domingo, 20 de setembro de 2009

Abrantes > Vilamoura, via Gerês, Andorra, Barcelona...



Texto e fotos: Luís de Matos


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Foto: O trajecto realizado.




Pois é de facto uma verdade conhecida, que o caminho mais curto entre dois pontos na superfície da terra é uma curva… Assim sendo, resolvemos “ir dar uma curva”. Mais concretamente, fazer o trajecto entre Abrantes e Vilamoura, no Algarve, com uma passagem pelo Gerês, por Andorra, por Barcelona…


;-)


E lá seguimos rumo a Norte, em demanda do tal Sul…











Fotos: Parque Natural da Penêda-Gerês.

 

Queríamos mostrar à geração mais nova o nosso Parque Nacional da Penêda-Gerês em todo o seu esplendor, sem perder algumas das mais emblemáticas barragens, a estrada romana e os seus marcos miliários, os espigueiros, os castelos, os mosteiros, a fauna e a flora e, como cereja em cima do bolo, uma caminhada pela serra do Laboreiro.














Fotos: Parque Natural da Penêda-Gerês.




Este é o único Parque Nacional de Portugal e situa-se no extremo nordeste do Minho. Estende-se desde a serra do Gerês, a Sul, passando pela serra da Peneda até à fronteira com a Galiza, em Espanha e abrange os distritos de Braga (concelho de Terras de Bouro), Viana do Castelo (concelhos de Melgaço, Arcos de Valdevez e Ponte da Barca) e Vila Real (concelho de Montalegre), numa área de 72.000 hectares. É uma das maiores atracções naturais do país, com uma impressionante beleza paisagística e grande valor ecológico. É relevante a diversidade da fauna (veados, cavalos selvagens, lobos, aves de rapina, roedores, repteis, insectos) e da flora (pinheiros, teixos, castanheiros, carvalhos e várias plantas medicinais). Inclui troços da estrada romana (a “geira” romana) que ligava Braga a Astorga, e inclui nos seus limites territoriais dois importantes centros de peregrinação, o Santuário de Nossa Senhora da Peneda (réplica do santuário do Bom Jesus de Braga) e o santuário de São Bento da Porta Aberta, locais de grande devoção popular. Os centros de interpretação e a atenção dispensada pelos colaboradores do Instituto de Conservação da Natureza são referenciais.














Fotos: Parque Natural da Penêda-Gerês.





Há duas décadas que não deambulávamos por aquelas paragens. Não nos cruzámos, como então, com manadas de gado barrosã em plenas estradas e caminhos. Animais de considerável porte e de uma envergadura de chifres respeitável, que inclinavam as cabeças, como que para não “riscarem” o carro… E nós quietinhos, lá dentro, que nem respirávamos…! Também quase não vimos garranos, nem lobos…













Fotos: Parque Natural da Penêda-Gerês.



Lembro que na altura tivemos de “ajustar” a nossa noção de Estradas Nacionais, depois de viajarmos numa que, no seu ponto mais estreito, entre uma casa e um muro, não permitia sequer abrir a porta do carro para se dele sair… Também numa bela manhã, chuvosa, demos connosco numa estrada não asfaltada que atravessava um curso de água… por uma ponte de madeira… Saímos do carro, atravessei a ponte a pé, desci até ao nível da água para observar a “estrutura”… Algumas madeiras estavam podres mas, no geral, até nem tinha muito mau aspecto… Viam-se coisas piores no Camel Trophy! Atravessei primeiro sozinho no carro, “não fosse o diabo tecê-las”. Pouco depois chegávamos a uma pequena povoação onde umas pessoas nos fizeram sinal para parar…


- Bom dia! Vêem de “tal parte”?
- Bom dia! Sim, vimos…
- Não viram a camioneta da carreira? Estamos há que tempos à espera dela!

- Não, não vimos… Não encontrámos nenhum veículo naquela “estrada”…

Afinal a ponte era óptima!… Nós é que nos tínhamos armado em “meninos da cidade”…Adiante!












Fotos: Parque Natural da Penêda-Gerês, Castro Laboreiro e... Principado de Andorra.



Para o passeio pedestre na serra do Laboreiro contámos com a EcoTura, de quem tínhamos excelentes referências, que comprovámos plenamente no terreno ( http://www.ecotura.com/ ). De manhã cedo, um pequeno e muito simpático grupo, com crianças e tudo (que se portaram lindamente), arrancou de Castro Laboreiro para um passeio guiado pela serra. De facto, “quem sabe, sabe” e nada substitui um experiente guia. A serra é magnífica e as explicações do que víamos, de onde estávamos e dos mais inimagináveis “porquês”, transformou o que poderia ser apenas um simples passeio numa autêntica aula de natureza, para miúdos e graúdos. Tive pena de não ter levado mais umas lentes ("zooms" e "macros") para a máquina fotográfica..., mas pelo menos, não tive de andar com mais uns quilos de "vidros" às costas... Claro que não faltou sequer um divinal mergulho numa represa em plena serra, junto à qual o almoço de campo (que levávamos nas mochilas…) nos soube que nem um manjar do “El Buli”!!!












Fotos: Principado de Andorra.





Ficou só a faltar uma boa descida do rio Minho, em canoa… e os lobos, de que só vimos o rasto. Para a próxima, com mais uns dias de reserva…













Fotos: Meridiano de Greenwich e Monserrat.




Dias do Gerês para trás e rumámos a Andorra, mas com escala em Burgos, que as viagens devem ser feitas nas calmas… Além do mais, estamos de férias!













Fotos: Monserrat.



De Burgos a Victória seguimos a “estrada dos portugueses”, que vem de Vilar Formoso, passando por Salamanca, Valladolid, Burgos… Nem a propósito, estava repleta de compatriotas nossos que, atempadamente e bem, regressavam das suas férias. Porque digo que eram portugueses? Bem… Seguiam “ali” em veículos com matrículas francesas, alemãs e suíças, os nossos destinos preferenciais de emigração… Seguiam com os carros “carregados até à telha”… Utilizavam todas as faixas da auto-estrada, excepto a da direita, que era escrupulosamente respeitada e deixada livre! Ok! E quando se parava numa área de serviço… só se falava português, na maior parte dos casos, “vernáculo” do forte…













Fotos: Monserrat.





Entramos em Andorra a meio da tarde… e somos simpaticamente recebidos por portuguesas na recepção do hotel. Nunca me tinha apercebido do peso que a população portuguesa tinha neste Principado. A língua portuguesa é a terceira mais falada e parece que “toda a gente nos entende”.














Fotos: Barcelona.
 


Geograficamente alcantilada nos Pirenéus, faz fronteira com a França, a Norte, e com a Espanha, a Sul. Nos seus 483 quilómetros quadrados, Andorra conta com 65 picos com altitudes superiores a 2500 metros, atingindo o mais elevado, o Coma Pedrosa, os 2.946 metros. As montanhas são separadas por três vales estreitos em forma de “Y”, que se combinam num único, por onde o principal curso de água, o Rio Valira, sai do país e entra em Espanha, no ponto mais baixo de Andorra, aos 840 metros de altitude. Com uma altitude média próxima dos 2.000 metros, Andorra é o segundo país mais alto da Europa, depois da Suíça. Graças a esta situação de difícil acesso, este pequeno Estado viveu, durante séculos, uma espécie de sono de “Bela Adormecida”… Continua a não ser um país de passagem, mas acolhe visitantes de todo o mundo que ali acorrem a desfrutar da beleza das suas paisagens naturais… e das vantagens fiscais, também. Andorra quase sempre foi um principado pobre e isolado, mas tudo mudou a partir da segunda metade do século passado, quando o turismo de Inverno começou a ter importância numa terra onde podem ser encontradas espectaculares paisagens de montanha. Com uma população de cerca de 80.000 habitantes, a sua capital é Andorra-a-Velha, onde habitam mais de 23.000 pessoas. A língua oficial é o catalão e a sua moeda é o Euro. A sua constituição, uma das mais recentes da Europa, data de 1993.

















Fotos: Barcelona.




Que me perdoem os amantes da neve e dos desportos ditos de Inverno… A montanha no Verão é simplesmente soberba. Autênticas paisagens de “cortar a respiração”, marcada por cumes escarpados e vales profundos. Sublinhando esta opinião (polémica, eu sei!), decidimos que, face a tudo o resto, nem valia a pena ir “desperdiçar tempo” na Caldeia! Passámos pelo exterior… Claro que, “sed praxis, dura praxis”, também demos a voltinha das compras.














Fotos: Barcelona.




Na saída de Andorra, a polícia aduaneira, com uma eficácia e simpatia ímpares, lá engraçou com o “Pantera” (o nosso fiel Range Rover Classic, de quinze anos e 240.000 km de bons e aventurosos serviços) e percebeu que estávamos em viagem grande e não num “raide de compras”. Fez-nos sair da enorme fila da alfândega e, após as formalidades normais, “despachou-nos em três tempos”, com votos de continuação de uma óptima viagem e um obrigado pela visita! Soube bem e deu vontade de voltar!




















Fotos: Barcelona.




Rumámos assim a Barcelona, mas não sem uma paragem demorada na serra e no mosteiro de Monserrat.






















Fotos: Barcelona.




Esta “Montanha Sagrada”, cerca de 50 km a Noroeste de Barcelona, com as suas singulares formações rochosas, o seu mosteiro beneditino onde se venera a Nossa Senhora de Monserrat e que desde 1025 apoia visitantes e peregrinos, o seu coro, o seu museu, o seu comboio de montanha (a “Cremalheira”), os seus “elevadores” e teleféricos e toda a névoa de lendas que a envolve é absolutamente imperdível. Monserrat tornou-se um dos destinos turísticos marcantes da Catalunha. Para os adeptos das caminhadas pela montanha, Monserrat está repleta de caminhos e trilhos devidamente assinalados. Diria mesmo, “abençoados”! Só temos pena de apenas termos dedicado um (longo) dia, ainda que inesquecível, a Monserrat…




















Fotos: Barcelona.




Estabelecemos assim a base para os próximos dias em Barcelona, precisamente no início da avenida “Diagonal”, junto às praias. Jipe na garagem e toca a andar a pé, de metro, de táxi… Como já tinha estado várias vezes na cidade, ainda que sempre em trabalho e em conferências, passei a “cicerone de serviço”…






















Fotos: Barcelona.




Barcelona é uma daquelas cidades do mundo em que qualquer pessoa gostaria de viver. Por ali nos deixámos andar e envolver pela magia da cidade. Historicamente muito ligada à indústria, foi a primeira cidade em Espanha a acolher a Revolução Industrial e, apesar de algumas crises económicas, ainda é o maior centro industrial do país. O seu porto tornou-se no mais importante do mar Mediterrâneo. Centro cultural, económico e político, Barcelona é uma referência, não só dentro de Espanha, como também no contexto da União Europeia e, porque não dizê-lo, do mundo… Acho que podemos aprender umas coisas com os catalães…






















Fotos: Barcelona.




Capital do “modernismo”, a cidade de Antoni Gaudí conta com algumas de suas obras mais relevantes, que atraem a cada ano milhões de visitantes de todo mundo. A mais representativa é o Templo Expiatório da Sagrada Família, que Gaudí deixou inacabado (estima-se que se consiga concluir a obra dentro de dez anos…). Outras das obras mais conhecidas de Gaudí são o Parque Güell (por onde iniciámos o “tour”), a Casa Milà ("La Pedrera") e a Casa Batlló. Além das marcantes obras de Gaudí, Barcelona conta com outras jóias do modernismo catalão como o Hospital de Sant Pau e o Palácio da Música Catalã, de Lluís Domènech e Montaner, ou o Palácio Macaya e muitas outras obras de Josep Puig e Cadafalch.






















Fotos: Barcelona.




Fora das construções “modernistas”, Barcelona também exibe relevantes obras pertencentes a outros estilos e períodos históricos. Da época medieval destacam-se as construções góticas do seu centro histórico, o "Bairro Gótico", com especial destaque para a Catedral de Barcelona e para a Igreja de Santa Maria do Mar. Em termos de arquitectura dita “contemporânea”, destaca-se o Pavilhão Alemão, de Ludwig Mies van der Rohe, que foi construído para a Exposição Universal de Barcelona de 1929, assim como a Fundação Joan Miró do arquitecto catalão Josep Lluís Sert. Anos mais tarde, quando dos Jogos Olímpicos de 1992, a cidade viveu grandes transformações que deram lugar a obras como o Palau Sant Jordi (Palácio dos Desportos de São Jordi), de Arata Isozaki; a Torre de Collserola, de Norman Foster e a Torre de Montjuïc, de Santiago Calatrava. Antes dos Jogos houve também a remodelação e ampliação do Aeroporto de Barcelona por Ricardo Bofill.






















Fotos: Barcelona.




A cidade não parou e, após os Jogos Olímpicos, construíram-se edifícios emblemáticos como o Museu de Arte Contemporânea de Barcelona, de Richard Meier; a Torre Agbar, de Jean Nouvel; a Torre do Triângulo Ferroviário, de Frank Gehry… Há sempre algo mais a descobrir em Barcelona!
























Fotos: Barcelona e Alicante.




Como ainda me mantenho fiel às máquinas fotográficas analógicas… imaginem a cena de “alguém”, numa carruagem de metro apinhada de japoneses jovens, a rebobinar e a mudar calmamente o rolo da máquina… Acho que nem no dia do meu casamento fui alvo de tantas “atenções”!






















Fotos: Ria Formosa.




Fartei-me de apregoar o “Neichel”, talvez o melhor restaurante da cidade… Estava fechado, para férias! Passei à opção dois, o “Botafumeiro – Moncho”, provavelmente, o melhor restaurante de peixe e marisco da Catalunha! Continua divinal! É que sem uma destas “visitas de estudo”, nem poderíamos deixar Barcelona… Ainda assim, faltou um “gin tónico” no bar do Hotel Arts…






















Fotos: Ria Formosa e ilha Deserta.






A escala seguinte foi em Alicante. Mais um bom exemplo de como se consegue recuperar toda uma zona costeira e dar um novo ar a uma cidade. Às dez da noite, com 32 ºC e mais de noventa por cento de humidade é que até “ensopava”…






















Fotos: Do nothing... At last!




Cruzar a fronteira de Portugal, após uns quantos dias fora do país é algo que continua a saber-me muito bem. Mesmo muito bem! E agora, restam mais uns quantos dias de férias, na praia, “de papo para o ar”, na "cavaqueira" com os amigos. A melhor adaptação portuguesa do “dolce far niente”…


:-)


Até à próxima… e boas viagens!




Luís de Matos


(Agosto de 2009)