para o dia. Poder autárquico e Instituto das Estradas de Portugal, esta foi para “vossemecês”…



Foto 31: Parque natural das cinco terras - Riomaggiore.


Foto 32: Parque natural das cinco terras - Riomaggiore.


Não estabelecemos nenhum “plano” de visitas à zona. Simplesmente, deixámo-nos ir e desfrutámos do ambiente único, das gentes, dos locais, da gastronomia, dos perfumes, da luminosidade, das cores, da cultura e tudo o mais que conseguimos captar e absorver. Deambulámos por todas as “Corniche” e mais algumas, por Cap D’Antibes, Antibes, Ville Franche sur Mer, Cap Ferrat, Beauliex sur Mer, Eve e, claro está, o Mónaco. Mais do que todo o ambiente único do Principado, enche-nos a retina, ao dobrar a última curva do “caminho dos pescadores”, a imponente fachada do Instituto Oceanográfico. A não perder, de todo!



Foto 33: Parque natural das cinco terras.



Foto 34: Parque natural das cinco terras.

Já que “pedra que rola não cria musgo”, resolvemos “não criar musgo” e também “dar um saltinho” até ao Parque Natural das Cinco Terras, algures entre Génova e Roma. “Cinque Terre” foi o nome dado a uma acidentada faixa de território costeiro na Riviera da Ligúria. Situa-se entre Punta Mesco, próximo de Levanto, e o Cabo de Montenero, próximo de Porto Venere e compreende as comunas de Monterosso al Mare, Vernazza e Riomaggiore, com os distritos de Corniglia e Manarola. Estas localidades, juntamente com Porto Venere e as ilhas de Palmaria, ilha de Tino e Tinetto, foram declaradas em 1997 Património da Humanidade pela UNESCO.


Foto 35: Parque natural das cinco terras - Manarola.



Foto 36: Parque natural das cinco terras - Manarola.

A ligação mais directa entre as cinco povoações é feita por mar, por comboio ou a pé. Deixámos pois o “Pantera” num imenso parque, organizado “à italiana”, em Monterrosso Al Mare (a menos bonita das povoações…) e preparámo-nos para o trajecto pedestre, ao longo de um trilho construído nas arribas, entre as “Cinque Terre”, a chamada “via dell’amore”. São cerca de meia dúzia de horas… Ainda não tínhamos chegado a Vernazza e o trajecto estava bloqueado. Tinha havido um aluimento de rochas… Nenhuma placa a indicar, claro! Afinal, estamos em Itália… Toca de regressar a Monterrosso Al Mare e apanhar o comboio até Riomaggiori. Quem disser que os comboios portugueses são sujos, nunca saiu do país! De Riomaggiori seguimos o trilho da falésia até Manarola, provavelmente a povoação mais bonita, e daí até… não muito mais, pois o trilho estava cortado entre Manarola e Corniglia por mais uma derrocada… Independentemente dos “acidentes de percurso” na tal “via dell’amore”, esta zona costeira é de uma beleza ímpar e vale bem os quase oitocentos quilómetros, ida e volta, até Cannes.



Foto 37: Parque natural das cinco terras - Manarola.


Foto 38: Parque natural das cinco terras - Vernazza.

Próxima etapa. O Parque Natural das Gargantas do Verdon, na zona mais selvagem de França, não sem uma passagem pela “Pátria dos Perfumes”, Grasse! Aqui, inventem qualquer coisa e não deixem as senhoras sair dos carros durante muito tempo… Uma nota para a simpatia do franceses. Atestei o depósito em Grasse e seguimos calmamente viagem. Passado pouco tempo, tinha carros a fazerem-me sinais de luzes... "Devem ser portuguese e cheios de pressa!", pensava com os meus botões... Com a insistência, resolvi dar-lhes o "benefício da dúvida", parar e ver se havia alguma coisa de errado connosco... Tinha deixado a tampa do depósito aberta! Merci mes amis!



Foto 39: Parque natural das gargantas do Verdon.


Foto 40: Parque natural das gargantas do Verdon.

As "Gorges du Verdon", no sudeste da França (Alpes-de-Haute-Provence), são um desfiladeiro considerado por muitos o mais belo da Europa. É o segundo maior desfiladeiro do mundo, com cerca de 25 km de comprimento e até 700 m de profundidade, ficando somente atrás (a anos-luz…) do “Grand Canyon” no Colorado. Foi formado pelo rio Verdon, assim chamado devido à sua surpreendente cor verde-turquesa, uma das características mais distintivas do desfiladeiro. A parte mais impressionante situa-se entre as cidades de Castellane e Moustiers de Sainte Marie, onde o rio cortou uma ravina com 700 m de profundidade através do maciço calcário. No final do desfiladeiro, o rio Verdon corre para o lago artificial de Sainte-Croix-du-Verdon, construído em 1974, “algum” tempo depois da era Terciária, em que as Gargantas do Verdon se formaram.


Foto 41: Parque natural das gargantas do Verdon.



Foto 42: Parque natural das gargantas do Verdon.

O Styx du Verdon (assim chamado em referência ao rio Styx, o rio dos infernos da mitologia grega) é como que um sub-canyon dentro do próprio desfiladeiro. Para quem se encontra no fundo do desfiladeiro esta zona é particularmente bonita e as plácidas águas do rio, de cor esmeralda brilhante, atravessam uma estreita fenda de ondulante calcário branco. O Embucq é uma espécie de funil por onde o Verdon “desaparece” na rocha do desfiladeiro. Neste ponto o desfiladeiro é extremamente estreito, cerca de 6 m, estando o topo do desfiladeiro a mais de 400 m acima do leito do rio. Após uma praia de seixos redondos, o rio literalmente desaparece na parede sob blocos de rocha imensos, voltando à luz do dia umas centenas de metros mais a jusante!


Foto 43: Parque natural das gargantas do Verdon - Alpes Marítimos ao fundo.



Foto 44: Parque natural das gargantas do Verdon.

Os Balcões da Mescla são outro ponto interessante que nos dão uma bela panorâmica. Um pouco mais adiante uma ponte audaciosamente curva e idolatrada pelos fãs do bungee-jumping atravessa o Artuby, que se junta ao Verdon neste ponto. Com 23 km de comprimento a “Route dês Crêtes” percorre a borda da falésia do desfiladeiro passando por diversos miradouros - o Belvédère de Trescaire, o impressionante Belvédère de L'Escalès e os Belvédère du Tilleul, des Glacières e de l'Embucq antes de retornar a La Palude. Point Sublime (o tal sítio onde íamos sendo assaltados…) é, provavelmente, o mais belo miradouro do desfiladeiro. Do pequeno parque de estacionamento, uma caminhada de 10 minutos é suficiente para chegar à plataforma de observação, de onde se pode apreciar uma das vistas mais clássicas das “Gorges du Verdon”. A plataforma situa-se duas centenas de metros acima da confluência do Baou com o Verdon, para além de uma magnífica vista do ressurgimento do rio perto da ravina de Samson.



Foto 45: Parque natural das gargantas do Verdon - Lago de Santa Cruz.



Foto 46: Parque natural das gargantas do Verdon - Mosteiros de Santa Maria.

Imperdível! Devido à sua proximidade com a Riviera Francesa, o desfiladeiro é muito popular entre os turistas. Para além do mais, as paredes de calcário com mais de 1.500 vias, que vão de 20 m a mais de 400 m, atraem hordas de escaladores. Não! Não fizemos escalada…

Foto 47: Parque natural das gargantas do Verdon - Mosteiros de Santa Maria.

Foto 48: Parque natural das gargantas do Verdon - Mosteiros de Santa Maria.

Mais um belo repasto num dos muitos restaurantes da Croisette, num muito discreto “movie star family style”, onde até conhecemos duas senhoras simpatiquíssimas (por certo gloriosas estrelas dos tempos do cinema mudo…), que durante todo aquele tempo apenas ingeriram água (pouca) e vinho branco (generosamente, muito)… e, no dia seguinte, aí fomos nós por mais uma “Corniche”, num trajecto absolutamente divinal, direitos a Saint-Tropez.


Foto 49: Parque natural das gargantas do Verdon - Mosteiros de Santa Maria.


Foto 50: Parque natural das gargantas do Verdon - Mosteiros de Santa Maria.

Meca internacional do turismo, Saint-Torpez (“St. Trop” para os “habituées”…) tem sido, desde os anos 50 do século passado, um pilar fundamental no reconhecimento de toda a Côte D’Azur. Antigamente, apenas uma vila de pescadores, é actualmente um dos pontos de veraneio mais badalados! No espaço de um curto passeio é fácil ver porque esta agradavelmente ensolarada “aldeia de pescadores”, com o seu bonito porto, as suas casas de telhas vermelhas, a fortaleza e as praias, aprisionou o coração de toda uma geração de pintores, boémios e turistas.



Foto 51: Parque natural das gargantas do Verdon - Point Sublime.




Foto 52: Parque natural das gargantas do Verdon.

E chegamos àquele ponto da viagem em que se começa a sentir o gosto estranho do regresso…



Foto 53: Saint-Tropez.



Foto 54: Saint-Tropez.

Uma passagem por Toulon, importante base naval da marinha de guerra francesa, e eis-nos rumando a Biarritz, não sem antes fazer uma demorada paragem por Nîmes, entre a Provença e o Languedoc. Uma cidade que respira história, onde o coliseu de Nîmes, construído sob as ordens do Imperador Augusto, no Sec. I A.C., é o mais bem preservado anfiteatro da era romana. Também a “Maison Carrée” é, provavelmente, o único templo romano completamente preservado em todo o mundo. Para os “nuestros hermanos”, Nîmes é também a mais espanhola das cidades do sul de França, com bares de tapas, touradas e jantares até tarde na noite...



Foto 55: Saint-Tropez.

Foto 56: Saint-Tropez.

Em pleno golfo da Biscaia, temos o centro do surf europeu e uma das mais conhecidas estâncias turísticas de França, Biarritz. É uma cidade vibrante e cosmopolita com magníficas praias, campos de golfe e numerosas instalações desportivas. O surf em França começou aqui, em Biarritz, e as suas ondas atraem surfistas de todo o mundo. Não era o caso…, que aprecio mais o lado histórico-cultural-paisagístico-etc…, nomeadamente o muito simpático Museu do Chocolate! Fiquei a saber que o chocolate é viciante e, como tal, poderia até ser classificado como uma droga! Confesso que nunca me tinha tido nessa conta, sempre achando que era apenas um “rapaz de bom gosto”, por chocolate, entenda-se…

Foto 57: Nîmes - Madeleine.


Foto 58: Nîmes - 'Maison Carrée'.


E lá regressamos nós à “estrada dos emigrantes”, não sem um desvio por San Sebastian e uma demorada paragem em Burgos para retemperar o estômago… e o espírito, com uma visita detalhada à catedral, a terceira maior de Espanha e, para muitos, a mais representativa obra do estilo gótico. Construída ao longo de três séculos por numerosos artistas e arquitectos europeus, os seus principais "tesouros" são a Escadaria Dourada (1532), a Capela do Condestável (1496), as intricadas agulhas rendilhadas sobre imponentes portais e a magnífica cúpula central (1539), sob a qual se encontra o túmulo do lendário herói da cidade, El Cid. Para um viajante crente, não deixa também de proporcionar um sublime momento de introspecção e oração.



Foto 59: Nîmes.



Foto 60: Nîmes.

Já os romanos o sabiam, boas vias de comunicação são cruciais para o desenvolvimento e movimentação de pessoas e bens! Mais uns quilómetros e o reconfortante painel “Welcome to Portugal” passa por nós, dizendo-nos que já estamos a duas horas do nosso “centro do mundo”, a tal muito simpática e acolhedora cidadezinha de Abrantes, onde chegamos, já no décimo dia, naturalmente! E com mais umas largas centenas de fotos (rolos de 35 mm, pois…) na “contabilidade”…



Foto 61: Nîmes.



Foto 62: Biarritz.

Entretanto, existem coisas que, só quando cruzamos os países de lés-a-lés pelas suas vias rodoviárias nos apercebemos. Não devo estar muito longe da realidade quando digo que devem circular mais veículos pesados de mercadorias do que automóveis ligeiros por essa Europa fora! É um modelo logístico completamente errado, com profundos impactos directos e indirectos, negativos e difíceis de contabilizar, no nosso tecido produtivo, logístico e ambiental.


Foto 63: Biarritz - Pinturas murais.


Foto 64: Biarritz - Museu do Chocolate.

Pelo que nos tocou, entre ir de "carro convencional" e levar o "Pantera" (assim baptizado há muitos anos pela nossa filha, quando ainda se deliciava com os desenhos animados do "Moggli - o filho da selva" e os seus grandes amigos, o urso Balú e a pantera negra Baguera!), nem dúvidas surgiram. Levou-se o "Pantera"!!! É que um 4x4 é inerentemente mais seguro (quando conduzido como um 4x4 e não como um Ferrari, claro), pois distribui a tracção por quatro pontos de contacto com o solo, e não apenas por dois. Com isto, também degrada menos o piso, uma vez que a força de atrito é repartida pelos tais quatro pontos, ao invés de apenas por dois. Como a generalidade destes veículos é preparada para fazerem reboque, tipicamente têm travões muito poderosos e resistentes à fadiga. Tendencialmente, um 4x4 "pede" para ser conduzido mais devagar, o que aumenta a segurança. Como a visibilidade também é melhor, permite uma antecipação dos problemas e uma reacção mais atempada e segura. Permite-nos uma forma mais fácil de ajudar os outros quando estão em apuros (já perdemos o conto às situações em que, com um "pequeno puxão" tirámos carros de uma valeta mais profunda, ou de situações mais delicadas). É normal um 4x4 parar quando estamos em apuros e tentar sempre dar uma ajuda. Faz parte do espírito.

Foto 65: Biarritz.



Foto 66: Burgos.

Depois, "com um carro deslocamo-nos, mas com um 4x4 viajamos"... apreciamos a paisagem e deixamo-nos envolver pelo ambiente (OK! Um com um clássico descapotável na Côte D`Azur também...). É o melhor veículo para ir de viagem com a família. Cabe lá tudo, sem “stresses” e sem desafiar as leis da física, como infelizmente tanto se vê por essas estradas. Permite não ficar apenas de "papo para o ar" a torrar na areia da praia ou na esplanada, pois "pede-nos" para partir à descoberta do interior, maravilhoso e quantas vezes esquecido. Permite seguir aquele caminho de terra, em que não arriscaríamos o tal "carro convencional", para chegar àquele moinho no alto da serra, ou àquela lagoa ou curva do rio que se via da estrada... longe de mais para ir a pé.



Foto 67: Burgos.



Foto 68: Burgos.

Além do mais, um 4x4 não tem idade. É apenas um 4x4... Predispõe bem, conduzir um 4x4! Acho que vou passar estas linhas de inspiração ao marketing da Land Rover e negociar uma percentagem das vendas...

:-)

Foto 69: Burgos.



Foto 70: Burgos.

Para quem, algum dia, quiser fazer uma coisita destas, aqui ficam os trajectos e principais pontos de passagem que elegemos:

1º dia) Abrantes > Bilbau

2º dia) Bilbau (Museu Guggenheim) > Toulouse

3º dia) Toulouse (Cité de L'Espace) > Carcassonne > Cannes

4º dia) Cannes > Cap d'Antibes > Antibes > Cap Ferrat > Nice > Villefranche-sur-Mer
> Beaulieu-sur-Mer > Principado do Mónaco / Monte Carlo > Eze > Cannes

5º dia) Cannes > Parque Natural das "Cinque-Terre" (Monterosso al Mare,
Vernazza, Corniglia, Manarola, Riomaggiore) > Cannes

6º dia) Cannes > Grasse > Parque Natural da Gargantas do Verdon
(Balcons de la Mescla, Pont de L'Artuby, Cirque de Vaumale,
Lac de Sainte Croix, Moustiers de Sainte Marie, Point Sublime, Castellane)
> Grasse > Cannes

7º dia) Cannes > Saint Tropez > Toulon

8º dia) Toulon > Nîmes > Biarritz

9º dia) Biarritz > San Sebastián > Burgos > Abrantes
(com chegada já no dia seguinte, claro...)



Boas viagens!


Luís de Matos

Abril de 2009

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