segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Roteiro Celta...



Texto e fotos: Luís de Matos e participantes neste passeio.

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Foto: Trajecto.

"A Escócia é extraordinariamente rica em belezas naturais. Tem centenas de castelos que testemunham o seu longo e tumultuoso passado. A maioria dos símbolos da Escócia (clãs, tartans, whisky, papas de aveia, urze e gaitas-de-foles) têm origem nas Highlands e enriquecem a imagem da região como um todo."      
-  in "American Express Travel Guide"

Pois cá estamos (já há algum tempo…) de regresso à tal, deles, “mainland” e ao “lado certo” das estradas! Se os bons ventos ainda para lá não vos levaram, recomendo vivamente um calmo deambular pelas paisagens fantásticas da Escócia e das ilhas Hébridas! Vale mesmo a pena!

Não foi propriamente um moderno e corriqueiro “Fly and Drive”, mas sim um old style “Cruise and Drive”, encantador e a permitir um contacto mais profundo com a realidade do país, mesmo tratando-se de uma realidade mais “turística”… Para além do maravilhoso descanso que uma viagem marítima proporciona!


Foto: Burgos, uma já habitual paragem.


Foto: Burgos, uma já habitual paragem.

Exacto! Levámos o “Pantera”…, o tal velhinho Range Rover Classic com 260.000 km e 16 anos de bons e fieis serviços…, que já ostenta no seu curriculum as bandeiras do Reino Unido (incluindo Escócia e Gibraltar), Espanha, Marrocos, Andorra, França, Mónaco, Itália e, noblesse oblige, Portugal “de lés a lés”. Há “malucos” para tudo… (o nome “Pantera” foi-lhe posto pela nossa filha, quando ainda se deliciava com as aventuras de “Moggli, o filho da selva” e dos seus inseparáveis amigos, o urso Balu e a pantera negra Baghera… E “Pantera” ficou!).






Foto: Bilbau e um "Palácio" para as nossas "princesinhas" dormirem e sonharem, pelo menos na primeira noite.



 

Foto: Porto de Bilbau e o "Pride of Bilbau", à nossa espera.

Só ainda conhecíamos a Grã-Bretanha até ao “paralelo” de York e este ano lá decidimos fazer uma visita à Escócia, muito especialmente às Highlands. Quando? No Verão, que aquilo lá no Norte consegue ser bastante agreste!

Há boa maneira dos consultores, diria que tinha-mos três opções básicas para visitar a zona:
   1) Package standard de uma qualquer companhia de viagens;
   2) "Fly and Drive", em que voaríamos de Lisboa a Edimburgh (ou Glasgow) e regresso, 
       alugando aí uma viatura durante o resto da estadia na Escócia;
   3) "Cruise and Drive", em que se faria todo o trajecto de automóvel próprio, 
       com dois magníficos "cruzeiros" entre Bilbau e Portsmouth…

Opção 3), pois com certeza!


Foto: Já a bordo do "Pride of Bilbau".


Foto: Já a bordo do "Pride of Bilbau", a sair do porto.



Como uma boa parte do prazer de uma viagem está, também, no seu planeamento e preparação, lá nos lançámos de novo na ufana pesquisa de tópicos de viagem, pontos a ver, locais onde ficar, etc., e no envolvimento dos restantes “expedicionários” nessa mesma preparação… Para além do prazer que dá planear e preparar, minimamente claro, uma qualquer viagem, consegue-se aprender e desfrutar muito mais se, quando chegamos a qualquer lado, já tivermos uma boa ideia do que queremos e vamos ver. O tempo disponível “rende” muito mais e, no caso de um qualquer imprevisto, a nossa tão sublimada capacidade de “improvisação” funciona muito, mas mesmo muito melhor!


Foto: A bordo do "Pride of Bilbau". Equipa de biólogos marinhos, a seguir, identificar e registar os cetáceos.




Foto: O "GPS" mais fiável... Perguntar aos indígenas!


Procurámos, no entanto, manter sempre os “roteiros diários” com a maior abertura e flexibilidade possíveis, dentro do viável e adequado, para tentar um envolvimento mais participativo de todos os “expedicionários”. Em cada dia, podia-se decidir onde ir e o que fazer... até tendo em conta o que se (não) tinha conseguido ver ou fazer no dia anterior. Claro que uma abordagem destas não dispensa a consulta diária dos guias de viagem da American Express, Lonely Planet e de tudo o mais que, por exemplo localmente, se pudesse conseguir (e.g., mapas, sugestões, roteiros).


Foto: Muralhas de Adriano, junto às ruínas do Forte de Vercovicium.






Foto: Bem-vindos à Escócia!


Também, para além dos dispositivos de “GPS”, hoje em dia um auxiliar de viagem quase incontornável, é indispensável levar e usar os bons e velhos mapas. Não apenas porque os “GPS” não substituem os ditos mapas, não apenas porque estes aparelhos avariam e nem todas as áreas estão devidamente cartografadas, mas porque é a melhor maneira de se saber onde está, para onde se vai, o que existe nas redondezas e as alternativas.



Foto: Castelo de Edimburgo.




Foto: Castelo de Edimburgo.

Assim, lá levávamos um bom conjunto de mapas Michelin, quer o geral da Grã-Bretanha, quer o da Escócia, a que juntámos os mapas Ordnance Survey, Land Ranger 1:50.000, das ilhas de Skye, Harris e Lewis. Estes últimos, absolutamente fabulosos e úteis! Claro que também levávamos, num outro dispositivo “GPS” a correr o “OziExplorer”, uma versão digital do Michelin da Grã-Bretanha. Os datums que vinham com esses mapas, ou as suas tabelas de referências, estavam errados, tornando todo o sistema praticamente inútil, pois mostrava a nossa posição algures... na Irlanda! O fornecedor ainda não se tinha apercebido da situação, não tendo sido possível fazer um download correctivo em tempo útil… Abençoados os mapas “tradicionais”, em papel...



Foto: Castelo de Edimburgo. Bombarda "Mons Meg".



Foto: Castelo de Edimburgo.

Viajando em caravana, assegurar a comunicação entre todas as viaturas é fundamental. Não apenas por uma questão de segurança, mas também pela conveniência de partilha de informação e pela diversão que se consegue. Uns baratos walkie-talkie serviram perfeitamente. 

Na bela caravana alinhavam assim, o tal Range Rover Classic, um Kia Sorento e um Jeep Grand Cherokee. Com as potências dos motores entre os 113 Cv do “Pantera” (na verdade, tem uns "pózinhos" a mais), os 140 Cv do Kia e os mais de 200 Cv do Jeep, havia toda a liberdade de “quebrar a ordem” da caravana, muito especialmente nos trajectos de auto-estrada. De outro modo, o Jeep acabaria por ter fazer a viagem ao ralenti, atrás de nós…


Foto: Castelo de Edimburgo.



Foto: Castelo de Edimburgo.

De “madrugada” (Ok! Lá para as sete e meia da manhã…), seguimos então para Bilbau (já lá tínhamos estado no ano passado a ver o museu Guggenheim), onde, no dia seguinte antes de almoço, apanhámos o ferry-boat para Portsmouth. A travessia é muito agradável (um género de “mini-cruzeiro”, um pouco “rasca” é certo, mas com cinemas, casino, lojas, cabeleireiro, piscina, restaurantes, bares, ginásios, salas de jogos para graúdos e miúdos, salas de espectáculo, etc.)) e, dada a imensa biodiversidade do golfo da Biscaya, o navio leva sempre a bordo uma equipa de cientistas e observadores de cetáceos (com direito a explicações sobre o tema e tudo, num dos cinemas de bordo!). Pena que o operador "P&O" tenha encerrado esta linha em Setembro, continuando contudo a ser assegurada por outro operador.


Foto: Castelo de Edimburgo.



Foto: Castelo de Edimburgo. Aguardando o disparo de canhão às 13h00, "em ponto!"

Ainda não tínhamos saído de Portugal e surge o primeiro e, felizmente, único percalço da viagem. O Kia começou a deitar água para onde não era suposto… Depois dos costumeiros “bitaites” dos mecânicos de ocasião, aqueles que abrem o capôt e debitam com alguma sapiência “aqui está o motor”, fizemos um pequeno desvio para Tortosendo onde, numa oficina da zona industrial, se diagnosticou o problema. O radiador da chaufage ou as suas ligações estavam com uma fuga e o jipe não podia continuar assim sob pena de sobreaquecimento, uma vez que o circuito é comum ao de refrigeração principal. O próprio dono da oficina “tomou conta da ocorrência” e passadas duas horas o circuito já estava devidamente isolado e tudo em condições de prosseguir viagem.


Foto: Edimburgo, vista do Castelo.



Foto: "Calton Hill", vista do Castelo de Edimburgo.

Já a bordo do “Pride of Bilbau”, apanhámos aquilo a que eu chamaria um “mar de senhoras”, tanto à ida, como no regresso! Uma autêntica “palma”, um “mar chão”, inclusive na junção das águas do golfo da Biscaya com as do canal da Mancha. Ok! Aquilo até tinha umas ondazitas… Pronto! Nada que uns Vomidrine© não resolvessem, também com a ajuda de muita Coca-Cola©, claro, para gáudio da garotada (tiveram permissão de beberem, q.b, da dita!). Imagino o que teria sido, com um mar “a sério”… Num dos cinemas do navio, durante uma apresentação do tema dos cetáceos, mostraram-nos imagens do que pode ser o golfo da Biscaya quando se zanga…, com ondas a passarem por cima do convés superior do navio, qual couraçado de guerra! Acrescente-se que este ferry-boat era bastante estável e robusto, com capacidade de “quebra-gelos” e tudo, pois tinha sido construído para operações na Escandinávia.


Foto: A "Royal Mile", em Edimburgo.




Foto: A "Royal Mile", em Edimburgo. Adam Smith, junto à Catedral de São Giles.


O navio também levava a bordo dezenas de motards, das concentrações de Faro e da volta à Península Ibérica em Harley-Davidson… Aquela malta que consegue ingerir o seu próprio peso em cerveja e em whisky! A maioria, muito simpáticos e divertidos… Outros, nem tanto assim… Melgas, mesmo!

A zona de Portsmouth, onde se atraca, é muito agradável (especialmente para quem gosta dos temas náuticos). Como desconhecíamos as características das “horas de ponta” da urbe, tínhamos reservado hotel na pequena povoação de Fareham, já às portas do auto-estrada e com um excelente pub. Avisada decisão, até porque foi dos sítios onde melhor comemos em toda a viagem!

Deixámos a visita a Stonehenge, que é “logo ali”, assim como a Portsmouth, para o regresso e rumámos a Edimburgo, com passagem pelas muralhas de Adriano (para dar mais uma “aula” de história à “gente pequena”…) e entrada na Escócia pelo lado de Newcastle.



Foto: "Royal Mile", em Edimburgo.


Foto: Edifício do Parlamento Escocês, no final da "Royal Mile", em Edimburgo.

Mesmo quem nunca tinha conduzido “do outro lado” da estrada adaptou-se bem e, calmamente, umas horas e paragens depois, estávamos nas estradinhas secundárias, subindo o monte a caminho das tais muralhas de Adriano e das ruínas do, à época, importante forte de Vercovicium. Os dois “Tom Tom Navigator” e o “NDrive” estavam combinados e conduziram-nos ao sítio errado, a uns quantos quilómetros (deverei dizer “milhas”?!) do dito forte romano. Como íamos a seguir o trajecto nos mapas, foi fácil dar pela coisa, confirmar com os indígenas e chegar às tais muralhas… com algum atraso face ao planeado. O centro de interpretação estava quase a fechar, o trajecto ida e volta até às ruínas do forte ainda implicava uns dois ou três quilómetros a pé, debaixo de chuva… Tudo para ver umas pedras que já não eram sequer as originais (utilizadas ao longo dos séculos nas construções locais).




Foto: Palácio de "Hollyroodhouse", no final da "Royal Mile", em Edimburgo.



Foto: Palácio de "Hollyroodhouse", no final da "Royal Mile", em Edimburgo.

Do outro lado do monte o bom tempo voltou a sorrir e cruzámos o Parque Nacional de Northumberland e as “Cheviot Hills” através de paisagens magníficas.

Percebemos também que em termos de engenharia rodoviária podemos ensinar umas quantas coisas aos autóctones, nomeadamente os conceitos de aterro e desbaste para suavizar o perfil das estradas… Algumas lombas não são bem lombas, mas sim verdadeiros expoentes da mais radical “montanha russa”. Passada a primeira lomba ao melhor estilo dos “Lancia 037” naquela lomba antes da ponte da Cabreira, nos saudosos tempos do Rally de Portugal Vinho do Porto, alertada a caravana e passámos todos a saber com o que contar…

Bem-vindos à Escócia!




Foto: Palácio de "Hollyroodhouse", no final da "Royal Mile", em Edimburgo.



Foto: Palácio de "Hollyroodhouse", no final da "Royal Mile", em Edimburgo.

Contrariamente, por exemplo ao País de Gales, a Escócia soube manter quase inalterados seus valores e tradições, apesar da hegemonia de Inglaterra, de quem depende politicamente. A sua paisagem, urbana e rural, está entre as mais belas da Europa (é património da humanidade) e alguns dos seus ícones culturais tornaram-se, provavelmente, os mais conhecidos de toda a Grã-Bretanha, como sejam o “kilt”, a “gaita de foles” e o “whisky”.


Foto: "Calton Hill", em Edimburgo.


Foto: "Calton Hill", em Edimburgo.

O dia seguinte foi portanto dedicado a Edimburgo, a “capital” da Escócia e onde, passados três séculos, voltou a funcionar o parlamento escocês… quem sabe, se construindo já o caminho para uma eventual futura independência. Até têm petróleo… Famosa pelos seus castelos, palácios e pela arquitectura medieval e georgiana, a cidade está considerada como uma das mais bonitas da Europa e do mundo. É também uma cidade moderna e dinâmica, onde os festivais culturais são referência mundial.



Foto: "Calton Hill", em Edimburgo. Canhão português, fabricado em 1624 para Dom Diogo da Silva, Conde de Portalegre.


Foto: "Calton Hill", em Edimburgo. Pormenor do canhão português, fabricado em 1624 para Dom Diogo da Silva, Conde de Portalegre.

De guia “American Express” numa mão e máquina fotográfica na outra (quem é que segura o guarda-chuva?!), iniciámos a visita pelo ponto mais imponente da cidade, o Castelo de Edimburgo. Situado no alto de uma colina rochosa, o castelo conta-nos mais de 1.400 anos de história. Guarda as jóias da coroa escocesa e foi um dos preferidos da realeza até à união com a coroa inglesa, em 1603. Actualmente, o castelo de Edimburgo é a sede do Regimento Real Escocês.


Foto: Monumento a Walter Scott, na "Princes Street", em Edimburgo.


Foto: "Princes Street", em Edimburgo.

Seguiu-se um demorado deambular pela cidade velha e pela “Royal Mile”, a principal artéria da Edimburgo medieval e hoje uma das suas mais famosas vias, onde estão concentrados museus, bares, restaurantes e lojas, e que liga o Castelo de Edimburgo ao Palácio de Holyroodhouse, Construído no século XVII, este palácio é, ainda hoje, a residência oficial da Rainha Elisabete II na Escócia. Imperdível também a visita guiada a todo o palácio, jardins e belíssima galeria de arte.


Foto: Vistas de Edimburgo, a partir da "Princes Street".




Foto: Vistas de Edimburgo, a partir da "Princes Street".


Menos imponente que a zona do castelo, a “Calton Hill”, mesmo no centro de Edimburgo, tem as mais espectaculares vistas sobre a cidade e o braço de mar que a banha. Reúne os dois observatórios astronómicos, o monumento ao Almirante Nelson, a inacabada acrópole comemorativa da vitória sobre Napoleão em Waterloo, entre outros pontos de interesse. Como curiosidade adicional, refira-se que o canhão exposto foi fabricado em Portugal, em 1624, para o Conde de Portalegre, Dom Diogo da Silva.


Foto: Vistas de Edimburgo, a partir da "Princes Street".


Foto: Vistas de Edimburgo, a partir da "Princes Street".

A visita não se daria por concluída sem um longo passeio pela “Princess Street”, para muitos, uma das mais belas ruas do mundo. Até o Sol deu um ar de sua graça, rompendo o tecto nuvens pesadas por uns brevíssimos instantes!

De per se, Edimburgo (assim como Glasgow, a que também apenas dedicámos um dia) merece uma boa semana de visita. Algo para fazer noutra altura, tirando partido dos voos directos de e para Portugal.


Foto: Saint Andrews.



Foto: Saint Andrews.

Iniciávamos agora, verdadeiramente, o objectivo último da viagem… Um calmo deambular pela Escócia e pelas ilhas de Skye, Lewis e Harris, do arquipélago das Hébridas. Ir mesmo até ao topo da ilha de Lewis (o dito “Butt of Lewis”), no paralelo 58ºN, qualquer coisa como a latitude da baía de Hudson…, onde já ninguém se lembrava de lá ter visto carros de matrícula portuguesa.

A história, a cultura, as pessoas, os castelos e palácios, os “lochs”, os parques naturais, as orlas costeiras, as paisagens (as ostras e os “single malt”…), são absolutamente espectaculares. Apetece fotografar  quase em contínuo e prolongar os dias e as semanas indefinidamente, pelo menos enquanto o tempo está de feição. O verão é que…, é o tal “verão escocês”, com o céu quase sempre coberto de nuvens e aquela chuvinha quase quotidiana. Não se consegue tirar uma foto de jeito!



Foto: Castelo de Glamis.




Foto: Castelo de Glamis.


Hoje o dia seria longo, com muita coisa para ver e admirar. Deixámos Edimburgo pela “Forth Road Bridge”, paralela à “Forth Railway Bridge”, a primeira ponte de aço do mundo e, ainda hoje, a segunda mais comprida. O primeiro destino do dia era Saint Andrews e as ruínas da sua abadia e do seu castelo. Saint Andrews viu nascer a primeira universidade da Escócia, em 1413, e também o golfe, juntando nobres e plebeus num mesmo desporto.


Foto: Montanhas Grampian.




Foto: Zona de Balmoral.

Descobri, a partir de Saint Andrews, a conveniência de um equipamento que tinha há anos no fundo da bagageira e que nunca havia sido usado. Um ondulador 12 V’dc’ // 220 V’ac’ de ligar à tomada do isqueiro! E dizer que estive para o deixar em Abrantes!



Foto: Parque Nacional das Cairngorms. Com neve no final de Julho...


Foto: Parque Nacional das Cairngorms. Centro das Renas.


Atravessámos o “Firth of Tay” em Dundee, onde está ancorado o “HMS Victory” que, em 1901, levou o Capitão Robert Scott à Antártida (Scott voltaria à Antártida em 1910, atingindo o Pólo Sul, de onde não conseguiria regressar), e seguimos para o Castelo de Glamis, numa propriedade lindíssima, às portas do Parque Nacional das Cairn Gorms.


Foto: Parque Nacional das Cairngorms. Centro das Renas.




Foto: Parque Nacional das Cairngorms. Funicular para o topo da montanha.


Pertencente à família Bowes-Lyon, um dos mais antigos clãs da nobreza escocesa, é a residência dos Condes de Strathmore e Kinghorne. A Rainha Mãe, Lady Elizabeth Bowes-Lyon nasceu neste castelo, a 4 de Agosto de 1900, tendo vivido aqui a sua infância. A Princesa Margarida também aqui nasceu.

Talvez um dos mais apelativos e bem preservados castelos da Escócia, está aberto ao público e as visitas guiadas, de grande qualidade, são absolutamente imperdíveis. Os seus tectos estucados são considerados como dos mais refinados da Escócia. Cenário frequente da literatura de ficção e sempre associado a várias lendas, o Castelo de Glamis possui, ao que nos conta a tradição, mais segredos obscuros que qualquer outro castelo na Escócia… Foi aqui que o Rei Malcolm II, da Escócia, foi assassinado, e William Shakespeare também o escolheu para cenário da sua mais conhecida peça de teatro, "Macbeth".


Foto: Inverness.



Foto: Inverness... Um parente do "Pantera", em missão.





Reconfortados a vista, o espírito (e estômago), embrenhámo-nos no “Parque Natural das Cairn Gorms” com destino a Aviemore, não sem antes fazermos uma escala em Balmoral, residência de Verão da Família Real britânica. Do interior, pouco é visitável.

Como o cansaço já estava a fazer mossa nos “expedicionários” menos habituados a estas lides, seguimos para o hotel, em Coylumbridge, às portas da mancha florestal de Glenmore. Deixámos para o dia seguinte a visita ao topo das Cairn Gorms no funicular panorâmico e ao “Reinder Center”. Piscina com a miudagem o resto da tarde!


Foto: Drumnadrochit. Centro de visitas do Loch Ness.







Foto: Drumnadrochit. Centro de visitas do Loch Ness. O mais "próximo" do Nessie que conseguimos ver...



Ao contrário da véspera, em que havíamos tido um dos dois ou três únicos dias de bom tempo e céu razoavelmente pouco nublado em toda a viagem por terras dos Stuarts, o dia amanheceu com a má cara costumeira e alguma chuva até. A subida ao topo das “Cairn Gorms” no funicular panorâmico ficou assim fora de questão, pois o topo da montanha estava envolto em pesadas nuvens.

O Parque Nacional das Cairn Gorms tem o único rebanho de renas em liberdade em toda a Grã-Bretanha. Como a “má cara” de São Pedro desaconselhava caminhadas pelas montanhas, ficámo-nos por uma visita guiada ao “Reinder Center”. Tocante e motivador o entusiasmo e dedicação que os responsáveis e demais staff do centro transmitem durante a visita. Uma constante, aliás, em quase todas as visitas guiadas que tivemos oportunidade de fazer.


Foto: Loch Ness. Castelo de Urquart.






Foto: Loch Ness. Comando em boas mãos...



Rumámos depois através do Parque Florestal de Glenmore, mais para Norte, para Inverness, de que não ficámos particularmente fãs, apesar da bonita zona ribeirinha, seguindo depois ao longo do “Great Glen”, uma falha natural entre a costa Este e a costa Oeste, que divide a Escócia em duas partes, até ao “Loch Ness”.

O canal da Caledónia foi uma das grandes obras da engenharia escocesa do século XIX. Concluído em 1847, ligou Inverness na costa Este a Fort William na costa Oeste, permitindo uma navegação mais rápida e segura do que a alternativa de circum-navegar toda a Escócia pelo Norte. Inclui o “Loch Ness” e o “Loch Lochy” e um conjunto de vinte e nove eclusas de navegação, ao longo de toda a falha do “Great Glen”.



Foto: Fort Augustus.



Foto: Eclusas em Fort Augustus.


Aproveitámos uma simpatiquíssima visita guiada ao “Centro Loch Ness”, em Drumnadrochit, onde, para além de nos facultarem os textos em português, nos colocaram numa “visita dedicada” com o som em espanhol (não tinham em português)! Este centro foi construído em 1980 para dar a conhecer as lendas, a história, as belezas naturais e as investigações científicas levadas a cabo no lago mais famoso do mundo. O texto base e a sua narração estiveram a cargo do naturalista Adrian Shine que, durante três décadas, liderou a equipa de pesquisa do “Projecto Loch Ness”. Imperdível!


Foto: Invergarry.




Foto: Glen Shiel.


Uma visita à zona não estaria completa sem um passeio de barco nas águas geladas do “loch” (estavam a 6 ºC…) e uma visita, pelo exterior, ao castelo de Urquhart, uma ainda hoje impressionante ruína militar, daquele que foi o maior castelo de toda a Escócia.

O tal “Nessie” é que só deve aparecer no “Loch Ness” lá muito para depois do terceiro ou quarto “single malt”… Fizemos de barco uma boa parte do dito “Loch Ness” (inclusive com a “gente nova” a pilotar o dito barco…), mas do tal monstro, que claro está não existe nem nunca existiu, nem sombras…


Foto: Castelo de Eilean Donan.





Foto: Castelo de Eilean Donan.


Continuámos pela “marginal” do “Loch Ness” até Fort Augustus, a tempo de mais uma pequena “aula” de engenharia à gente nova, a propósito do canal da Caledónia e dos seus sistemas de eclusas de navegação e respectivas comportas.


Foto: Castelo de Eilean Donan.





Foto: Castelo de Eilean Donan.



O hotel em que ficámos em Invergarry (o único que conseguimos marcar para um grupo de nove pessoas, naquela zona) foi uma agradável surpresa. A hotelaria britânica é o que é… e aquelas casas “georgeanas” e “vitorianas” adaptadas a hotel nem sempre provam bem, para além da gastronomia que, enfim, tem imenso espaço para melhorar. As expectativas, neste domínio do reino de “Sua Majestade”, nunca são muito elevadas… Neste caso o hotel era bastante acolhedor e a cozinha, de se lhe “tirar o chapéu”!

Já começamos a estar razoavelmente habituados a estradas que seguem ao longo de paisagens que pedem superlativos na adjectivação… Esta leva-nos à próxima escala no muitas vezes celebrado por Hollywood, castelo de Eilean Donan, numa pequena ilha do “Loch Duich”, junto a Dornie.


Foto: Kyle of Localsh.




Foto: Ilha de Skye.


Originalmente uma defesa contra os Vikings, nos inícios do século XIII, tornou-se, ainda nesse século, uma fortaleza do clã MacKenzie de Kintail. Conta-se que apenas três homens de armas conseguiram defender este castelo contra um exército invasor transportado em cinquenta galeras… Depois. Bem, depois alguém inventou as peças de artilharia e os castelos perderam completamente o seu valor defensivo. Problema das inovações disruptivas…. Já no século XVIII, o castelo foi ocupado por tropas espanholas que tentavam iniciar uma nova revolta jacobita, tendo sido recapturado e destruído a tiro por três fragatas da “Marinha Real Britânica”. Só dois séculos depois o castelo foi restaurado, entre 1919 e 1932, pelo tenente-coronel John MacRae-Gilstrap. O restauro incluiu a construção de uma ponte a fim de oferecer um acesso mais fácil à ilha que é, oficialmente, o lar do clã MacRae.

Uma curiosidade para os esquerdinos… A escada interior tem uma espiral inversa, pois o primeiro senhor do castelo era, precisamente… esquerdino.





Foto: Ilha de Skye. Old Man of Storr.



Foto: Ilha de Skye. Old Man of Storr.

Passado o “Kile of Lochalsh, que pede uma visita mais atenta, entrámos na ilha de Skye pela “Skye Bridge” que, de há poucos anos a esta parte, evita que se tenha de apanhar um ferry-boat para chegar à mais conhecida ilha do arquipélago das Hébridas.


Foto: Ilha de Skye. Os "expedicionários" junto ao Old Man of Storr. Valeu a pena trepar a montanha com o tripé às costas e tudo!



Foto: Ilha de Skye. Vistas para as ilhas de Raasay e Rona, a partir do Old Man of Storr.


Afinal, não estávamos assim tão “razoavelmente habituados a estradas que seguem ao longo de paisagens que pedem superlativos na adjectivação”… Mesmo!

O nosso sócio “São Pedro” presenteou-nos com uma tarde magnífica (dentro das definições locais de “bom tempo”…) pelo que, para além das paragens “quase em cada curva” para apreciar as vistas e tirar mais uma fotografia, resolvemos que uma ida à ilha de Skye sem uma boa caminhada montanha acima até ao “Old Man of Storr” ficava muito mal no curriculum destes “expedicionários” de sofá… Valeu a pena! As vistas soberbas que do topo se apreciam, quer para parte da própria ilha de Skye, quer para as vizinhas ilhas de Raasay e Rona são imperdíveis. Um detalhe apenas… O “Old Man of Storr” só foi escalado pela primeira vez em 1955.



Foto: Ilha de Skye. "Kilt Rocks".


Foto: Ilha de Skye. "Kilt Rocks".


Mais uma demorada paragem junto às falésias “Kilt Rock”, assim designadas devido à sua aparência de um “kilt” perfeitamente dobrado, com uma queda de água de quase uma centena de metros sobre o oceano, e chegamos ao final da tarde à nossa base para os próximos dias de “exploração” das ilhas Hébridas.



Foto: Ilha de Skye. "Kilt Rocks".


Foto: Ilha de Skye. Vista para o ilhéu de "Rubha nam Brathairean".


Ficámos em Flodigarry (no “Flodigarry Country House Hotel”), no Norte da ilha de Skye. Muito simpático (até tinha uma empregada portuguesa!) e com umas vistas espectaculares, quer para as montanhas Quiraings, quer para o mar e para o ilhéu de Flodigarry. Não faltava inclusive um belíssimo e bem afinado piano!

Ah! E serviam umas ostras, divinais!



Foto: Ilha de Skye. Flodigarry.


Foto: Ilha de Skye. Flodigarry, frente ao ilhéu de... Flodigarry.


A gastronomia escocesa é razoável (estamos na Grã-Bretanha…). Ostras e “single malt” são uma excelente combinação, com uns haggins para ensopar! Sem falar no excelente “Villa Maria Sauvignon Blanc - Cellar Sellection” (neo-zelandês!) que descobri na garrafeira do hotel! Devo dizer também que as ostras que comi na ilha de Skye foram as segundas melhores que alguma vez me serviram. As melhores, confesso, degustei-as em Casablanca. Ostras tamanho seis! Divinais! Ainda hoje há quem me chame doido por comer ostras cruas em África… Adiante!



Foto: Ilha de Skye. Flodigarry.


Foto: Ilha de Skye. A tal "estradinha" entre Flodigarry e Uig atravessando as montanhas Quiraings.


Os pontos principais a visitar na ilha de Skye são acessíveis por estrada, caminhos ou trilhos não muito complicados, com o farol de Neist a pedir mais uma boa caminhada. Procurou-se, dentro de uma razoável gestão de tempos, visitar e apreciar o possível e o viável, a começar pelo prazer de viajar ao longo de tão inesquecíveis paisagens. A juntar aos valiosos e extensamente estudados mapas “Ordnance Survey, Land Ranger 1:50.000” e guias da American Express e Lonely Planet, tínhamos também as preciosas indicações e sugestões dadas diariamente pelo inexcedível staff do hotel.



Foto: Ilha de Skye. Ruínas do castelo de Duntulm.


Foto: Ilha de Skye. "Etnografia" em Gleann Conainn.


Não conseguimos ir às praias de corais, que reclamavam mais uma pequena caminhada de três ou quatro quilómetros debaixo de chuva…, nem ir de barco ver as focas…



Foto: Ilha de Skye. Jardins do Castelo de Dunvegan.



Foto: Ilha de Skye. Farol da ponta Neist.


Claro que não se perdeu uma “visita de estudo” à destilaria Talisker, a última que resta na ilha de Skye, para aprender umas coisas e… repor nível… (estava frio). Só que, mesmo no “produtor”, aqueles deliciosos néctares de três décadas têm cá um preço… que até apetece beber água… E a água é boa em Skye!

Apesar de o tal “verão escocês” ser, de facto, bem húmido e fresquinho, as águas da baía de Talisker (mais uns três ou quatro quilómetros de caminhada) até nem estavam muito frias. Gulf stream rules!


Foto: Ilha de Skye. Portree.



Foto: Ilha de Skye. Portree.

Descobrimos também, especialmente nas zonas mais remotas…, o apetite voraz do Jeep por gasóleo…, que me fez pensar várias vezes que deveria ter trazido os jerrycans de reserva, que tinham ficado em Abrantes! Performances de Ferrari têm de ser bem alimentadas…



Foto: Ilha de Skye. Destilaria Talisker, em Carbost.


Foto: Ilha de Skye. Destilaria Talisker, em Carbost. Ao que nos disse a "narizinho rosado" que nos guiou na visita, o seu quarto era por cima deste armazém... Sonos "destiladamente" santos!

Num dos dias não perdemos também uma “visita de médico” às ilhas de Harris e Lewis, a Oeste de Skye. Aquela “estradinha” que se vê no mapa do GPS e que une Stafin (Flodigarry) a Uig, atravessando as “montanhas” Quiraings, é, provavelmente, uma das mais belas “estradas” da ilha de Skye. As vistas são soberbas e, como sempre, apetece fotografar quase em contínuo! Um pequeno detalhe… A dita “estrada” (como aliás, muitas na ilha) tinha a largura do “Pantera” (com uns quantos pontos de cruzamento, claro!) e até os indígenas a consideravam perigosa… Quando fomos às ilhas de Harris e Lewis (há um ferry-boat da Caledonian MacBrayne entre Uig e Tarbert) cruzámo-la duas vezes, de manhã e à noite… Neste último caso, num perfeito “escuro como breu” e “dentro das nuvens” (aquele nevoeiro / chuvinha miúda…), com visibilidade quase “zero”. Radical! Muito radical!!



Foto: Ilha de Skye. Baía de Talisker.


Foto: Ilha de Skye. Baía de Talisker.

Harris e Lewis é uma mesma ilha do arquipélago das Hébridas Exteriores, dividida em dois territórios, Lewis e Harris. O conjunto forma a terceira maior ilha das ilhas Britânicas, depois da Grã-Bretanha e da Irlanda. Mais uma vez, de guias e mapas em riste, procurámos optimizar o tempo visitando os pontos principais e apreciando a beleza das paisagens que, de tão diversas, quase nos levariam a pensar estarmos em ilhas diferentes. Noblesse oblige para qualquer “expedicionário” que demande estas latitudes, fomos até ao topo da ilha, o chamado “Butt of Lewis” (à latitude da baía de Hudson) e, no trajecto de regresso, não pudemos deixar de visitar os círculos de pedras de Callanish”, quase dois milénios mais antigos que Stonehenge e, tal como este, de significado ainda muito obscuro. Não sei se pela expectativa e mistério, a verdade é que a visita a estes locais não nos deixa indiferentes…



Foto: Ilha de Skye. Montanhas Cuillins.


Foto: Ilha de Skye. Montanhas Cuillins.

Já não conseguimos percorrer a “Golden Road” em Harris, uma das mais espectaculares estradas da Grã-Bretanha. Quem sabe, numa próxima visita.



Foto: Ilha de Skye. Elgol.


Foto: Ilha de Skye. Elgol.

Com uma quase inexistente vontade de deixar as ilhas Hébridas, demandámos Glasgow, via Oban (que se recomenda) e Parque Nacional das Trossachs que, de per se, pede uns dias de visita.

Aproveitámos a escala em Glasgow também para uma volta pelos arredores. Grande parte da manhã foi dedicada ao “Castelo de Stirling”, um dos maiores e mais expressivos castelos do país, tanto pela sua arquitectura como pela sua história. Entre cerca do ano 1100 e 1685, foi uma das principais residências da realeza escocesa. A partir daí e até 1964 foi quartel-general dos regimentos das “Argyll” e “Sutherland Highlanders”. Dos seus edifícios, apenas o palácio se encontrava encerrado para restauro.



Foto: Ilha de Harris e Lewis. Stornoway.


Foto: Ilha de Harris e Lewis. Stornoway.

Não pudemos também deixar de visitar e andar na “Roda de Falkirk”, um prodígio da engenharia escocesa, que é o único elevador rotativo de embarcações existente no mundo. O elevador permite a manobra de embarcações de até 20 m de comprimento e a rotação de 180º leva apenas 4 minutos, com um consumo mínimo de energia, uma vez que as duas “caixas de água” têm o mesmo peso. Impressionante!



Foto: Ilha de Harris e Lewis. "Butt of Lewis".


Foto: Ilha de Harris e Lewis. "Butt of Lewis".

Como o embarque no “Pride of Bilbau” estava agendado para a hora do jantar, o último dia em terras de “Sua Majestade” foi investido numa visita a Stonehenge, sempre marcante, e a Portsmouth, especialmente à sua zona ribeirinha.



Foto: Ilha de Harris e Lewis. Porto de Ness.


Foto: Ilha de Harris e Lewis. Maqueta do "Círculo de Pedras de Callanish I".

É espantoso como alguns povos desprezam e negligenciam as suas zonas ribeirinhas, enquanto outros as valorizam, tornando-as locais atractivos e belos, conseguindo uma perfeita simbiose entre a utilidade e o lazer. É assim a zona ribeirinha de Portsmouth, em torno da qual a cidade acabou por se desenvolver. Arte, cultura, serviços, comércio de qualidade incluindo mercados tradicionais, restauração, marinha civil e de guerra, tudo aqui se conjuga para proporcionar momentos únicos ao visitante.



Foto: Ilha de Harris e Lewis. "Círculo de Pedras de Callanish I".


Foto: Ilha de Harris e Lewis. "Círculo de Pedras de Callanish I".

Não esquecendo sequer a “gente nova”, Portsmouth incluiu na sua zona ribeirinha um grandioso “action center” patrocinado… pelos militares. Todas as diversões têm um cunho militar muito positivo e os próprios simuladores de voo, em que o “nosso” helicóptero segue vertiginosamente por desfiladeiros e falésias, transportam-nos para uma difícil e aventurosa missão de salvamento contra os cruéis cartéis da droga. Do lado de fora do helicóptero, um militar das forças especiais lança-nos um sorriso tranquilizador… Os miúdos saem dali com orgulho nas suas forças militares e militarizadas e com a firme vontade de, um dia, voluntariamente se alistarem! Uma excelente fonte de inspiração para as nossas próprias forças militares e militarizadas…



Foto: Oban.


Foto: Oban.

Imperdíveis também as visitas à doca histórica onde, a par de museus vários, podemos visitar o “HMS Victory”, em doca seca, e o “HMS Warrior”, pronto a zarpar. Uma autêntica “aula” de engenharia, náutica, navegação, construção naval, guerra, marinharia e vida a bordo, em dois emblemáticos navios separados por um século na sua construção.



Foto: Roda de Falkirk.


Foto: Roda de Falkirk.

O “HMS Victory”, um típico navio de guerra do século XVIII foi lançado à água em 1765 e entrou ao serviço da Royal Navy em 1778. Foi o navio almirante de Horatio Nelson, com papel preponderante na Batalha do Cabo de Trafalgar, de que se este ano se comemoram os 205 anos, a 21 de Outubro. Este dia marca também o aniversário da morte do próprio Almirante Horatio Nelson naquela que foi uma das mais importantes batalhas navais, à vela, envolvendo a Coroa Britânica. A armada britânica derrotou definitivamente a armada franco-espanhola.



Foto: Roda de Falkirk.


Foto: Roda de Falkirk.

Lançado à água em 1860, o “HMS Warrior” foi o primeiro navio de guerra britânico com casco de ferro, blindado. Orgulho da frota “vitoriana”, propulsionado à vela e a vapor, era o mais potente, rápido e bem armado navio da sua época, ditando as linhas mestras da construção naval de guerra nos anos subsequentes. Um navio dissuasor por excelência, que nunca disparou um tiro bélico! Representou o apogeu da “Pax Britannica”, mas os rápidos progressos tecnológicos dos finais do século XIX, inícios do século XX ditaram a sua precoce obsolescência.



Foto: Roda de Falkirk.


Foto: Monumento a William Wallace, visto do Castelo de Stirling.

Talvez devêssemos olhar para estes exímios exemplos e replicá-los, mutatis mutandis, com, por exemplo, a fragata “Dom Fernando II e Glória”, a caravela “Boa Esperança”, o submarino “Barracuda”, etc.


Foto: Castelo de Stirling.



Foto: Castelo de Stirling.

Só já não subimos aos 170 m da “Torre Spinnacker”, uma vez que o céu razoavelmente limpo da tarde resolveu toldar-se, como que a relembrar-nos de que estávamos na Grã-Bretanha…



Foto: Stonehenge.


Foto: Portsmouth. Torre Spinnacker.

E a sereia do “Pride of Bilbau” chama-nos, enfim, à realidade do embarque… De novo o canal da Mancha e o golfo da Biscaya nos separam da “mainland” e do “lado certo” das estradas. A equipa de cientistas observadores de cetáceos lá estava no seu posto de observação, no convés superior. Desta vez contudo, Neptuno foi mais simpático e mandou umas centenas de golfinhos, baleias piloto e um cachalote cruzar a rota do navio e fazer as delícias de todos a bordo!



Foto: Portsmouth. Frente histórica marítima.


Foto: Portsmouth. Frente histórica marítima. "Action Center".

O resto…, sai um pouco ao melhor estilo do “Vou para a FESTA!!!”, “… venho da festa…”, num calmo cumprir quilómetros até terras Lusas.

Esta é uma viagem que se faz muito bem e que acaba por nem ser cansativa, dado o intervalar de etapas de maior condução (em auto-estrada, para “devorar” quilómetros descansadamente) com etapas de “cruzeiro” no mar e de “voltinhas” nas zonas a que queremos dedicar maior atenção. Também em termos de custos, esta abordagem “familiar” consegue ser muito, mas mesmo muito competitiva.



Foto: Portsmouth. Frente histórica marítima. "HMS Victory".


Foto: Portsmouth. Frente histórica marítima. "HMS Victory".

Confesso que fiquei fã e acho que um “Cruise and Drive” até à Irlanda não tardará… Diria mesmo, que umas carreiras de ferry-boats de qualidade, que assegurassem rotas de, por exemplo, “Portugal – Grã-Bretanha / Irlanda”, “Portugal – Marrocos”, “Portugal – Tunísia – Itália”… e coisas que tais, mesmo que apenas semanalmente e durante o estio, seriam muito, mas mesmo muito bem-vindas!



Foto: Portsmouth. Frente histórica marítima. "HMS Warrior".


Foto: Portsmouth. Frente histórica marítima. "HMS Warrior".

Entretanto, claro que já dei a sugestão à Nespresso para lançar um modelo de “máquina de café, de viagem”… Uma máquina de café pequena (e de baixa potência), que se possa ligar, quer à tomada de isqueiro do carro, quer a uma tomada vulgar (com transformador em separado), que utilize as cápsulas Nespresso normais… Acho que fazia sucesso entre este tipo de viajantes… É que há terras por esse mundo, em que não sabem mesmo o que é um café de jeito!

:-)

Até à próxima e boas viagens!... Com mais Vomidrine©, com menos Vomidrine©...


   Luís de Matos

(Outubro de 2010)